20 março 2007

heart shaped post

'desato'

às vezes invento
outras vezes desgraço

desbravo os sentidos
castigo ou desato

deponho o que sei
acrescento o que faço

às vezes construo
outras vezes desfaço

'sentidos'

eu ouso a paixão
não a recuso

escuto os sentidos sem o medo por perto
troco a ternura da rosa
ponho a onda no deserto

a tudo o que é impossível
abro e rasgo o coração
debaixo coloco a mão
para colher o incerto

desembuço o amor
no calor da emboscada
infrinjo regras e impeço

troco o sonho dos deuses
por um pequeno nada

desobedeço ao preceito
e desarrumo a paixão
teço e bordo o meu avesso
e desacerto a razão

'vulnerável'

tiro o resguardo do peito
entreabro o seu postigo
destranco as portas da alma

derramo a luz e o leite
deixo a noite onde era a calma
a casa aberta ao ladrão
sou vítima do que persigo

dou-te as chaves se me pedes
escrevo do cofre o segredo
sou a sombra do meu medo
mas o meu susto desdigo

chamo os linces que farejam
o sangue a dor e o vento
trago os chacais rastejando
por dentro do sofrimento

maria teresa horta
in 'inquietude', edições quasi, 2006