03 maio 2007

que fazer? (let's sing another song, boys?)

o antónio lobo antunes crismou, há uns anos atrás, umas das suas obras com o seguinte título: 'que fazer quando tudo arde?'.

sempre lhe pareceu um título-programático - isto é, um título muito pouco retórico, que é outra forma de (quase) dizer o mesmo: as labaredas pouco têm de metafórico para o autor.

no espaço de uma semana, as coisas complicaram-se sobremaneira.

o que ele começa a entender:
que quando pensamos que pior é impossível, normalmente o desmentido segue dentro de momentos.

o que ele intui:
que o melhor nunca chega; que tudo parece sempre insuficiente; que as melhores intenções não pagam neste mundo.

ele sabe - porque tantas vezes leu - que o que interessa é quantas vezes nos (re-) erguemos e não quantas vezes se
c
a
i.

mas ele também sabe - vem em todos os manuais - que é raríssimo o feito de ganhar em todos os tabuleiros; que é muitíssimo mais fácil a estatística dizer-nos, olhos-nos-olhos, o quão possível é, ao invés, perder em todos os tabuleiros.

a estatística é uma coisa tramada, é o que é.

e então, chamamos os bombeiros ou deixamos arder, num último arrebatamento estético?

salva-se o humor cáustico em ca(u)sa própria, a boutade sempre bailando na ponta dos lábios, o excesso barroco de linguagem: se fosse num jogo de batalha naval, tinha acabado de perder metade da frota em poucos dias. n'est ce pas trop grave!

mas não é um jogo.
é um 'estudo de caso', é o que é.
o problema é o pronome possessivo.
o seu caso.

(his ships they're all on fire)