30 junho 2007

quando o lirismo é arrebatador, as lágrimas são arrebatadas palmas


'mas no fim da noite, aos pedaços, quase sempre voltam pros braços, de suas pequenas, helenas'

29 junho 2007


'how doooooooes it feeeeel ?
hoooow dooooooooooooooes it feeeeeeeeeeeeeeel ?'

'e pela minha lei a gente era obrigada a ser feliz'

28 junho 2007

chain-blog 2.0

[em resposta ao desafio lançado pelo
  • nuno
  • no seu terno postigo cinzento - e cinzento é aqui substantivo e não adjectivo!]

    o que é para ti um MAU filme?
    mau pode querer dizer muitas coisas: qualquer filme que faça gala da sua presunção (percebem-se todos os movimentos filmados com 'gruas estreboscópicas'; ou não se percebem de todo certos intelectualismos de pacotilha, a cheirarem àquele mofo próprio de quem lê muito mas entende pouco); qualquer filme que se esqueça dos espectadores; qualquer filme que seja pointless (e atenção que um filme de puro entretenimento, bem filmado, inteligente na sua gestão de expectativas não é nada pointless!).
    acima de tudo, um mau filme é aquele que nos deixa com aquele travo amargo 'e tanta gente que com este orçamento, com esta oportunidade, nos daria um belo suplemento de alma..'.

    remakes ou sequelas: havendo apenas estas duas escolhas sem opção de recusa, qual assistirias?
    confesso não ser fã de nenhuma das tipologias. os filmes, para mim, são entidades únicas. mesmo um cineasta que 'se repete' - construindo uma só temática, um só universo, cada vez mais elaborado ou cada vez mais depurado - constrói parcelas únicas de um todo in progress.
    mas, sendo sem opção de recusa, diria que preferiria abdicar de remakes. uma sequela traz sempre a esperança de um golpe de asa. um remake cheira-me, em tese, a mais técnica, mais dinheiro, mais mainstream, mais qualidade industrial.. mas menos criatividade, menos imaginação. deixa-nos onde já estávamos, apenas dá um ar mais agradável à sala. mas nunca (ou quase nunca) nos abre janelas.

    que tipo de filme português gostarias de ir ver ao cinema?
    todo e qualquer filme que dispensasse na minha cabeça e no meu coração o qualificativo português. um filme universal, no sentido mais nobre do termo. um filme fulminante, estarrecedor, esmagador. sem pátria. como diria caetano, 'sem lenço nem documento'.
    a espaços já vi coisas magníficas - no tal sentido universal. lembro-me de partes da obra do joão césar monteiro (já sei que estou a ser polémico), recordo-me de certas atmosferas, certas cenas de filmes de segunda linha que, contudo, para sempre ficaram a bailar dentro da minha memória (ocorre-me a cinematografia de josé álvaro morais, esse autor bissexto que nos deixou momentos luminosos, de uma ternura lancinante pelas personagens e por nós, em filmes como 'zéfiro', 'peixe-lua' ou 'quaresma'..).
    gostaria de ver melodramas à la douglas sirk, com lágrimas em português, destinos fatais e redenção com vista para o tejo.

    que cliché cinematográfico já não tens pachorra para ver novamente?
    esta é boa! por definição, um cliché só é bom quando encerra em si um pouco de paródia - há um humor próprio que torna um cliché sadio, uma espécie de piscar de olhos aos compinchas de sempre (nós, espectadores).
    mas respondendo à pergunta.. não gosto de filmes que definem um grupo, para depois todos, ou quase, irem ficando pelo caminho, sobrando 'o herói e a mocinha'. lembro-me, assim de repente, deste.. mas há mais!!

    qual o teu fan video preferido?
    fan video? estou sempre a aprender ;-). não sou (ainda) um heavy user do you tube e dos mundos easy made digitais (onde talvez se encontrem estas coisas). peço desculpa, mas vou passar à próxima. zero pontos!

    a quem desafias este questionário?
    porque sim (que é sempre uma óptima razão), desafio:

  • menina limão

  • alice que é única

  • cristina


  • não me parece que passem por aqui regularmente, mas fica a intenção :-).

    [foi um prazer, nuno! manda sempre ;-)]
    ..nas suas ruminações solitárias, pensa em propôr a IVC
    -'interrupção voluntária do coração'. até às 10 horas, sem comissões de acompanhamento ou de aconselhamento.
    um comprimido e já está.

    27 junho 2007

    sentir

    decanto as sílabas
    das palavras
    indizíveis

    secretos discursos
    das pirâmides

    sagrado tempo
    do silêncio

    =

    retenho do bosque
    a memória dos pássaros
    dos cheiros
    flores em alvoroço
    nas manhãs curtidas
    pela chuva

    dilata-se-me o corpo
    nascido da terra
    num frémito estranho

    com o barro dos abrigos
    construo
    novas florestas
    caminhos antigos

    =

    não contava todos os dias
    o número de vimes entrelaçados
    da esteira onde dormia

    bastava-lhe reparar nos vincos
    enrolados no corpo
    e saber da noite

    e assim
    em cada cruzamento
    mergulhava
    ao longo da sua sombra

    sabia de todas as teias
    urdidas a partir da insónia
    confuso labirinto
    onde a memória
    concebia o erro inconsciente
    da verdade

    =

    cobre-me este volume
    feito de palha e luar

    não tem bermas
    só há meio
    caminho para lá chegar

    o resto do trilho feito
    na encosta da montanha

    é todo trato da esperança
    do rio alcançar o mar

    =

    tenho resmas de
    papel em branco
    como memórias

    fragmentos
    estórias

    conceitos
    abstractos

    ausência
    de marés

    jangada
    flutuando

    no mar alagado
    de sargaço

    =

    ser razão
    entre quatro
    desejos

    nem deus
    nem o diabo
    como o sexo
    dos anjos

    ter a distência
    nos olhos
    e as mãos
    no horizonte

    =

    no mistério
    das madrugadas
    esperei séculos
    neste punhado de terra

    lavei os olhos no mar
    fonte de luz

    =

    o patamar da saudade
    tem cinco pisos contados
    em cada andar um sentido
    em cada degrau o amor

    pelo corrimão de ferro
    húmida balaustrada
    desliza o resto do corpo
    solto da mão
    preso a nada.



    alberto estima de oliveira
    in 'estrutura'
    edição do autor

    26 junho 2007

    em 1998 fiz aquela que é, até à data, a mais marcante viagem da minha vida: nepal, tibete, um bocadinho de india.

    dessa viagem, desse bando de desalinhados que o destino cruzou nesse setembro/outubro de 1998, ficou a amizade com um casal de médicos franceses (ele: espécie de saltimbanco, à época, correndo de emprego em emprego, de cidade em cidade; ela: correndo com ele, filha de marroquinos, típica segunda geração de imigração em frança; ambos: entusiastas 'trekkers' e apaixonados pelo continente asiático).

    ontem, jantei com o philippe (e com uma prima minha que me desafiou na altura para esta viagem de uma vida), no nosso bairro alto.

    (irresistível de contar o pormenor do beijo - que retribuí, pois claro - na face, à francesa portanto, com que me saudou, em plena recepção de hotel, perante o olhar dos empregados, ajudantes de empregado, chefes de empregado, recepcionistas de segunda, porteiros de primeira, etc, etc.)

    nove anos depois, o sr. dr. está a participar num congresso internacional de cardiologistas, tendo duas apresentações a fazer em workshops temáticas, digamos assim. mas continua a ser o phillipe de quem fiquei amigo para a vida.

    num diálogo arrastado e arranhado, mas vivo e brilhante, meio em francês, meio em inglês, disse-me: sabes que a empatia entre as pessoas não tem explicação, nem precisa de ter. não se baseia na origem geográfica, cultural, social. não se baseia no que fazem, na sua biografia. tudo influencia, claro, mas antes disso, e de forma decisiva, baseia-se numa fina camada, anterior a tudo isso, que se situa logo abaixo da pele e que obedece a leis próprias. foi o que senti quando nos conhecemos.

    foi bom reencontrar-te, companheiro do tecto do mundo. és um bom homem, gentil. encontraste o teu rumo, junto da tua querida nadia. tens 2 filhas lindas, adoráveis. e aquela simplicidade desarmante a que alguns chamam nobreza de carácter.

    não sei se algum dia to direi, assim, olhos-nos-olhos. mas fica dito, fica escrito, fica aqui para que o 'great scheme of things' o possa saber.

    até breve, amigo.

    25 junho 2007




    de ti nunca saberei dizer quanto,
    para ti nunca encontrarei as palavras justas,
    a ti nunca saberei retribuir o tanto que me deste e o tanto que me dás.

    ouvi 1050 discos nos últimos anos - e gravei-os todos na pele;
    vi 572 filmes nos últimos meses - e guardei-os a todos nos meus sentidos;
    li tudo o que havia para ler, centenas também;
    escrevi poesia, dezenas de coisas que ninguém nunca vai ler.
    amei compulsivamente, como só assim sei,
    como só assim sou.

    nada disto me ensinou uma única forma,
    uma única forma, vejo agora,
    de te dizer obrigado.

    talvez o mar e o céu sejam o cavalete
    em que desenharei,
    um dia,
    o carrossel que sinto.
    e de quando de mim nada restar
    - nem a memória da memória dos últimos descendentes
    - nem o grito do grito dos últimos pássaros
    talvez, dizia,
    lá esteja,
    enfim dito
    o meu amor por ti.

    fazes hojes anos, 62.
    flores para ti.
    o mais egoísta dos homens é aquele que se recusa a partilhar, ao menos com os seus amigos, as suas fragilidades e limitações.

    (em resposta à minha amiga c.r., acerca do 'porquê ter um blog' ou do 'como conseguir ter um blog'..)

    m-a-r-k-e-t-i-n-g

    do rapaz cada vez menos rapaz se dizia que tinha tudo para ser o genro ideal. era um elogio que as mãezinhas de ocasião sempre encontravam forma de fazer chegar até ele.

    não via nenhum problema nisso, excepto quando lhe passava pela cabeça que isso poderia querer dizer que a 'projecção de si' em nada ligava com os redemoínhos interiores. perturbava-o um bocadinho, era verdade, essa falta de sintonia entre o lado de fora e o lado de dentro.

    mas o pior não era isso - para receber comentários simpáticos, seremos sempre eternos cãezinhos à espera de mão que nos afague o lombo. o pior era ele ter essa absoluta ideia - quase racionalista - de que 'ser-se bom genro' é uma espécie de perfil novecentista, ultrapassado e, como dizer, não-operativo. e, pior do que isso, um conceito que chumbava, tanto quando analisado pela lupa das ciências humanas como quando dissecado pelo bisturi das ciências exactas.

    - antes de mais, era preciso ser-se genro, para se poder depois receber qualquer espécie de qualificativo ('bom', 'mau', 'assim-assim', 'serve para as encomendas', 'podia ser pior', 'enfim, não gosto dele mas a pequena afeiçoou-se, que é que se há-de fazer', 'é como lhe digo: uma jóiinha', etc..);

    - e, para se ser genro, era necessário, antes de mais, ser bom namorado (ou 'bom amante', ou 'bom homem', ou 'um gajo à maneira', ou lá o que é).

    e isso tinha um problema.
    quem escolhia eram sempre as filhas, nunca as mães delas.

    afinal, bem vistas as coisas, talvez tudo se reduzisse a um simples problema de marketing.

    24 junho 2007

    uncommented and 'uncommentable'

    das coisas simples

    'todos morreram calçados / they died with their boots on', filme de cavalaria, de raoul walsh, com o espantoso errol flynn, no papel do jovem general custer.

    a mocinha esperava o garboso cadete de west point, ao cair da noite, após um hilariante primeiro (des)encontro - ela pedindo-lhe explicações sobre a casa do seu tio coronel, em pleno campus militar; ele, em ronda de guarda, por castigo, evitando falar com ela, para não agravar ainda mais a sua miserável folha militar (a pior de sempre, excepto equitação e esgrima, incluindo ulisses s. grant (sic)).
    - julgava eu que west point formava gentlemen, dizia ela. nunca fui tão rudemente tratada em toda a minha vida.
    desfeito o equívoco, marcado um primeiro encontro, o nosso cadete não havia meio de aparecer. o pai da mocinha, vendo o que se passava, começa a praguejar contra a falta de maneiras destes jovens de agora..
    ela interrompe-o e pede:
    - pai, por favor, não devia falar assim dele!
    - porquê? porque não devo..?
    - because he is the man i am going to marry! (e nos seus olhos vê-se uma mistura de determinação, certeza e naturalidade).

    gosto desses tempos.

    (ulysses s. grant: um dos mais decisivos generais da guerra civil americana, também conhecido pelas suas péssimas notas na academia militar. mais tarde, eleito presidente dos estados unidos da américa. responsável por uma frase importantíssima, para pessoas como eu: 'failures have been errors of judgment, not of intent').

    the boys


    junior boys, 'count souvenirs'
    um vício este disco, um vício. imaculadamente branco (white sound), gloriosamente negro (dark soul)..

    the lonely crooner is back in town


    (this is supposed to be serious..)

    22 junho 2007

    - gi, could you lighten up a bit?
    - no, i can't. i try, you know, i try.



    bright eyes, 'first day of my life'

    about today


    the national, 'about today'

    today you were far away
    and i didn't ask you why
    what could i say
    i was far away
    you just walked away
    and i just watched you
    what could i say

    how close am i to losing you

    tonight you just close your eyes
    and i just watch you
    slip away

    how close am i to losing you

    hey, are you awake
    yeah i'm right here
    well can i ask you about today

    how close am i to losing you
    how close am i to losing
    my eyes are a pet cemetery.

    21 junho 2007

    old school is never out of fashion

    entre 1964 e 1969, o grupo vocal 'the supremes' - talvez o mais bem sucedido projecto na história da editora motown - colocou 12 (doze!) canções no primeiro lugar do top de vendas dos estados unidos.
    nem sempre sucesso equivale a qualidade, como bem sabemos. ainda assim, por vezes a co-relação é possível.
    eram os anos 60, já se sentiam na ruas as flores-em-flor dos anos seguintes. um dos sinais disso, porventura só compreensível a posteriori, seria a entusiasta base de fans das 'the supremes', autêntico cross-over between the white and the black americas.

    1/12

    2/12

    4/12

    7/12

    fogo-fátuo

    o fogo-fátuo, também chamado de fogo tolo ou, no interior do brasil, fogo corredor ou joão-galafoice, é uma luz azulada que pode ser avistada em cemitérios, pântanos, brejos, etc. é a inflamação espontânea do gás dos pântanos (metano), resultante da decomposição de seres vivos (..).

    in wikipédia

    20 junho 2007

    yestermorrow

    falo de coisas assim,
    coisas do coração.

    que me suspendem no sim
    e que me suspendem no não.

    a frase

    ainda há mel por colher.

    19 junho 2007

    o inverno

    por vezes o destino é como uma pequena tempestade de areia que não pára de mudar de direcção. tu mudas de rumo, mas a tempestade de areia vai atrás de ti. voltas a mudar de direcção, mas a tempestade persegue-te, seguindo no teu encalço. isto acontece uma vez e outra e outra, como uma espécie de dança maldita com a morte ao amanhecer. porquê? porque esta tempestade não é uma coisa que tenha surgido do nada, sem nada que ver contigo. esta tempestade és tu. algo que está dentro de ti. por isso, só te resta deixares-te levar, mergulhar na tempestade, fechando os olhos e tapando os ouvidos para não deixar entrar a areia e, passo a passo, atravessá-la de uma ponta a outra. aqui não há lugar para o sol nem para a lua; a orientação e a noção de tempo são coisas que não fazem sentido. existe apenas areia branca e fina, como ossos pulverizados, a rodopiar em direcção ao céu. é uma tempestade de areia assim que deves imaginar.

    (..) e não há maneira de escapar à violência da tempestade, a essa tempestade metafísica, simbólica. não te iludas: por mais metafísica e simbólica que seja, rasgar-te-á a carne como mil navalhas de barba. o sangue de muita gente correrá, e o teu juntamente com ele. um sangue vermelho, quente. ficarás com as mãos cheias de sangue, do teu sangue e do sangue dos outros.
    e quando a tempestade tiver passado, mal te lembrarás de ter conseguido atravessá-la, de ter conseguido sobreviver. nem sequer terás a certeza de a tormenta ter realmente chegado ao fim. mas uma coisa é certa. quando saíres da tempestade já não serás a mesma pessoa. só assim as tempestades fazem sentido.


    haruki murakami, in 'kafka à beira-mar'
    in http://www.citador.pt
    busquemos apenas
    as palavras repetidas
    as gaivotas mais altas
    mais perdidas



    daniel faria
    não posso adiar o amor para outro século
    não posso
    ainda que o grito sufoque na garganta
    ainda que o ódio estale e crepite e arda
    sob montanhas cinzentas
    e montanhas cinzentas

    não posso adiar este abraço
    que é uma arma de dois gumes
    amor e ódio

    não posso adiar
    ainda que a noite pese séculos sobre as costas
    e a aurora indecisa demore
    não posso adiar para outro século a minha vida
    nem o meu amor
    nem o meu grito de libertação

    não posso adiar o coração



    antónio ramos rosa

    18 junho 2007

    carta aberta

    caro daniel blaufuks,

    desculpe a informalidade. escrever de improviso tem destas coisas.

    habituei-me a acompanhar a sua obra de forma bissexta - uma entrevista aqui, um artigo ali, mais qualquer coisa num blog acolá.

    não sou especialista em fotografia, apenas um amante das coisas belas e das coisas bonitas (no sentido em que encerram em si uma ética).

    há uns dias, quase por acaso, dei por mim a desfolhar (e depois a ler com atenção) o seu livro 'sob céus estranhos'.

    decidi escrever-lhe ao visitar o seu site, em busca de uma ilustração que pudesse usar no meu blog pessoal. apetece-me partilhar com a pequenina comunidade de leitores-amigos - e consigo - os sentimentos e pensamentos que me atravessaram durante o tempo em que mergulhei nessa história (nessas estórias) da sua família - mas que podia ser, em sentido humano, da minha família. ou, se quisermos, da nossa grande família (por muito que este seja um conceito difícil de interiorizar, como bem sabemos).

    preocupa-me a memória, por contraponto ao esquecimento. preocupam-me as lições que teimamos em não aprender. preocupa-me a perpétua procura de um sentido, contra um certo nihilismo materialista que nos cerca.

    foi também assim, a partir desta base, que olhei para o seu trabalho. e que vi ? vi um 'labour of love', subtil, elegantemente 'enxuto' no seu todo, mas profundamente humano nos detalhes (e muito humano no domínio do não dito e do não mostrado).

    tomei, portanto, a liberdade de lhe endereçar estas palavras. é bom ver quem sabe honrar a memória e partilhar com os seus concidadãos esse tão raro cruzamento entre estética e ética.

    sob um céu estranho continuamos todos. só que uns iluminam um bocadinho 'a parte do todo' que lhes tocou. parece-me ser o seu caso. bem haja, como antigamente se dizia.

    cumprimentos cordiais,


    gi.

    untitled & uncommented

    17 junho 2007

    requiem for a dream


    john


    cale

    15 junho 2007

    more postcards from lisbon

    não leio francês há anos, mas ça me plait (le livre, bien sur)

    ante-estreia de 'lady chatterlay', adaptação francesa da obra de d.h.lawrence.
    com boa imprensa, boa crítica, caução intelectual associado a sucesso comercial e a benção dos prémios 'césar' franceses, nem assim me arrebatou.
    filme frio, porquanto ilustrativo de uma certa ideia de 'amor pleno', do amor como acto telúrico, espécie de harmonia cósmica reposta enfim.
    contra-senso dentro de mim: assim vejo o amor, como sentido absolutizante, mas é-me difícil aderir à ideia intelectual (como mostrar a emoção, sendo a forma emoção em si?). pistas possíveis: cinema-poesia, alguma literatura maior, certa poesia magistral. nada do que aqui vemos. e, no entanto, superlativa interpretação da protagonista e um magnífico diálogo final dos amantes, sob a copa protectora de uma árvore ('podes ter outras mulheres, enquanto não nos reunirmos; desde que mantenhas o teu coração doce serás meu - é isso que me importa. o importante é conservares o teu coração doce', cito de memória. 'sempre fui diferente, em criança a minha mãe dizia-me que tinha certos traços femininos; mas a sensibilidade vejo-a como uma enfermidade, que me persegue dia após dia', novamente de memória).
    como dizia o outro, vão e vejam. ou então, vão e leiam. mas vão.




    tomara eu saber como dizer

    no ipsilon de hoje, jornal público, diz um crítico de arquitectura, a propósito de álvaro siza vieira: 'Deus tocou-lhe com um dedo'.
    apetecia-me dizer o mesmo. a despropósito de siza, mas com intenção precisa.

    neither dusty nor rusty

    para o r.t., que me mostra a todo o tempo outros mundos e outras formas de ver o mundo.


    echo and the bunnymen, 'the cutter'

    13 junho 2007

    eu que tudo escondo e que tudo mostro


    yeah yeah yeahs, 'maps'


    bruce springsteen, 'i'm on fire'

    postcards from lisbon

    subversivo nos santos populares
    o táxista chamado jeremias. fora-da-lei, apetecia-me que fosse.

    nomes trocados?
    no hall de um hotel de lisboa, gi meets the beastie boys. ou seriam os boys meeting beastie gi? tenho que ir ao dicionário de inglês-inglês, enquanto é tempo..

    constatação
    há, finalmente, um novo mundo de pequenas lojas contemporâneas a nascer em lisboa, nas quais podemos:
    a) ser simpáticos e obter retorno;
    b) ser tratados e tratar os oficiantes por tu;
    c) perceber que têm uma ideia, um conceito (como se diz);
    d) conjugar no presente do indicativo o verbo 'design' (se porventura fosse verbo);
    e) sorrir, ao perceber que não somos os únicos a entender o valor da palavra 'detalhes'.

    lenga-lenga destes dias


    fenomenal canção(?) dos junior boys ('in the morning'), ilustrado com cena de 'bande à part', filme de jean-luc godard

    11 junho 2007

    serviços mínimos

    'ardem as perdas, rapaz' - diria don antónio.
    nada mais há a dizer, nada mais merece ser dito, nada mais consegue ser dito.

    07 junho 2007

    heading south

    06 junho 2007

    pop, pop & away

    pop

    little boy got a hot rod, thinks it makes him some kind of new god
    well this is one race he wont win,
    cos lifes no cruise with a cool chick
    too many folks feelin car sick, but it never pulls in
    brucies thoughts - pretty streamers
    - guess this world needs its dreamers may they never wake up.


    prefab sprout, 'cars and girls'

    pop

    all my lazy teenage boasts are now high precision ghosts
    and theyre coming round the track to haunt me


    prefab sprout, 'the king of rock'n'roll'

    and away..
    até breve!

    sob céus estranhos - daniel blaufuks:


    05 junho 2007



    'painting of jane morris', by dante gabriel rossetti


    (ar)

    (fogo)

    (terra)

    (água)

    whatever you need to say, just say it


    Olá, _____!

    Muito obrigada pela sua mensagem. É muito importante para nós saber que os
    nossos livros estão guardados nesse "lugar especial".

    Como sabe, hoje em dia, a maior parte dos livros tem uma vida muito curta
    (quando são novidade, ficam um mês "à mostra"; depois passam para a
    prateleira e passado pouco tempo acabam no armazém).

    Nós temos poucos livros (muito poucos mesmo!) e tentamos que eles não acabem
    no armazém ao fim de 3 meses. Ficámos muito contentes por receber a sua
    mensagem. Ajuda a dar saúde e força aos livros. Ficam, assim, com uma
    esperança de vida mais longa!

    Abraços do Planeta Tangerina

    www.planetatangerina.com


    Sent: segunda-feira, 4 de Junho de 2007 13:19
    To: p.tangerina@netcabo.pt
    Subject:

    olá a todos os que cuidam do planeta tangerina.

    o meu nome é ______, 34 anos, lisboeta por nascimento e devoção. amigo das
    coisas belas e das pessoas com maiúscula.

    há 1 ano atrás, num jantar de natal que organizei, ofereci a uma dúzia de
    amigos uma obra vossa que dizia na capa qualquer coisa como 'obrigado a
    todos'. meses depois, por ocasião do nascimento do primeiro filho de um
    amigo muito especial, ofereci-lhe o livro 'p de pai'. mais recentemente,
    tropecei num livrinho chamado 'um livro para todos os dias'.

    gostava que soubessem que cada livro vosso me emociona profundamente. que dão
    voz, de certa maneira, a sentimentos pessoais, íntimos, por vezes difíceis
    de articular (e ainda mais de exprimir).

    no fundo, quero dar-vos os parabéns. há coisas que guardamos naquele sítio
    especial onde conjugamos as palavras ternura, essência, amor. há poucos
    objectos que entram neste sítio - uns livros, uns poemas, uns quantos
    discos, mais uns tantos filmes. ficam a saber que é aí que guardo as vossas
    obras.

    muito obrigado por criarem um planeta alternativo - um planeta bonito e
    sensível, que nos toca fundo.

    aceitem um abraço cordial.

    04 junho 2007

    l'avenir


    the righteous brothers, 'you've lost that lovin' feelin''

    poetas cá de casa: antonio cicero

    desprezar a morte, amar o doce,
    o justo, o belo e o saber

    poeta e ensaísta contemporâneo brasileiro (nascido em 1945), mais conhecido na sua qualidade de letrista de alguns compositores de MPB.
    pela mão da quasi editores, chegou-nos, em 2006, um livrinho de capa amarela, de sua graça 'a cidade e os livros'.
    diz-nos assim:

    canção do amor impossível

    como não te perderia
    se te amei perdidamente
    se eu teus lábios em sorvia
    néctar enquanto sorrias
    se quando estavas presente
    era eu que não me achava
    e quando tu não estavas
    eu também ficava ausente
    se eras minha fantasia
    elevada à poesia
    se nasceste em meu poente
    como não te perderia

    nênia

    a morte nada foi para ele, pois enquanto vivia não havia a
    morte e, agora que há, ele já não vive. não temer a morte
    tornava-lhe a vida mais leve e o dispensava de desejar a
    imortalidade em vão. sua vida era infinita, não porque se estendesse
    indefinidamente no tempo mas porque, como um campo visual,
    não tinha limite. tal qual outras coisas preciosas, ela não se
    media pela extensão mas pela intensidade. louvemos e contemos
    no número dos felizes que bem empregaram o parco
    tempo que a sorte lhes emprestou. bom não é viver, mas viver
    bem. ele viu a luz do dia, teve amigos, amou e floresceu. às
    vezes anuviava-se o seu brilho. às vezes era radiante. quem
    pergunta quanto tempo viveu? viveu e ilumina a nossa memória.

    perplexidade

    não sei bem onde foi que me perdi;
    talvez nem tenha me perdido mesmo,
    mas como é estranho pensar que isto aqui
    fosse o meu destino desde o começo.

    sair

    largar o cobertor, a cama, o
    medo, o terço, o quarto, largar
    toda simbologia e religião; largar o
    espírito e largar a alma, abrir a
    porta principal e sair. esta é
    a única vida e contém inimaginável
    beleza e dor. já o sol,
    as cores da terra e o
    ar azul - o céu do dia -
    mergulharam até a próxima aurora; a
    noite está radiante e Deus não
    existe nem faz falta. tudo é
    gratuito: as luzes cinéticas das avenidas,
    o vulto ao vento das palmeiras
    e a ânsia insaciável do jasmim;
    e, sobre todas as coisas, o
    eterno silêncio dos espaços infinitos que
    nada dizem, nada querem dizer e
    nada jamais precisaram ou precisarão esclarecer.

    antonio cicero

    02 junho 2007

    saturday's afternoon patchwork

    all books are about loss

    esta cidade está fora do controlo

    nunca pensei em deixá-la até ao momento em que o fiz; de repente pareceu-me óbvio

    o mundo já não nos pode fazer nada quando seguimos os nossos instintos

    ser maduro é o mesmo que estar morto

    não queiras descobrir tudo o que te vai acontecer

    e depois foi o silêncio. (..) gastei-me.

    [nas palavras de harmony korine, luis fonseca & samuel becket, john updyke, franz ferdinand, jonathan safran foer]

    bobby vinton (velvet bobby), 'mr. lonely'

    hoje: santiago alquimista, 22h

    eram os anos 90.
    aqui e ali, despontava a afinidade musical que constituiria uma irmandade de bandas sob a designação slow-core (ou sad-core). mazzy star, codeine, spain e, entre mais uma mão-cheia de nomes, estes low.
    vai valer a pena, para todos aqueles que não confundem happiness com joyfulness.

    downtempo & hipermelancolia.


    low, 'over the ocean'

    01 junho 2007

    há 40 anos..



    i read the news today, oh boy
    about a lucky man who made the grade..


    40 anos depois, sgt pepper's lonely hearts club band ainda aí está.
    parabéns, rapazes!
    i read the news today, oh boys
    about some lucky guys who made it great..

    (i'd love to turn you oooooooooon)