31 março 2008

30 março 2008

deitado no oceano de relva, olhando o céu jubiloso, sonhava. a seu lado, uma rapariga - filha? outra coisa qualquer? seguramente rapariga-daquelas-já-mulher.. - mimetizava-lhe o jeito, espelho simétrico quase perfeito. dir-se-iam casal de namorados, algures nas ruas da-paris-dos-filmes-do-cinema. por mundo, a relva; por céu, o céu; por coração, o coração-teu. príncipes sem coroa, corpos em convulsão, aquele lânguido 'slow motion' do amor à espera de combustão. o tempo parado por eles, natalie wood e warren beatty em português e não dos melhores. mas o amor é esperança e esperanto em fazer da noite dia e deste um dia bem maior.


era só um pedinte de rua, e com fraca perna,
exposição cruel da mesma imperfeita carne
que no semáforo em que parado eu os olhava
em rugas mil me dobrou por dentro
e, em slow motion impossível, me rebentou a tarde.
onde outros tinham armas e terror
ela tinha lágrimas e amor,
onde outros gastavam 'eu'
ela dava-se na palavra 'teu',
onde outros bebiam para esquecer
ela vivia para de si própria não morrer.

por ter medo - tanto - das rosas,
por se lembrar doutros tempos, doutras casas,
morria, todos os dias
de avulsa melancolia,
e de outras coisas.


abaixo, no you tube, desta entrada, alguém escreveu:

'mark eitzel and joy division... fuckin' wonderful!'.

heart and soul
one will burn.

28 março 2008

que tristeza, que abandono, que.

a minha musa

é mais casta do que eu
e só bebe água mineral.
furtiva, insolente, caprichosa,
às vezes desaparece-me de casa
durante meses. apetece-me
bater-lhe. mas talvez a culpa
seja minha. passo tanto tempo
a coçar a cabeça ou no terraço
a ver passar os aviões.
é natural que se farte de mim,
raramente estou em casa
quando chega, prefiro dormir
a ver televisão com ela
sentada nos meus joelhos.

amiúde me pergunto
se compensam os tormentos
a que me força.
meteu na cabeça fazer
de mim poeta, quando
o que eu gostaria era de ser
aviador. (mas tenho medo
das alturas, e ela sabe-o.
aproveita-se da minha debilidade.)

obriga-me a ficar de olhos abertos
durante o sono, a estudar os
caninos que a vida me mostra,
o manual dos elementos, a história
calamitosa dos meus erros.
é preciso ter estômago
para tanta solidão. não admira
que muitas vezes a traia
com a helena, com o bourbon
dos amigos, com o voo violeta
do jacarandá no largo do viriato.
mas não adianta, não sente ciúmes,
ela própria me empurra
para os braços do mundo.

é tão exigente, tão snob, tão
tinhosa. por ela, não havia
domingos nem feriados,
não havia verão. era sempre
toda a vida um quarto escuro
com filmes de série B e
uma banda sonora de tiros, soluços,
gargalhadas de teatro anatómico.
marca-me duelos – é louca! –
com temíveis espadachins,
à vista dos quais a minha alma
treme dos pés à cabeça. diz que
me faz bem sangrar um bocado,
que é minha amiga, talvez.

fria, severa, calculadora,
tenta o que pode para contrariar
a minha natureza ruidosa,
paciente, sentimental.
diz que é uma porcaria
escrever com lágrimas, recita
mallarmé, levanta-se de noite
para me rasgar os poemas.
não é fácil aturá-la.

só para me irritar, muda
o nome de todas as coisas:
se vê um massacre chama-lhe
acre de terra lavrada,
vê um mendigo chama-lhe
trigo, vê uma porta
e chama-lhe susto.
às vezes pergunto-me
se não será parva.

a verdade é que não sou feliz
com ela, apenas um pouco
mais solitário.
mas sem ela – vejam que
tristeza, que abandono, que.



josé miguel silva
(e um abraço meu).

interpol, 'rest my chemistry'


em repeat.

27 março 2008

mais poesia a uma hora destas?




as palavras são coisas #2

se a tua boca as diz
se no teu rosto as vejo
as palavras são coisas
quando as fere o desejo

e quando dizes mar
e quando dizes norte
não sei se não me acerco
de um bocado de morte

e quando dizes barco
ou quando dizes esfera
há águas que transbordam
e inundam a terra

as palavras são coisas
as palavras são um perigo
se acaso as pronuncias
quando não estás comigo

e quando tu adormeces
muda num sonho fundo
tudo se desvanece
e deixa de haver mundo.



bilhete postal (H.S. 3B)

aos que fizeram da luta de classes um negócio
se deitaram das pontes mas com pára-quedas
se despediram do mundo e fundaram outra empresa,
fizeram da dor um carnaval
montaram takeaways de sentimentos
não poderemos senão desejar
os melhores votos de
uma feliz,
rápida,
morte.



abandono

a quem senão a ti direi
como estou triste? mas se a tristeza vem
de tu não estares, como ta direi, como hei-
-de juntar o que me está doendo ao ven-
to que não bate mais à tua porta? eu sei

que a tristeza é só isto, é só isto,
o descoincidir consigo mesmo, eu sei,
descoincidir com os outros, estava previsto
porque dentro de si o mundo não coincide e
não há senão tristeza. em cada um está Cristo

sempre abandonado, cada um abandonado
a si mesmo, sem princípio e sem fim,
pois no princípio o amor era dado
promessa de te ter sempre junto a mim
não ausência, nem dor, nem habitado

ser por este absurdo. morrer
um pouco, disse, sem saber o que dizia
pois eram só palavras, como se a prometer
tudo aquilo que havia e não havia.

não haver palavras és tu a desaparecer.



bernardo pinto de almeida
(à minha cabeceira)

26 março 2008

poesia a uma hora destas?*

* título surripiado, com estima e consideração, a luis fernando veríssimo


i. aves canoras

agora gostam todos muito de dizer
poemas em voz alta. já houve um tempo
em que parecia muito fora de padrão
e outro em que era o botão na lapela.
mas agora precisam de explicar,
por esta e aquela razão, que a voz
do poeta é, também, a voz dos versos
e que sem um não há outro e sem
outro não haverá nenhum. sinal
claro da emoção, eis o poeta, o editor,
o livreiro, a força da nação: tenho sempre
vontade de chorar, diz um a rir,
quando leio um poema qualquer.
eu não consigo é a pontuação, diz outro,
com ar profissional. pois a mim
não custa nada voar nas asas
da imaginação, interpela o prosador
para quem a poesia é uma prosa
abismada. e lá vão todos jantar,
depois da sessão, beber vinho tinto
e comer uma sardinhada. às três da tarde
de um dia anónimo e discreto, muito perto
de não acontecer nada, chegou-se um a mim,
silencioso e secreto, a dizer que não queria
que dissessem dele mais do que ele dizia.



ii. betabloqueante

o rapaz tem vergonha de falar
das coisas que o inquietam, não
gosta de ouvir a sua voz azul
calar as outras coisas que sente.
o rapaz é bonito, é demente,
é ansioso e muito cool —
parece ter um lapso no coração
quando está onde não devia estar.

o rapaz nem parece português
moderno: é moreno e alto, robusto,
simula a mesma pele do retrato
que usa por dentro de quem gosta
de o sentir distante e perto.
não anda de avião, decerto,
prefere voar rente à costa,
elegante e de muito bom trato
mesmo quando sobe, a custo,
para mostrar tudo o que não vês.

o lindo rapaz é tenso como uma corda,
anda descalço quando quer e pode —
que bem que cheira o perfeito dorso!
não o chamem, não façam esforço,
não será assim que o sangue explode
e ele fica nú, fica triste, ele acorda...



ambos de manuel fernando gonçalves

in 'fechamos a alma, ao fim da tarde, com estrondo e animação', editora &etc


[o primeiro poema, dedico-o aos meus colegas de carteira, como antigamente se dizia, do curso de edição que presentemente me ocupa uma modesta parte dos dias; já o segundo poema, por uma vez e sem modéstia, dedico-o a mim próprio, apenas e só como representante 'mais à mão' desse núcleo resistente de rapazes e raparigas dementes, oscilantes, tensos, tristes - gente com um lapso no coração. ou, melhor dizendo, gente com um lapso NO LUGAR DO coração.]

25 março 2008

das estações (e de nós nelas)


brian eno, 'this'

xxv.iii.mcmlxxxviii



faz hoje vinte anos.
muito obrigado por tudo.
por esses anos de fulgor, de descoberta, de espanto.
por esse 'carrossel magnífico', que é sempre a descoberta do outro (e de nós próprios nesse outro).
o tempo passa, os caminhos cruzam-se, descruzam-se, convergem, divergem. mas há coisas que trazemos bordadas na nossa pele interior. coisas que ficam - de ficar como verbo transitivo e não-transitivo (transita entre ciclos, mantendo o seu lugar na constelação que connosco carregamos, na misteriosa e tantas vezes insondável equação que nos define).
éramos uns miúdos, se calhar. ou então éramos já tudo o que somos.

oh boy, you were such a fine wonder in those days of cold mountains.
you saved me in a way and for a while.
and that was precious, priceless - a winter miracle, my dear.

estação de inverno: 21-ª estação




hoje, a vigésima primeira estação de inverno.


as palavras em cinzas de josé agostinho baptista.

e johnny cash, às voltas com a canção mais negra do mundo.


já disponíveis todos os 20 podcasts das estações de inverno emitidas até à data.


[terças: 23h-24h; repete domingos: 19h-20h]

24 março 2008

the untitled works #18


[lisboa, março de 2008]

22 março 2008

boa páscoa para todos




'para venir a gustarlo todo,
no quieras tener gusto en nada,
para venir a poseer lo todo,
no queiras poseer algo em nada,
para venir a serlo todo,
no quieras ser algo em nada,
para venir a saberlo todo,
no queiras saber algo em nada'



são joão da cruz, in 'subida del monte carmelo'

em lisboa

a minha primeira páscoa em lisboa.
de certa maneira, uma cidade nova, uma vez que esta curva do tempo nunca se cruzou com este exacto espaço.

flanar pela cidade é como flanar pela vida - 'piece of cake'.

que dizer deste par de dias, ainda a meio?

* os serões entre amigos. se as festas tradicionais são festas de família, então estes amigos são (também) família. mera constatação do que já sabemos, mas ainda assim faz-nos pensar e ainda bem;

* a noite lisboeta, sem grandes diferenças face a outros dias. nos programas disponíveis (lux, maxime, bairro, associações mais 'underground'), nas massas juvenis que invadem as ruas, ao virar da noite, na atitude 'sem um certo sentido de reserva'. num país recolhido, ensimesmado, pode querer dizer que uma certa jovialidade, um certo desprendimento mais moderno podem estar a caminho. não é mau, nesta perspectiva. por outro lado, o excesso sempre a mostrar os dentes, a ânsia do aqui e agora, a euforia nem sempre a propósito fazem pensar no que ficou para trás. e nem tudo era mau, nesses dias de quaresma em que se jejuava, em que não se fazia barulho por respeito. como tudo, depende do 'underlying'. se for respeito pelos outros e por nós próprios, mesmo que por intermédia razão religiosa, fico com um travo agridoce. o sabor que eu próprio atribuiria à vida, já agora;

* o polícia jovem, educado, o senhor desculpe mas este lugar está reservado para o senhor ministro, queira desculpar. achei mal, por pressentir o porquê arcaízante; mas achei bem a educação, a ausência de prepotência. talvez haja esperança para a nossa polícia, metáfora óbvia do nosso país humano;

* o arrumador, afinal mais um desempregado. 50 anos, a conversa de sempre. uns minutos de atenção, uma moeda para amenizar as dificuldades, mais uma entrada para o meu longo caderno de 'beautiful losers'. acabar com votos de boas páscoa, apesar de tudo. tratar bem os outros, dar-lhes tempo, um bocadinho de nós, mostrar que todas as pessoas importam para alguém. custa assim tanto?

* passar pelo blog, aqui e ali, aproveitando web cafés, locais improváveis, a minha lata (relativa, mas lata em todo o caso). como agora, 17h09 exactas deste exacto sábado de aleluia, nesta exacta cidade. escrevo já para o futuro;

* descobrir são joão da cruz, religioso, místico e poeta espanhol. descobrir a sua vida, a beleza das suas palavras, a transcendência pelo mínimo. sentir-me tocado, ligado. qual é a palavra? é aquela que um dia usámos, lembras-te?, para explicar o que nos unia: cosmogonia, a partilha de uma cosmogonia;

* passear a correr pelo you tube e cair, por acaso, nas imagens dos adeptos dos liverpool a entoarem em uníssono o hino do clube 'you will never walk alone'. imagens do túnel de acesso, lá fora o som de umas dezenas de milhar de gargantas, perceber uma lágrima a cair no rosto do jogador em primeiro plano. são joão da cruz e os adeptos do liverpool. olhar os frames com a bandeira 'make us dream'. sim, make me dream, make us dream, please.

* sentir como nunca este apelo, esta necessidade de escrever, este fogo de estrelas que me rebenta por dentro. e pensar que esta meia-dúzia de entradas são apenas vestígios de uma torrente imparável, vertigem barroca, pirotecnia interior, fogo de santelmo caduco, folhas e vento. e amor.


i break down and cry
each time
you
walk on by

each time
i
walk on by

each time
we
walk on bye

21 março 2008

the untitled works #17

i'm always wanting more
anything i haven't got
everything
i want it all
i just can't stop
planning all my days away
but never finding ways to stay
or ever feel enough today
tomorrow must be more
drink more dreams more bed more drugs
more lust more lies more head more love
more fear more fun more pain more flesh
more stars more smiles more fame more sex
but however hard i want
i know deep down inside
i'll never really get more hope
or any more time


the cure, 'want'

primavera


no ventre de suas mães,
dançam magnólias desvairadas.


(limalha sideral de herberto)



jason molina, 'hold on, magnolia'


os meus votos de primavera para ti, e para ti, e para ti, e para ti, e para ti, e para ti, e para ti, e para ti, e para ti,________________________________________________.

todos os nomes.
e é ainda e sempre o teu nome aquele que digo.

(vestígios crepusculares de albano martins; rastos de estrelas descendentes de maria do rosário pedreira)

the untitled works #16

(..)

em noite tão ditosa,
e num segredo em que ninguém me via,
nem eu olhava coisa alguma,
sem outra luz nem guia
além da que no coração me ardia.

(..)


são joão da cruz, excerto de 'a noite escura'

20 março 2008



arrebatador.
único.
inesquecível.

ousar a primavera, em pleno inverno.

ou dizer só: tim buckley.

dave berry, 'the crying game'

no último dia deste inverno, uma canção decididamente vinda do frio.

o tempo não existe. o tempo é uma invenção nossa. eu nunca vi o tempo aterrar no aeroporto da portela. nunca ninguém me demonstrou que o tempo tem substância. nunca olhei o tempo nos olhos. nunca senti o seu abraço. nem o seu punhal. o tempo é uma fantasia, uma manobra, uma ilusão, um devaneio, uma artimanha, uma mentira. o tempo nunca deu pão a ninguém, nem estendeu a mão. o tempo nunca deu o seu ombro. o tempo nunca ficou fora de si. o tempo não existe. o tempo é uma invenção vossa.

tudo existe sempre. todos existem para todos, o tempo todo. ontem é hoje é amanhã. o tempo é um mentiroso compulsivo, demente, enredado na sua própria espiral, alimentado da sua própria loucura.

hoje é inverno e primavera. hoje é verão. hoje é outono. hoje são as estações todas, e nós nelas e elas em nós. e é por isso que é tão difícil navegar este carrossel - espanto e queda, beleza e repulsa, sorriso e lágrima. um mar de fogo. uma fogueira de gelo.


um rio desvairado
que nasce no mar fundo
e desagua na serra maior.
falo do tempo passado,
do tempo presente e deste mundo.
mas muito mais falo
do futuro do tempo - e do amor.
obrigado, rc, pela entrevista quase brilhante. por me teres feito o retrato photomaton com uma limpidez de espanto, absoluto espanto. por me teres tratado por tu, por me teres dito, no final: 'fizeste mais um amigo'. e eu sentir - eu que tudo sinto - que era exactamente isso que querias dizer.

obrigado, jr, pelo jantar. pelo abraço e pelo pormenor que foi teres-me colocado a mão na cabeça, como um pai faz a um filho ou, vá lá, um tio a um sobrinho. o limite do afecto masculino, de uma certa amizade-caring-seja-lá-o-que-for-mas-que-é-mais-do-que-isso.

obrigado, acs, pela conversa, pela humildade, pelo 'sabes, gosto muito de ti'. pelo pedido de ajuda, que requer, na tua posição, humildade - essa palavra tão fora de moda.

obrigado, muito obrigado.

nunca lerão estas palavras, mas isso não faz delas menos importantes. elas serão guardadas naquele sítio onde quase nunca parece caber mais nada e onde, afinal, acaba sempre por caber tanta e tanta coisa. todos vocês estão lá.

19 março 2008

the untitled works #15

the untitled works #14


[crédito: avelino silva, in www.panoramio.com/photo/3041864]

há décadas atrás, em dia glorioso, a minha terra era assim.
impossível não deixar cair uma lágrima.

the untitled works #13

18 março 2008

outra forma de dizer obrigado

'anyway, i keep picturing all these little kids playing some game in this big field of rye and all. thousands of little kids, and nobody's around - nobody big, i mean - except me. and i'm standing on the edge of some crazy cliff. what i have to do, i have to catch everybody if they start to go over the cliff - i mean if they're running and they don't look where they're going i have to come out from somewhere and catch them. that's all i do all day. i'd just be the catcher in the rye and all. i know it's crazy, but that's the only thing i'd really like to be.'

j.d. salinger, the catcher in the rye, chapter 22, spoken by the character holden caulfield


com este livrinho, j.d. salinger mudou (há quem diga que co-fundou) a literatura moderna estadunidense. holden caufield, rapazinho a atravessar aquela difícil etapa que é a saída da adolescência, é o nosso cicerone através de uma américa saída do pós-guerra, um país a reaprender a respirar. através dos seus olhos e da sua narração (câmara subjectiva, apetece dizer), é a modernidade que se insinua, com as suas dúvidas existenciais formuladas como nunca até aí, a sua redescoberta da cidade como espaço essencialmente mental, os diálogos coloquiais e sincopados, uma certa beleza tirada da lânguidez juvenil que se arrasta pelos dias, enquanto por dentro fervilha, numa espécie de 'wit' sarcástico e exteriormente quase inconsequente.

existem pelos menos duas traduções para português, uma delas recente e, na minha modesta opinião, com qualidade. 'the catcher in the rye' / 'à espera no centeio' é um livro precioso. nunca mais se esquecerão que havia um rapaz chamado holden caulfield. e ele também nunca mais se esquecerá de vós.

[imagem: http://www.lunchoverip.com]


chegou à altura de contar as minhas aventuras no 'tecto do mundo'.
dez anos depois de ter estado no tibete, esta será a minha forma de mostrar a minha solidariedade.
sim, porque aquilo que para muitos é um espaço abstracto, para mim, durante duas semanas, foi uma espécie de casa emprestada - 'somos onde estamos'.

esses dias de outubro.

era uma vez..



p.s. quando ouvirem falar de 'look manga'; quando repararem na imagem estilizada de grupos musicais como os tais 'tokyo hotel'; quando etecetera e tal.. olhem bem para esta foto. pois é, pensei o mesmo.

josh ritter, covering springsteen's 'the river'


a propósito da nomeação de pedro mexia como subdirector da cinemateca / museu do cinema, ocorre-me usar o termo 'justiça cinematográfica', agregando e fundindo os conceitos 'justiça poética' (e o pedro é também poeta e crítico literário) e 'bigger than life' (o cinema e, por vezes, a justiça).

aguardemos a clarificação que o tempo trará sobre a intenção subjacente a esta indigitação (esperemos que nenhuma, para além da competência e vocação, em sentido lato). conseguirá o pedro afastar o seu olhar ideológico do seu novo "métier"? o pedro é demasiado inteligente para não o fazer.

curioso também o facto de esta escolha aproximar uma espécie de representante sem procuração - independente, portanto, e ainda bem - de uma certa élite intelectual de direita (particularmente escassa no nosso país) de uma actividade cultural que, por tradição, se situa ligeiramente 'do lado esquerdo'.

parabéns. como bem disseste: 'desafios destes não acontecem duas vezes numa vida'. seguirei a aventura, com um olhar atento e interessado.

the lovebirds, de bruno de almeida (e lisboa em fundo)


não vi o filme. mas também não vivi tanta coisa por dentro. isso não quer dizer que não as entenda - a vida como a película.

quem diria..

'as personagens fortes são as mulheres. os homens, as personagens masculinas, andam perdidas, desorientadas de todo.'

josé nascimento, sobre o seu novo filme ('lobos')

estação de inverno: 20-ª estação




hoje, a vigésima estação de inverno.


continuamos com a 'gravitas' dissolvente e a metafísica ascendente de casimiro de brito.


já disponíveis todos os 19 podcasts das estações de inverno emitidas até à data.


[terças: 23h-24h; repete domingos: 19h-20h]

17 março 2008

águia

voar, pensava então,
como se num bater de asas se elevasse o
mundo,
como se a primavera rasgasse para sempre
a nuvem escura,
e sobre os meses não caíssem as penas,
como se as minhas garras sustentassem o
cordeiro ou a estrela
e mais para cima o meu bico cansado
levasse o teu coração.



josé agostinho baptista
in 'agora e na hora da nossa morte'



i am not
i am not
ready for the floor

i am not
i am not
ready for the floor

estação de inverno: 20-ª estação




amanhã, a vigésima estação de inverno.


continuamos com a 'gravitas' dissolvente e a metafísica ascendente de casimiro de brito.


já disponíveis todos os 19 podcasts das estações de inverno emitidas até à data.


[terças: 23h-24h; repete domingos: 19h-20h]

my own private idaho

flores colhidas com os lábios.
uma canção impossívelmente romântica a rasgar a noite.
poesia escrita a fogo e pele.
um estremecimento qualquer.
palavras inventadas, a sair do forno.
uma semântica livre.
liberdade sem perguntas.
um abraço inesperado.
um disco perdido.
um bilhete para a alegria.
uma canção eléctrica a ferver a meio da madrugada.
a pergunta certa.
não ter medo de mim.
entender que, às vezes, desapareço cá dentro, mas que volto sempre.
carácter.
bondade inabalável.
noites loucas, longas, largas, lentas, lânguidas, lábeis.
a aurora numa cidade nova.
café.
filmes como no meu tempo.
o sporting.
dignidade.
pele.
a praia no inverno.
a praia no verão, quando a tarde finda.
conduzir no alentejo, de janelas abertas e coração aceso.
jantares sem relógio.
design em sentido lato.
simplicidade primordial.
conversar conversar conversar.
laços de ternura.
as memórias do meu país afectivo.
sentido de família.
espírito(s) livre(s).
gentlemanship à inglesa.
elegância.
gestos largos.
'against all odds'.
generosidade.
amigos maiúsculos.
o ar frio da manhã contra o meu rosto.
actores secundários.
papel impresso.
fazer rádio em transe.
todas as músicas do mundo.
países por inventar.

os meus avós, a quem a criança que fui deveu tudo, a quem o rapaz-crisálida que ainda sou deve tudo, a quem o homem-borboleta que, se tiver sorte, um dia serei sempre deverá tudo.

the untitled works #12




well the high school kids they're all fucked up.
touching each other, oh my god.
yeah and forty ounces was never enough.
we want to pass out in your yard, we want to pass out.
dressing in drag your best friend's clothes,
while boys kissed boys in hotel rooms.
oh and just when we thought we were no longer lost
they kicked us out into the dirty streets of atlanta.

so it's friday night down on north avenue,
where the gas station parking lot prostitutes
tried to fix their hair in our rearview mirrors.
you know we're just trying to get to the club and shake our asses.
a caravan of kids, some big old mess,
on an old wooden dock, oh we're bored to death.
we've got a bottle of wine, a fresh pack of smokes.
we're going to end up screaming about some midnight garage sale.

god, put down your gun can't you see we're dead?
god, put down your hand we're not listening.

the microphone cut off so we're screaming at the top of our lungs.

we are born so fresh, a golden prize,
until you scrape that knee and quickly realize
that you're lost in a fog on your way to death.
oh a thick black line, a thick black line.
so you better speak up, better raise that voice.
come on, scream loud all you girls and boys.
let's get wild, wild, wild. let's rejoice.
c'mon, c'mon. i want to hear that fucking noise.

oh the push and pull of everything, oh this nightmare of electricity.
we are the living dead, yeah the living dead.
that's the way it is. that's the way it's always been.
oh that snake slithered past my house today.
oh i heard he caught you on a dark highway.
no the clouds didn't part they just grew into a storm.
i can still hear the sound of the rolling thunder.

god, put down your gun can't you see we're dead?
god put down your hand we're not listening.
god, put down your gun can't you see we're dead?
i said, god put down your hand we're not listening.
oh we never were.

i want to fuck it up.
i feel so alive.
and i feel.


tilly and the wall, 'nights of the living dead'

the untitled works #11

13 março 2008

the untitled works #10

eram oito e cinquenta e nove desta manhã
quando o polícia de giro descruzou a perna
para melhor simular a sumptuosa autoridade
de quem faz rimar ao acaso pistola e taberna.

esta manhã pelas oito e cinquenta e nove
de perna já descruzada e sorriso engatilhado
o polícia de que falávamos faz alto a um táxi
e apruma a autoridade, por si mesmo deslumbrado.

juro que eram oito e cinquenta e nove juro
quando o polícia surpreende - e logo surpresa xxl
ajuda uma velhinha a entrar no táxi lá de trás;
onde se lia pistola leia-se agora favo de mel.

oito e cinquenta e nove minutos - já vos disse?
era vê-lo, todo garboso e finamente aprumado,
despedindo-se da velhinha com uma continência
e dando ordem de 'siga' ao taxista embasbacado.

pela última vez: oito e cinquenta e nove da manhã
vi com estes olhos que tão mal sabem por vezes ver:
ainda há esperança para a tão pitoresca polícia
pelo menos enquanto em lisboa não amanhecer.

percebem agora as oito e cinquenta e mesmo nove?
(one minute to nine yes it could be said that way)
afinal um minuto depois eram já umas exactas nove,
do polícia, taxista e velhinha não mais se soube,
mas deixaram-nos uma coisa que só eu sei..



[até breve]

12 março 2008

the untitled works #9





'here lies the painter paul klee, somewhat closer to the heart of creation than usual, but far from close enough'


paul klee's epitaph

the untitled works #8


robert frank

the untitled works #7


os três estranhos colegas que, manhãzinha cedo, usam os caixotes do lixo garbosamente alinhados como suporte do que, cada qual para si mesmo, parecem ler. empregados do lixo? uma trupe de espiões industriais em pausa cirscunstancial? os três reis magos encenados por um coreógrafo do pós-teatro? performance retrovanguardista? criminosos cerimoniosos, saídos de um filme dos irmãos coen, quando eram menos metafísicos e mais bem-humorados?

a dúzia-a-olho de trabalhadores da construção civil que, sentados no chão do centro comercial que alberga parte do centro financeiro da cidade, ignoram quem passa (menos um bocadinho umas meninas que passam), espreitando na montra em frente resumos de futebol, alheios ao desfile de gravatas pré-fabricadas e fatos azuis-cinzentos-pardos. uma equipa de futebol, se a sorte tivesse sido outra?

o luso-africano (em-português-americano-amaneirado-e-politicamente-correcto) que mira e remira a montra de telemóveis ('este ou aquele? - that is the question').

o trabalhador indiferenciado (expressão que deveria ser banida), sentado, aproveitando a pausa de almoço para ler as últimas sobre os colossos do antigamente a que chamam 'os grandes de lisboa'. na capa, qualquer coisa como 'dar o melhor / fazer o melhor'. e ainda dizem que não se aprende nada nas páginas d'a bola'..

o vendedor ambulante de marionetas (como eu adoro marionetas, acabei de perceber o seu recorrente encanto) que, na falta de clientela, ensaia uns passos de dança, inventa uma coreografia sobre a calçada, enganando o tempo que teima em passar sem melhoras. os bonecos que parecem vivos. mais vivos. do que tantos e tantas que por eles passam sem olhar.



tudo, tudo, tudo em que tropeço,
é um perfeito milagre a acontecer.
da morte troço com pastilhas para a traça.
qu'a morte não há-de matar nunca
a sede que é viver
e a sede que ainda vier.





[obrigado ao/à primavera anónima que aparece por aqui, de quando em vez. um personal favourite este filme do velho amigo k.k.]

the untitled works #6




peter said to paul
"all those words that we wrote
are just the rules of the game and the rules are the first to go"
but now talkin' to God is laurel beggin' hardy for a gun
i gotta girl in the war, man i wonder what it is we done

paul said to petey
"you gotta rock yourself a little harder;
pretend the dove from above is a dragon and your feet are on fire"
and i got a girl in the war, paul the only thing i know to do
is turn up the music and pray that she makes it through

because the keys to the kingdom got locked inside the kingdom
and the angels fly around in there, but we can't see them
and i gotta girl in the war, paul i know that they can hear me yell
if they can't find a way to help, they can go to hell
if they can't find a way to help her, they can go to hell

paul to petey "you gotta rock yourself a little harder;
pretend the dove from above is a dragon and your feet are on fire"
but i gotta girl in the war, paul her eyes are like champagne
they sparkle, bubble over, in the morning all you got is rain
sparkle, bubble over, in the morning all you got is rain
they sparkle, bubble over, in the morning all you got is rain



josh ritter

the untitled works #5

vá com quem for
é com as cabras luminosas do céu
que vou.


casimiro de brito

the untitled works #4

um pequeno mar
nos olhos. penso em ti.


casimiro de brito

11 março 2008

the untitled works #3

the untitled works #2

the untitled works #1

estação de inverno: 19-ª estação




hoje, a décima nona estação de inverno.


a 'gravitas' dissolvente e metafísica de casimiro de brito.

e mais uma mão-cheia de autores pouco escutados - que os garimpeiros do inverno são à prova de frio e de chuva.


já disponíveis todos os 18 podcasts das estações de inverno emitidas até à data.


[terças: 23h-24h; repete domingos: 19h-20h]

10 março 2008

the vast and distant latitude
is much much easier to drive-by
than any inner solitude.
a fact of life, impossible to deny.
will i have your kind gratitude,
by letting my stupid heart tell you
the unreasonable reason why?

black kids, 'i'm not gonna teach your boyfriend how to dance'

09 março 2008

retrovisor



[a linha 'roubada' aos spandau ballet.. linda]

domingo

08 março 2008

o coração que bate por mim

(..)
restas tu, amor de um dia, de uma
tarde, de uma noite, na cova
da tua cama entortamos a coluna
e sabemos que a dor nos faz rir
do mundo. que nenhum de nós
cante, oiçamos apenas, o grito
que nos arrepia, a voz que nos atinge,
a emoção que nos golpeia, o auge
que nos aflige, tudo isso se mistura
numa imagem. e tu és o coração
vermelho no escuro, o coração és tu,
tu és o coração que bate por mim.



senhor helder moura pereira

in: 'o sol quando nasce'
[blog que podem encontrar na coluninha da direita, aqui mesmo ao lado..]

uma prendinha

'the library of the congress', estados unidos da américa, acaba de anunciar a transferência para o flickr de uma generosa parte do seu espólio fotográfico em arquivo, como resultado da passagem para o domínio público (direitos de autor) dessas mesmas fotografias.

vão a wwww.flickr.com e façam uma procura por 'library of the congress' ou 'farm security administration'.

aquilo que verão é parte da história de uma nação a desenrolar-se à vossa frente, na primeira metade do século xx.

são fotografias que viciam, que nos prendem, ou não encontrássemos aqui a realidade subjacente a tantos e tantos filmes americanos que aprendemos a amar ou a tantos e tantos livros que se tornaram parte de nós.

às vezes, e apesar do despautério ('shame on you, mr. bush') circunstancial, não podemos esquecer que, de certa maneira, também somos todos um bocadinho americanos. país de contrastes, que lega a cada momento ao mundo um arco-irís que vai do azul esplendoroso ao cinzento escuro e baço.

isto não aparece todos os dias, meus amigos.

and it's all about catching the big fish..


say it in
broooooooookeeeeeeeeennnnnnnnnnnn engliiiiiiiiiiiiissssssshhhhhhhhhhhhhhh


[brutal e, no entanto, brutalmente belo]

07 março 2008

no way back sempre será a expressão do ultimato interior. rosas crescem desordenadas e como sempre desordenado é o jardim campo magnético em dissenção. jardineiros ao longe de costas voltadas e em movimento de fuga definem a linha do horizonte. distopias aparecem como cosa mentale, em italiano arcaico, língua por aprender mas que não precisa de ser aprendida para funcionar como dispositivo de revelação. a língua é apenas um mecanismo supletivo, antes dela pássaros doidos caíam já das árvores sem que isso queira dizer que não os percebêssemos. tudo o que percebemos está antes e para além da linguagem, cartilagens subcutâneas que o nosso sangue trilha. o sangue não é líquido nem sólido nem névoa dispersa. árvores desaparecem no horizonte sem porquê. não existem árvores nem horizonte. da popa do navio em contra-vapor contemplamos o mar salgado tão salgado como na balada. deixamos para trás as convenções o tempo convenção maior e a pontuação que até aqui nos ajudava a fazer passar o sentido. mas se acreditamos na não-linguagem se acreditamos na capacidade visceral de este novo sangue nos revelar o sentido último então também a pontuação deve ser aligeirada suprimida exterminada para que fique só o turbilhão vertiginoso. se a lógica é uma ortodoxia a convenção é um mapa triste e sem encanto toscamente desenhado para permitir ir de uma ilha deserta para a próxima sobrevivendo ao turvelinho das marés vazantes e das falsas enchentes e ao brilho das seráficas sereias - que é para a aliteração dar também ar de sua graça. as gargantas apertam, água por beber dói de tanto ser bebida no tempo futuro, relembramos que pontuação lógica sentido ficaram lá atrás navegamos então sem convenções forma radical de liberdade num mundo feito para caminhar sobre carris. fora das pistas continuamos a corrida divergente, solilóquio risível. longe da proficiência, longe da coragem, longe da verdade, as palavras escorrem ainda com grafia correcta e acentuação. levar o exercício até ao fim? não. isto sou só eu isto é só hum omem


why? because it's there. it's all i need to know.

06 março 2008

a life with a view

05 março 2008

provavelmente..



provavelmente.. um dos melhores jornais [diários » generalistas » de referência » impressos] do mundo.

18 anos.. ainda me lembro do número 1.

como certas coisas, a sua evolução é também a nossa evolução. para mim, sem dúvida, é aquilo que hoje se chama 'a love brand & an iconic product'.

parabéns, pá!

o apocalipse segundo 'saint gavin' (à sexta-feira)

Each man kills the thing he loves, by each let this be heard. Some do it with a bitter look, some with a flattering word. The coward does it with a kiss, the brave man with a sword. Some kill their love when they are young, some when they are old. Some strangle with the hands of lust, some with the hands of gold. The kindest use a knife because, the dead so soon grow cold. Some love too little, some too long, some buy and other sell. Some do the deed with so many tears, and some without a sigh. For each man kills the thing he loves, yet each man does not die.

Torn between the light and the dark. The heathen smiles, the tell tale heart. He hides away, it is his home. His saving grace, he lives alone. The silence cuts so deep within. For all is lost he can never win. Secrets come and secrets go, that only his heart ever knows. And outside is the real world, the weird and the wonderful. He is afraid to be alone, he is alone. He wants to touch the feeling of her loneliness, to watch her cry is to watch him die. The heart it was the main thing to see and believe, it will do you no harm to call and try for love, for love, for love. He placed a piece of velvet upon the shame, the ultimate cover up the hidden lie. To die with ones mouth full of ashes, ooh, it will do you no harm to call and try for love, for love, for love. Tattle tell, tattle tell, tell tale heart.

Just a penny for the poor I ask. For a love that was strong and fast. Oh! This Judas betrayal was with more than a kiss. Things are not always what they seem. Lover, liar ... friend or foe? To beg, steal and borrow then throw it away. "I've no regrets, nothing lost or gained". Easy words for the brave to say. Now sorrow, it digs away at its own grave. To have or to have not, is all that I have got. I see no hope in those eyes as they close. So sing a song for this bleeding love, for a life that we'll never know. Streets paved with silver, dreams made in gold, and as these icy stars, they sing, who will know what this night will bring. The envy eats nothing but its own. To have or to have not, is all that I have got. I see no hope in those eyes as they close. Just a penny for the poor I ask. For a love that was strong and fast. Oh! This Judas betrayal was with more than a kiss.

She had a head like a God and when she spoke, it was as if gold fell from her mouth. You can watch, watch me crawl; up and down, down the wall. I feel icy, I feel cold. See me change like a venom snake, it's no-one's fault, my mistake. I know the reason, I know why. Here comes, here comes, here comes that sinking feeling. Tear me apart, pull me down. Here comes, here comes, here comes that sinking feeling. Pay your cash for a new disease, kiss the beast, fall in love with the greatest of ease. No! No! This pig goes to slaughter, she does evil, turns wine into water. I'd do anything, I lose control. My only friend the one desire, to feed the pain, the burning fire. I hate my hands, my shaking hands, shaking hands. So you watched, watched me crawl, you saw me sink, sink and fall. I feel icy, so alone, so alone. You saw me change like a venom snake, that's no one's fault, my mistake, I know the reason, I know why, I know why. Here comes, here comes, here comes that sinking feeling. Tear me apart, pull me down. Here comes, here comes, here comes that sinking feeling. Pay your cash for a new disease, kiss this beast, fall in love with the greatest of these.

You take away the sun for me. Every time you walk away from me. You take away ... I'm alone ... Come Home ... You've taken everything from me. There's nothing left, can't you see. I'm alone ... There was a time when life, it was a bed of roses. And now time ... Time has taken ... You walk into the fire, that keeps burning ... The fire ... Oh! my yearning, to be holding hands with the one I love as the sky turns black there is no above. You take away the sun for me. Every time you walk away from me. You take away ... I'm alone ... Come Home ... You've taken everything from me. There's nothing left, can't you see. I'm alone ... You've taken everything from me. There's nothing left, can't you see. I'm alone ... There was a time when yesterdays were just tomorrows and now time ... Time has taken. You walk into the fire that keeps burning ... The fire oh! My yearning to be holding hands with the one I love as the sky turns black. There is no above ... Don't speak of broken down angels. I've no need for foolish things. Who spoke of heavenly salvation? My heart bleeds as you pull the strings. Who spoke of broken down angels. I've no need for foolish things. Don't speak of heavenly salvation. My heart bleeds as you pull the strings. Don't speak of broken down angels. Don't speak of broken down angels. We don't need wings to fly. We don't need wings to fly ... You take away the sun. You take away the sun.

When I wake up in the morning, there's no sun. There ain't no sunshine. "Time heals the hurt" they say. Ah! Don't talk worn out, worn out words. I touched the sky to feed all my hunger. Nothing I could wait for, nothing but my want. A fist filled with furied desire . . . clutched all that's real, catch as catch can. To put your trust in a craving . . . Never are you sure, who'll let you down. I was a king just for one day, like a fool now I know . . . my kingdom grew cold. I followed all my dreams and illusions. I got what I wanted . . . not sure what I have. So the day begins without faith . . . and the day it ends without joy. He got what he wanted . . . lost what he had. He got what he wanted . . . lost what he had. To get what you want, to lose what you have. To cut up and bleed just for the need. Come now, lay your head on my shoulder, and I'll tell you why, why I am sad. For all I've seen and heard . . . still I wonder in all of these years I'd no time for tears. I followed all my dreams and illusions. I got what I what I wanted . . . not sure what I have.So the day begins without faith . . . and the day it ends without joy. He got what he wanted . . . lost what he had. He got what he wanted . . . lost what he had. To get what you want, to lose what you have. . . to cut up and bleed just for the need. He got what he wanted . . . lost what he had. He got what he wanted . . . lost what he had. Don't lose, lose, lose what you have. Don't lose, lose, lose what you have. Don't lose, lose, lose what you have. He got what he wanted . . . lost what he had.

Roses are roses. Blue is blue. "God knows I'm good but does he care? ... I'm sure somebody down there hates me..." She says as she... she says as she picks up a flower, for love is like a flower. It grows, blossoms and blooms... But love is just a word and words disobey... and roses are roses.

From rags to riches and back again. I throw my pearls at you swine. Kiss and tell, kiss and tell. I do that all the time. "I'm a man in a million...Ya! Ya! Ya! Yo! Very pleased to meet me? I'll tell you what to do! Put some money in my pocket, your hand on my heart. And I'll hold my head up high!" Here she comes now... My queen of desire... Tip my hat to this Oooh indulgence. Come're baby! Keep me warm! Come're baby! Keep me warm! "Sad are my dreams but sweet are the tears. Tears of true love. Tears of regret. So... we all must cry! We all must cry!" "The world's forgiven! The world's forgot! The world's just singin' 'Ba da bop bop bow!' No! The world won't listen 'cause the world don't know that... 'That's life baby, ba da bop bop bow!' 'That's life baby! Ba da bop bop bow. That's life' " My heart is broken, little pieces all over the floor. "Come on! Come're, pick me up, put me in your pocket". You win some and you lose some but that's life baby - ba da bop bop bow! I say - "Buy me a drink and I'll be just like you. Where do ya come from? What do you do? Buy me a drink, I'll be just like you. Where do you come from? What do you do? Buy me a drink, I'll be just like you. Where do you come from? What do you do?" With your hearts handmade in heaven. Lots of faith, hope and charity... No need to feed the poor. I got my dignity! I'm no beggar. I'm the man! Set them up, I'll knock 'em down! A man in a million I've seen it all. You people rise, I just fall. From rags to riches and back again. I throw my pearls at you swine. Kiss and tell, kiss and tell. Oh! I do that all the time... Put some money in my pocket your hand on my heart and I'll hold my head up high..."The world's forgiven. The world's forgot. The world's just singin' 'Ba da bop bop bow!' No! The world won't listen 'cause the world don't know that 'That's life baby, ba da bop bop bow!' 'That's life baby! Ba da bop bop bow. That's life' so let's, so let's, so let's dance! That's life baby! Ooh that's... Life baby! Life baby! Buy me a drink and I'll be just like you. Where do you come from? What do you do?" Oh! my heart is broken, little pieces all over the floor. "Pick me up, put me in your pocket, take me home, keep me warm... " Ya! Ya! ... Yo!

Twenty years ago I was just a boy... time goes so slow when you're havin' fun... my favourite stars are out tonight. So I feel somewhat justified, another excuse to confuse, abuse and forget myself. Here I go... now I know... show me the river to drown all my sorrows... Another blow on the bruise. Another blow on the bruise. One touch of darkness and you know where you are. For this is my, my old true friend... And you know old friends are the best friends 'cause they know just who you are... they take you to a place where you can hide your disgrace and leave you all alone... swing low... swing high... My friends I never cry. Way down... Deep low... To the place where we must go... Another blow on the bruise. Another blow on the bruise... I'm just the once upon a time man, inviting you to a dream of mine. So welcome, won't you come now? but just take your time and when you go back with those stories you gotta tell, just remember my heaven is another man's hell... the door is always open, the door is never closed... and the story is never told... so... show me the river to drown all my sorrows... another blow on the bruise, another blow on the bruise. You can take me in, throw me out, cut me up, shut me out... Nothing you do or say will change my ways. I've been there before and I've come back for more... So ya all gotta sing... singalong now! ... Swing low! Swing high! My friends I never cry. Way down! Deep low! To the place where you must go... To the place where you must go... Another blow on the bruise. Another blow on the bruise.

See that man - I carry the world upon my back.
Talk to that man - there is no hope, I never talk back.
Sold my soul for a cheap ideal.
The price I paid? The spice of life.
Now I'm in a real dilemma,
I must keep myself alive ... alive ... alive.
Look at that man - What am I doing in a place like this?
Pity that man - I live my life like it's a crime!
The sun goes dim, the moon turns black.
What I gave away, I never got back.
Now I'm in a real dilemma.
I must keep myself alive ... alive ... alive.
I see junk to my left! Freaks to my right!
Ain't no one laughin' - Ain't nothing funny.
Ain't nothing happening. 'Cause we ain't got no money!
Hey! Hey! Hey! ... Misfortune!
Woe! Woe! Woe! .... Misfortune!
Watch that man! Everything I see goes into a book.
I said, watch that man! I live my life with a filthy look!
Sold my soul for a cheap ideal.
The price I paid? The spice of life.
Now I'm in a real dilemma,
I must keep myself alive.
The angels they came to visit me.
Some divine intervention ... they said
"Are you the boy with the stars in your eyes?
Are you the boy that fooled the world?"
Flappin' their wings, tellin' me things.
Flappin' their wings, tellin' me things...
I said "I know what I like. I know what I want!
But I never seem to know, I never seem to know.
How to get that thing boy. How d'ya get that thing boy?
Can you tell me how you got, how you got that thing?
How d'ya get that thing boy?"
See that man! Talk to that man!
Look at that man but don't ya pity that man!
I'm a man of misfortune! I'm a man of misfortune!
Look at that man! Watch that man!
But Na! Na! No! don't talk to that man!
I'm a man of misfortune. I'm a man of misfortune.
I must keep myself alive. I must keep myself alive.

Welcome to the happy end... your feelings they don't count boy! Oh no! You've got no friends! ... sunset over hell... The worst is yet to come now... You can crawl, you can walk, you can run... for he who is, who was, is now to come... The next thing to murder. With voodoo tattooed in your head! Your world is fake! All lost and sad. The greatest story ever told, the love of money, the want for gold! Another day, another dollar. The price you pay is what they tell you. Welcome... Come on... To the happy end. Your feelings they don't count boy. Oh no! You've got no friends... Sunset over hell. The worst is yet to come now. You can crawl, you can walk, you can run. For he who is, who was, is now to come... So this is where we turn to friends because this is where it all ends. The bible is the book! Jesus the friend! All the king's horses kill all the king's men. The next thing to murder. The next thing to murder... prepare ye... prepare ye...



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letras das canções do disco 'each man kills the thing he loves', da autoria de gavin friday, exceptuando-se 2 letras não originais e 'um pequeno exercício' no final do disco.

segundo aniversário da rádio zero [05-03-2008]

no dia em que celebra o seu segundo aniversário, a rádio zero estreia uma nova grelha de programação. como em "equipa que ganha não se mexe", juntam-se aos programas que já estavam na zero outros novos 16(!) e, ainda, uma rubrica.

a nova grelha será apresentada, na noite de 5 para 6 de março, com emissão em directo do centro cultural "o século", onde decorrerá a festa de comemoração dos dois anos de rádio zero. com início pelas 22:30, e emissão assegurada a partir das 22:50, a festa é aberta ao público (que é como que diz entrada livre) e tem a animação a cargo de artistas da casa: m-pex, unidade sonora e bandidos desesperados.

in 'press-release' oficial


..


duas breves notas adicionais:

1. a rádio zero é uma espécie de 'herdeira de facto' da saudosa RUT (rádio universidade tejo), que emitiu a partir do mesmo local, mas através de ondas hertzianas (custa acreditar, mas nesse tempo não havia internet em portugal), entre 1986 e 1988. antes, existiu uma experiência nos tempos pós-revolucionários; depois, existiram várias versões, quer de rádios apenas para consumo interno (falamos do instituto superior técnico), quer já com actividade via internet (on-line streaming).

2. a 'estação de inverno' tem o grato prazer de informar que, 18 edições depois do seu número zero, foi seleccionada para continuar a espalhar a(s) palavra(s) e a(s) música(s), no sítio / horário do costume. muito obrigado, rapazes..

às vezes, a vida..

a: a frase seguinte é verdadeira.
b: a frase anterior é falsa.

04 março 2008

amigo e amiga: curso de silêncio*


maria gabriel llansol [1931-2008]


(..) o discurso que esta obra suscita está dividido, sem meios termos, entre a declaração pura e simples de incompreensão e a do mais puro e absoluto fascínio: "estamos nesse ponto em que a escrita salva, redime, sustenta o bruxulear de uma luz, abre a vacilação de um caminho, e a literatura, essa, já começou a ficar para trás." (eduardo prado coelho). (..)

in dicionário cronológico de autores portugueses, vol. VI, lisboa, 1999
(site IPLB)



reproduzido gentilmente de http://antologiadoesquecimento.blogspot.com


* título de um livro de maria gabriela llansol que diz tudo o que não sabemos dizer.

'river man' (nick drake), performed by brad mehldau

estação de inverno: 18-ª estação




hoje, a décima oitava estação de inverno.


a poesia a quatro mãos, geracional e desencantada, de josé miguel silva & manuel de freitas.

e, finalmente, uma voltinha no carrossel quimérico de gavin friday, lembrando aos últimos crentes que.. 'each man kills the thing he loves'.


já disponíveis todos os 17 podcasts das estações de inverno emitidas até à data.


[terças: 23h-24h; repete domingos: 19h-20h]

03 março 2008




You Should Be A Poet



You craft words well, in creative and unexpected ways.

And you have a great talent for evoking beautiful imagery...

Or describing the most intense heartbreak ever.

You're already naturally a poet, even if you've never written a poem.

há milhares de milhões de anos, tropecei num título que não mais me abandonou: 'setembro e uma ternura confusa', subtítulo do filme 'pandora', realizado em 1996 por antónio da cunha telles.

hoje, acho, percebi de onde veio esse mês que, para mim, passou a ser - talvez com fevereiro e certos dias de agosto e de dezembro - marco maior no meu calendário afectivo.

um dia digo-vos.

para acabar de vez

- quando olho as pessoas vejo-as sempre mortas,
(pausa)
- entram no teu olhar e ficam vagarosas a morrer?
- não. é já mortas que as vejo
- mesmo as que amaste?
- nunca amei ninguém
- não acredito
- só poderia amar quem eu não visse morto. e isso ainda não aconteceu.



rui nunes

02 março 2008



ellen page.
also known as magnífica miúda.

in 'juno'


o meu primeiro filme de 2008.
jason isbell, former guitarist for the drive-by truckers, performing 'danko / manuel'.

o riff que percorre toda a canção.. percorreu a minha tarde de domingo..
o southern rock americano, alive and kicking. and always somehow wider than life.



'to see her crying is to see him dying'

[i will keep you posted]

01 março 2008




cá dentro, 'um país medieval com astronautas a voar por cima'*.


* josé cardoso pires

'a frase mais triste de qualquer língua: o que poderia ter sido.'

luis fernando veríssimo
uma palavra: jaspe. j-a-s-p-e.