31 agosto 2007


izima kaoru

nos dias tristes não se fala de aves
liga-se aos amigos e eles não estão
e depois pede-se lume na rua
como quem pede um coração
novinho em folha.

nos dias tristes é inverno
e anda-se ao frio de cigarro na mão
a queimar o vento
e diz-se bom dia!
às pessoas que passam
depois de já terem passado
e de não termos reparado nisso

nos dias tristes fala-se sozinho
e há sempre uma ave que pousa
no cimo das coisas
em vez de nos pousar no coração
e não fala connosco.



filipa leal

da vida das marionetas

30 agosto 2007


'movie night' - a short by zhang yimou
em 'to each his own cinema', encomenda do festival de cannes a vários realizadores, no formato curta-metragem, para celebrar os seus 60 anos.


singela homenagem:

..a todos aqueles que dentro de si guardam ainda 'pureza primordial';

..ao realizador que, há 20 anos, com o fabuloso 'milho vermelho', me fez descobrir, deslumbrar e encantar com o cinema asiático (paixão que nunca mais me abandonou);

..aos últimos artesãos do cinema (produtores loucos e desmedidos, realizadores visionários, actores canastrões, actores para sempre secundários com gosto, pequenos exibidores independentes, directores e funcionários de cinematecas, arquivistas da imagem, trabalhadores mal pagos da indústria, poetas da fotografia, argumentistas falhados e por falhar, manipuladores de emoções, moços de recados indiferenciados, aprendizes de estucador, maquilhadores por piada, arrumadores de biscate, pessoal do catering, projeccionistas sem computador, starlettes sonhadoras, electricistas e cenografistas de ocasião, mestres da câmara mágica, operadores de maquinaria avulsa, figurantes por sete reis e meio, críticos com maus fígados, programadores de festivais obscuros, gerentes de banco com coração, contabilistas aflitos..).

venezia: 64-ª mostra internazionale d’arte cinematografica

do you wanna be a vip star? no sir, merely vippy..

heresia ou talvez não: nunca gostei de bjork (da sua música; com a pessoa simpatizo.. o que é normalmente a inversa do que acontece). já desta música, como dizer, 'love at first sight'..
e as palavras 'violently happy' são assim uma espécie de ovo de colombo. não é isso que todos queremos ser e, se tivermos tido sorte, um dia fomos - e, se tivermos mesmo muita mas muita sorte, um dia voltaremos a ser?

'violently happy'

29 agosto 2007


still crazy after all these winters
foto: izima kaoru

28 agosto 2007

as 7+1 maravilhas do meu mundo

(em resposta ao abssinto, que fez o simpático favor de me fazer pensar:)


1. o amor (em sentido lato)
(the miracle within; the overwhelming strenght; the unique engine of true change)

2. a amizade
(the foundation of the foundation; the continuity in a world made of discontinuity; the precious harbour)

3. a generosidade desinteressada
(the comfort of strangers, against all odds)

4. os livros
(sometimes our best heart companion; sometimes our mind going wildly sublime)

5. o cinema
(the fine art that can truly be bigger than life)

6. a música
(a world without music would be unbearable; a world with music is.. tolerable)

7. a liberdade
(the most generous, progressive, and yet more demanding, of all human values)


(& sonhar: because 'i do have a dream'!)

--

passo, delicadamente, o desafio a:

cristal (do chá branco)
ana salomé (do cicio)
nan (das letras de babel)
un_dress (do un-dress)
mateso (do aArtmus)
j. (do blog azul turquesa)
purikura (do purikura)

27 agosto 2007

in his darkest hour,


paulo nozolino

there is a light that never goes out


paulo nozolino


keren anne, 'lay your head down'

(a todAs e todOs aquele(a)s que, por uma qualquer razão ou sem ela, precisam de um abraço)

bat for lashes, 'trophy'

'heaven is a feeling i get in your arms'

(a feeling not a place, that's the secret)

26 agosto 2007

eduardo prado coelho (o jardim está de luto)



há dias assim.
procuramos a luz nos lugares mais recônditos dentro de nós, fora de nós - todos os lugares parecem-nos bons lugares para encontrar um raio de luz.
procuramos, procuramos.. e não encontramos.
noite de cristal.
a hora do lobo.
noite das facas-longas.
todas as expressões nos ocorrem, numa mistura enevoada de memórias dos livros de história, estórias vividas, pedaços de ficção um dia lidos. turbilhão voraz de palavras, conceitos, imagens. momentos de grande violência; momentos de irracionalidade, animalescos, instintivos; momentos de aniquilação, com aspas ou sem aspas, ou não vivêssemos nós num tempo em que 'a realidade não interessa nada; só interessa a percepção' (assessor do então candidato sarkozy dixit). e se assim é, a percepção é avassaladora.
tentamos ser bons - com toda a subjectividade inescapável, mas tentamos.
e nada resulta.
espiral até à náusea de coisas más.
más palavras.
mau sentido de timing.
má conjugação astral.
exercícios de demolição do que somos.
chegamos à cama exaustos, desalegres, descrentes, sózinhos de uma forma irredutível.
e, quando a noite parece escura-escura,
num último esforço em busca de companhia, de uma trivialidade que nos faça sorrir, de um pouco de banalidade que nos faça parar de pensar,
ligamos mecânicamente o rádio
e, sem piedade,
desferem-nos mais um golpe,
sobre quem é (está) só escombros:

morreu eduardo prado coelho.

ficamos assim, ainda mais em silêncio.
já nem uma lágrima cai - até o corpo nos abandona, ali, entre quatro paredes que - juramos - se movem, num movimento letal de esmagamento.

corpo em câmara ardente, blah, blah, blah. as coisas do costume.

o eduardo prado coelho.
o pós-moderno por excelência.
o ensaísta polivalente.
o generalista compulsivo.
o mestre em tudo (ou em nada, diriam os seus críticos).

sei lá.
lia-o há 15 anos, na sua crónica do jornal 'público'.
dias houve em que do jornal me bastava ler aquele rectângulo, colocado anos e anos na última página ou, mais recentemente, no caderno p2. onde quer que fosse, fosse qual fosse o lettering que fosse. o importante era ler, ler sempre.
o eduardo prado coelho falava de tudo. tudo lhe interessava. parecia ter lido tudo, tinha uma prodigiosa capacidade de síntese, e fazia por levar a alta cultura ou o pensamento mais sofisticado aos cidadãos interessados em mais do que a espuma dos dias.
interessava-lhe também a contemporaneidade e, não minto, julgo, até certos aspectos da cultura popular.
era, por isso mesmo, um intelectual atípico - alvo de escarninho, não raras vezes. um intelectual longe do engagée clássico, mas sem pruridos em declarar (e justificar) as suas opções políticas. imperdoável, pois claro, neste país de cordel.

para mim, foi um dos grandes cronistas do último quartel português. ao lê-lo, aprendi coisas sobre filosofia moderna, sobre sistemas de pensamento, sobre a importância da figura do intelectual (ou de certo tipo de intelectuais, para ser mais verdadeiro). aprendi melhor o significado da palavra cosmopolita, da palavra modernidade. aprendi coisas sobre evolução recente das ciências humanas. e da humanidade. e das pessoas. e da pessoa que sou.

e, acima de tudo, aprendi a coisa que custa mais. aprendi, um bocadinho mais e um bocadinho melhor, a pensar.

portanto, agora que partiu, resta-me dizer: bolas, eduardo, não podia ter sido noutra hora em que precisássemos menos de si?

gostava do sporting, da social democracia (enquanto modelo operativo de um socialismo moderno e de matriz europeia), do camané e da aldina duarte, da sua paris dos anos em que lá viveu; gostava de ler e gostava de ler poesia; gostava de cinema luminoso; gostava de ana teresa pereira; gostava de escrever e gostava de partilhar o seu mundo connosco; gostava de noite e do lux. e de mil e uma outras coisas que, ao longo de anos e anos, nos fez ver como merecedoras da nossa atenção.

aceite um abraço de quem se habituou a ler nas suas palavras uma declinação nobre de liberdade, fraternidade, inteligência, sensibilidade, modernidade, lucidez e civilização.
- coisa pouca e coisa comum, como é bom de ver.

valeu, Homem.

24 agosto 2007

the dust bowl


[ou de como a história
serve também para perceber onde estamos]

say it slowly but say it loudly: infinite spark!


photo by john patrick
gosto tanto, tanto, tanto desta canção. mas tanto.
dizer o quê?
dizer o porquê?
não, cada um dos meus bissextos 'leitores' tente descobrir..


julie doiron's cover of pavement's 'shady lane'

freeze, dont move!
glance, dont stare!
no, not me -- i'm an island of such great complexity..
(stress surrounds in the muddy peaceful center of this town)

the worlds collide, but all that i want is a shady lane..

esta versão tens coisas engraçadas..
o recorte da silhueta em contra-luz
a plaquinha dizendo 'exit'
a semi-visível mensagem 'sorry we're closed'
etc. e tal..


23 agosto 2007


tim burton's 'vincent'

(com dedicatória inesperada e uma imagem inesquecível:
'empoleirados em cada pétala das flores de inverno um corvo e uma pomba solar')

mr. scruff, 'honeydew'

'sugar man'

for a blue coin won't you bring back
all those colors to my dreams

22 agosto 2007

um dia de verão & uma lágrima







algures numa praia do sul de espanha, os veraneantes de ocasião assistem ao mundo a entrar-lhes vida dentro.
como já vai sendo habitual (já nem ligamos muito, não é?) imigrantes clandestinos irrompem praia adentro, cuspidos pelo mar, numa dança mansa de vida e morte.
desta vez, contudo, não é de noite; nem o sítio inóspito. é uma praia, é dia, está muita gente; afinal, estamos em plena época de férias neste lado do mundo.
enquanto uns gozam o direito a férias (que, relembro, é uma 'conquista' do século XX), aproveitando o sol e a água que se adivinha doce, outros lutam pelo mínimo dos mínimos.
como se, no fundo, no mesmo espaço coexistissem vários tempos: séculos já futuros para alguns; tempo presente para uns tantos; a idade das trevas para demasiados.

o fotógrafo (arturo rodriguez) estava lá. é também por isto que a fotografia é uma arte maior e um instrumento de civilização. como dizia há dias um fotógrafo, uma fotografia que não tenha qualquer consequência (e, acrescento eu, pode ser uma consequência interior - estética ou da ordem do mistério emocional) é uma má fotografia.

não há muito tempo, descobri um escritor, de que um dia destes falarei, que me emocionou de uma maneira quase inarticulável. alguém com uma consciência clarividente e uma ética muito especial, olhando para a nossa responsabilidade enquanto seres humanos de uma forma límpida e verdadeiramente revolucionária. entre muitas coisas que, ao longo da sua vida, nos deixou, disse assim:

pergunta: o que gostava de dizer às gerações vindouras, em nome, de nós todos, habitantes deste espaço neste tempo?

resposta: perdoem-nos.

ficam as imagens de arturo rodriguez.
e os meus votos de que um dia este meu texto deixe de fazer sentido.

é verão, apesar de tudo..


kudu, 'love me in your language'

21 agosto 2007



'este também sou eu'

20 agosto 2007

less is (so much) more


new order, 'krafty'

bic runga, 'bursting through'

i'm counting stars
lying under
watching you through my walls
all the lights have gone out
i know you're listening now
you've been spinning around
turning slowly
orbiting round my house
it's a feeling i get
i know you're listening now
warm me today
warm me today
filter in my lonely room
warm me today
warm me today
look outside the sun it's
bursting through
bursting through oh it's
filling up this room
now my fingers are cold
but i have touched you
you're all i need to know
don't fade from me now
i know you're listening somehow
all you can give
all you can give
twisting bright
it's more than light it's
all you can give
all you can give
look outside the sun it's
bursting through
bursting through
oh it's filling up this room
warm me today
warm me today
look outside the sun it's
bursting through
bursting through
oh it's filling up this room

'não se morre de desejo, mas não se regressa igual'
hélia correia

mas será que se regressa?
hoje hoje
sonhei um sonho
lindo lindo
- fiquei por lá..
ou
regressei aqui?

e se ele-eu
sonha agora por lá
com este
eu-ele
aqui?

eu se fosse a ele
queria acordar lá
em vez
de
sonhar
este eu-ele
aqui.

mas isto,
claro,
sou só eu
a
sonhar acordado
aqui
já que
não sou ele
lá.

17 agosto 2007

duas flores (& bom fim-de-semana)



our turn (but is there a way out?)



A NOSSA VEZ

é o frio que nos tolhe ao domingo
no inverno, quando mais rareia
a esperança. são certas fixações
da consciência, coisas que andam
pela casa à procura de um lugar

e entram clandestinas no poema.
são os envelopes da companhia
da água, a faca suja de manteiga
na toalha, esse trilho que deixamos
atrás de nós e se decifra sem esforço
nem proveito. é a espera

e a demora. são as ruas sossegadas
à hora do telejornal e os talheres
da vizinhança a retinir. é a deriva
nocturna da memória: é o medo
de termos perdido sem querer

a nossa vez.



THIS WAY OUT

mas há uma saída? imagina
na insónia as florestas que crescem
a essas horas noutras regiões, os comboios
que as atravessam para alcançar um destino
no futuro dos outros.

há uma saída? imagina
a noite cheia de cidades violentas,
o retumbar das máquinas nos subterrâneos
e a chuva a cair no plástico negro
dos morangais, todo o sofrimento
e incerteza do mundo.

e de manhã, repara, está bonito
o tempo. os amigos acordam no quarto ao lado,
descem à cozinha para fazer o café.

mas há uma saída?



rui pires cabral, in 'longe da aldeia'

piano e nada mais





'quando só a música dirá o desespero vácuo
de ser-se piano e nada mais no mundo'


jorge de sena, ('chopin: um inventário')

16 agosto 2007

one of a kind



il caimano


15 agosto 2007

música de elevador




fred kolo, 'heart beats - songs without music'
1995-1996
columbine press, new york

algures numa pequena 'biblioteca pública' (nome pomposo para 4 pequenas prateleiras com uma mão-cheia de curiosidades e alguns belíssimos tesouros), gentileza conjunta do café no chiado e do centro nacional de cultura, podem encontrar este livrinho.

poesia, prosa, fotografia
impressões de vida.
vale a pena, diz-vos o gi.
e, que diabo,
um passatempo destes, uma vez por outra, só pode fazer bem ;-).

tropecei nele e ele em mim - an affair to remember & share.
'tem defeitos como toda a gente, mas tem qualidades que mais ninguém tem'

david mourão-ferreira

(a propósito da sua segunda mulher (pilar)
citado por uma amiga, algures durante o belíssimo documentário biográfico que passou ontem, ao final da noite, na rtp2.)



e por vezes as noites duram meses
e por vezes os meses oceanos
e por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos / e por vezes

encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
e por vezes fingimos que lembramos
e por vezes lembramos que por vezes

ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos

e por vezes sorrimos ou choramos
e por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se envolam tantos anos

david mourão-ferreira

through sparks and shining dragons


guillemots, 'made up love song #43'

i love you through sparks and shining dragons, i do,
now there's poetry, in an empty coke can.
i love you through sparks and shining dragons, i do,
now there's majesty, in a burnt out caravan.

you got me off the paper round, just sprang out of the air,
the best things come from nowhere,
i love you, i don't think you care.

i love you through sparks and shining dragons, i do,
and the symmetry in your northern grin.
i love you through sparks and shining dragons, i do,
i can see myself in the refill litter bin.

you got me off the sofa, just sprang out of the air,
the best things come from nowhere, i can't believe you care.

14 agosto 2007

seasecretspot


13 agosto 2007



dá-me vinho meu amor
dá-me vinho
vinho pela tua boca

deita-me junto ao rio
abraça-me contra a terra
abraça-me dentro de água

mas dá-me vinho
dá-me
sem parar
hoje quero ser tua
da maneira mais louca


y. k. centeno

well i stepped into an avalanche,
it covered up my soul


avalanche
last year's man
dress rehearsal rag
diamonds in the mine
love calls you by your name
famous blue raincoat
sing another song, boys
joan of arc



10 agosto 2007

agosto e uma ternura confusa..

Photo Sharing and Video Hosting at Photobucket


'of things we can not speak we must remain silent'

09 agosto 2007

silly season


advanced global personality test

alert: system corrupted.
we are very sorry but we are not able to process your data.
keep the faith!

customer service manager

bilhete postal

não era ainda o adeus, mas de certa maneira aquele travo acre - o ante-gosto amargo da despedida.
- pensou, olhando o espelho.

(inspirado em herman hesse)

08 agosto 2007


alpha, 'sometime later'


talvez, a par de 'somewhere not here', do mesmo disco,
uma
das
mais
belas
canções
alguma
vez
escritas.

(já que não sou o rapaz superlativo, ao menos que seja o rapaz das palavras superlativas..)


i can't stop thinking about it.
it's captured in my soul.
crazy things you're doing
you know i'm loosing control.
the harder i fight the better it feels
when it finally takes over
leaves my body shaking
the harder i fight,
the better it feel
when it finally takes me over
leaves my mind torn.

i'm twisted.
can't believe what you've done to me.
twisted on your love.
can't believe you're making love to me.

i'm pushed to the limit.
strained against the wall.
driving deeper inside,
till you reach my heart.
the harder i fight the better it feels
when it finally takes me over
leaves my body shaking.
the harder i fight the better it feels
when it finally takes me over
leaves my mind torn.

i'm twisted.
can't believe what you've done to me.
twisted on your love.
can't believe you're making love to me.

07 agosto 2007

lee

hoje alguns jornais mais atentos falam da morte de lee hazlewood. mais um que se foi. um dos que contam, quero dizer. todos contam, claro, mas alguns contam e cantam. e contam (do verbo contar histórias). e encantam, ainda que nem sempre da forma mais fácil, mais óbvia, mais rápida.
por um acaso talvez, um 'comment' recente do abssinto, trazia esta pérola (para alguns olhos, como todas são - sempre só para alguns olhos), que podem ver abaixo.
fica, em jeito de homenagem
aos lee's desta vida
- homens sem medo do ridículo,
porque do ridículo também se diz
ser só uma forma de amor. e de amar.

ao abssinto também, porque..
ele sabe porquê.

06 agosto 2007

solid gold


walker brothers, 'make it easy on yourself'

for anyone today

may i write you from time to time?
a picture postcard from the 'five & dime'
nothing fancy, just a simple line
i miss you


'postcards', d. ackles


every time you fall in love
that's the best time of all.
it's holding sunlight in your hand,
it's heaven come to call;
and you wonder: will it last forever?
and you try to keep tomorrow locked away,
'cause tomorrow is forever
and love's enough for anyone today.

every time you fall in love,
that's the only time it's real;
and that girl is the only girl
who shares the way you feel.
and you wonder how you lived without her,
and you tell yourself she'll never go away,
'cause tomorrow is forever
and love's enough for anyone today.

love's enough to find your heart and lose it
to see the doubt and choose it over knowing how or when;
love's enough to know if she'd refuse it,
you'd take what's left and try your luck again.

'cause every time you fall in love
that's the one and only time.
it's living through the final verse
of a one and lonely rhyme.
'cause you know this one will last forever,
and you turn and watch tomorrow drift away,
'cause tomorrow is forever
and love's enough for anyone today.


'love's enough', d. ackles


(get it, folks?)

but your dreams may not



saber de cor
na pele
as palavras

saber a cor
da pele
nas palavras

relógio




vê a criança sentada
a um canto da sala, sózinha,
tem todas as defesas em baixo.

curva-se para lhe atar os cordões das sapatilhas
e abraça-a com força.
saem para comer gelado de chocolate, baunilha e limão,

os sabores que também a mulher preferia,
e deixara aos dois,
em herança.



jorge gomes de miranda,
in 'acidente', assírio & alvim, 2007

04 agosto 2007

u o y e v o l i




habituara-se com o passar dos anos a encontrar naquele café de bairro uma espécie de concha protectora.
lembrava-se bem dos primeiros anos em que nem reparava, no seu passo ainda jovem, naquele pequeno cubículo (5 por 5?, perguntava-se amiúde). por um daqueles acasos em que a vida é fértil, um dia entrou - talvez por necessidade de ocasião, coisa que dá sempre um bom motivo..
com o passar das semanas, o minúsculo café de bairro passou a desempenhar um papel. toda a gente sabe que quando as coisas começam a desempenhar um papel, entramos de cabeça numa nova era: a era 'depois de'. nada mais fica como dantes - toda a gente sabe. e, se não sabe, devia.
primeiramente funcional, sítio onde se come meia torrada - com pouca manteiga - e meia-de-leite - de máquina e morna -, uma italiana-mesmo-italiana. e onde se lê, em 30 minutos rigorosamente cronometrados, o jornal do dia. depois, uma coisa diferente.
recanto bairrista num bairro que ainda resta, aldeia de astérix rodeada pelo grande império urbano, habituou-se a ir, naqueles 25 metros quadrados, ao encontro da humanidade. da humanidade possível, tanto quanto é possível encontrar, nas poucas dezenas de caras habituais, uma certa ideia representativa da e de humanidade. voltar às coisas simples - não raro pensava nesta frasezinha.
o tempo continuou na sua marcha. o tempo passou. mudou de hábitos.
agora, já não entrava para o cada vez menos ritual diário. passava e cumprimentava. reconhecia e era reconhecido. humanidade é também isto - não raro pensava nesta outra frasezinha.
o papel evoluíra. o depois era já um depois do depois original.
agora entrava só às sextas-feiras. ao final da tarde, encontrava naquele espaço exíguo uma câmara de passagem para o mundo do fim-de-semana. lia sôfregamente os suplementos culturais - em busca de um click, de uma palavra mágica, de uma mensagem em código escrita só para si. em busca de beleza. em busca de si. em busca de sentido. regularmente, estas últimas 4 palavras formavam uma frasezinha na sua cabeça.
neste pequeno mundo de sexta-feira, as pessoas saudavam-se. as pessoas reconheciam-se, naquele conforto que nos faz acreditar que há pelo menos uma evidência de que nem tudo é dissolvente. aquele 'comfort of strangers', ainda que já não 'strangers' no mais puro sentido do termo.
falava-se de coisas triviais. do benfica, da tvi, da sic notícias, do sócrates, das coisas chãs do quotidiano, de coisas assim. ele ouvia e raramente falava. mas aprendia. como só se aprende na rua, na humildade banal. aprendeu cedo que é no chão que se encontram coisas (grande césar monteiro!) e que no meio do óbvio ululante se encontra, em dias de lua cheia, o sublime. flores selvagens, flores em pleno inverno. como aquela flor que um dia viu nascer numa lixeira, sem vergonha da sua circunstância, porque orgulhosa era da sua origem e da sua estirpe. ou como aquelas crianças recolhedoras de lixo que lhe partem o coração, nos documentários que raramente espreita. ou como os pequenos seres do filme que um dia amou ('los olvidados', de luis buñuel, filmado a preto e branco na cidade do méxico), num serão de domingo. filmes destes mudam um homem - mais uma frasezinha que se colou à sua pele.
nesse cafézito de bairro, afinal o anti-herói desta estória, habituou-se a escutar música. boa música. música variada. encontrou no dono do café um rosto sempre sorridente e afável. um rosto amigo, pode-se - agora - dizer. aí descobriu certas coisas dos anos 70, já que o novo amigo tem mais 10 anos do que o nosso rapaz. embrenhou-se nas origens da música americana, deliciou-se com alguns dos 'founding fathers'. aprofundou coisas como o 'alternative-country', a 'new weird americana', o 'folk-rock' da grande américa.
mas o papel continuava a evoluir. as coisas não páram, nunca páram. por isso o importante é sempre controlar a direcção e o sentido, mais do que o ritmo ou a orquestração. lições de vida e assim.
o espaço mínimo era agora um refúgio de bem-estar. um sítio onde encontrava sempre um sorriso, dois dedos de conversa, uma palavra amiga, uma piada que o fazia rir a bom rir.
quantas vezes ali passou uma hora inteirinha a enviar e receber mensagens.
quantas vezes ali recebeu mensagens de amor - louco, explosivo, total. ali, em 25 metros quadrados, voôu. sem aspas.
quantas vezes ali esperou pelas mensagens que não chegaram. pelos jantares que não aconteceram. pelo amor que se dissolvia, enquanto ele, inebriado e febril, se sentia o rapaz mais feliz do mundo.

'porque as pessoas não se dividem em boas e más; ou em ricas e pobres. as pessoas dividem-se entre aquelas que têm prazer no amor e aquelas que nunca o tendo sentido olham para as primeiras com incompreensão e inveja'

a frasezinha de ana teresa pereira. prazer no amor. animal, visceral, aniquilador. libertador. sentido - o amor como único sentido.

ali, naquele exacto café. tantas lágrimas interiores, por entre bicas curtas e conversas longas. tantas explosões de alegria ao ler as palavras mágicas iluminar o pequeno visor. coisas que começavam com 'gi:'
e o mundo começava ali. nada mais importava.

lembra-se bem o nosso rapaz de há uns quantos meses a sua vida ter estado quase-quase-quase para mudar. todinha, naqueles golpes mágicos que mudam o nosso destino. e o nosso papel. lembra-se bem o nosso rapaz de pensar que em breve ia dizer adeus àquelas ruas de bairro, àqueles pequenos rituais. a um sítio onde afinal aprendera a trabalhar e onde, à sua maneira, fora feliz (tanto quanto se pode ser no e pelo trabalho, claro está). lembra-se de pensar com emoção nos dois amigos que 'ficariam para trás' - físicamente e no dia-a-dia. e lembra-se que, logo a seguir a esta memória do espaço e a esta imensa saudade dos amigos, vinha logo logo o tal cafézinho de bairro e o seu dono-amigo-sorriso-e-assim.

o nosso rapazola espera ter a coragem de lhe dizer isto que aqui esconde do mundo. e de ter a oportunidade, porque nunca se sabe. salta-lhe ao caminho e assalta-o a consciência da grande lição que aprendeu em 2007 (até 4 de agosto, para os mais preciosistas):

love is not about
saying i love you
love is about
the things you DO
to those people
you say
you love.


uma pessoa de quem o nosso rapaz, noutros tempos, gostou muito, brincava com o nome do nosso pequenino anti-herói, o tal cafézito: chamava-lhe 'i love you'. e assim ficou como sub-título para essa história de amor louco. e, anos passados, para a história que o nosso-vosso rapaz vos traz hoje: a história de uma amizade improvável. uma amizade suave, gradual, com tempo. que encontrou direcção e sentido, em vez de se preocupar com ritmo, tempo, orquestração.

ontem o rapaz recebeu uma prenda.
uma gravação de um disco de 1972 - o seu ano de nascimento -: 'american gothic', de david ackles.
disco fantasma, impossível de encontrar, que procurava há 10 anos.

o dono do café 'i love you' escutou os seus comentários, enquanto liam a meias a 'uncut'. e registou. e, num dia de agosto de 2007, o gi finalmente recebeu o convite para uma viagem pelos fantasmas de um obscuro & luminoso trovador da américa, na transição nada suave dos anos 60 para os anos 70. um homem que, com algo de randy newman, algo de tom waits, algo de leonard cohen, gravou talvez 3 discos e.. desapareceu na linha do horizonte.
talvez tenha encontrado a beleza. talvez tenha encontrado os golfinhos cantados pelo tim buckley nos olhos de alguém. talvez tenha simplesmente preferido dissolver-se.

chamava-se david ackles - e era só maiúsculas.
ele já tinha ouvido falar das mulheres-fósforo (mulheres que iluminam um homem e que assim se consomem) , na secção dos clássicos russos.

e de homens-fósforo, alguém ouviu falar?

diz aqui em baixo: 'bandwidth exceeded'.
- sublime ironia dos deuses digitais..

03 agosto 2007

no dia 3 de agosto de 2007 (pequena oração)


este céu passará e então
teu riso descerá dos montes pelos rios
até desaguar no nosso coração

mesmo que não conheças nem o mês nem o lugar
caminha para o mar pelo verão

ruy belo

dreaming of electric sheeps


eerlend oye, 'boys don't cry'


arcade fire, 'no cars go'

02 agosto 2007

we want tomorrow today!


dj shadow, 'six days' (video by wong kar-wai)

just an ordinary day..

bilhete postal


(pelo sal, pelo açúcar, pelas amoras, pelas gotinhas de morfina..)

post scriptum: 0.05


sr. cohen, 'the stranger song'


it's true that all the men you knew were dealers
who said they were through with dealing
every time you gave them shelter
i know that kind of man
it's hard to hold the hand of anyone
who is reaching for the sky just to surrender

who is reaching for the sky just to surrender.

and then sweeping up the jokers that he left behind
you find he did not leave you very much not even laughter
like any dealer he was watching for the card
that is so high and wild
he'll never need to deal another

he was just some joseph looking for a manger
he was just some joseph looking for a manger.

and then leaning on your window sill
he'll say one day you caused his will
to weaken with your love and warmth and shelter
and then taking from his wallet
an old schedule of trains, he'll say
i told you when i came i was a stranger
i told you when i came i was a stranger.

but now another stranger seems
to want you to ignore his dreams
as though they were the burden of some other
o you've seen that man before
his golden arm dispatching cards
but now it's rusted from the elbows to the finger
and he wants to trade the game he plays for shelter
yes he wants to trade the game he knows for shelter.

ah you hate to see another tired man
lay down his hand
like he was giving up the holy game of poker
and while he talks his dreams to sleep
you notice there's a highway
that is curling up like smoke above his shoulder
it is curling just like smoke above his shoulder.

you tell him to come in sit down
but something makes you turn around
the door is open you can't close your shelter
you try the handle of the road
it opens do not be afraid
it's you my love, you who are the stranger
it's you my love, you who are the stranger.


well, i've been waiting, i was sure
we'd meet between the trains we're waiting for
i think it's time to board another
please understand, i never had a secret chart
to get me to the heart of this
or any other matter
when he talks like this
you don't know what he's after
when he speaks like this,
you don't know what he's after.

let's meet tomorrow if you choose
upon the shore, beneath the bridge
that they are building on some endless river
then he leaves the platform
for the sleeping car that's warm
you realize, he's only advertising one more shelter
and it comes to you, he never was a stranger
and you say ok the bridge or someplace later.

and then sweeping up the jokers that he left behind ...

and leaning on your window sill ...

i told you when i came i was a stranger.

um elogio de género e um elogio de individualidade


(e um segredo: esplendor)

01 agosto 2007

todos temos pedras no nosso caminho; aliás, não há muitos anos, todos os caminhos eram feitos com pedras. talvez as pedras sejam o próprio caminho.

adormecer a dor mas nunca eliminar a dor