30 junho 2008

they all smile
they shake your hand
they want to know your name
you sit in your mothers room
look through the window pane

when they know you're not watching
they talk behind your back
they laugh about the loneliness
of your awkward attack

attack them in the fences
attack them in the schoolyard
wipe your sleeve across your head
when the canons fire

someday, many years from here
where no one else can see
you'll dig up the things they buried
and finally set them free
finally, set them free

now free them from the schoolyard
free them from the lunch tray edge
free them from the canons inside your head

i don't know why,
but for some people
an ordinary day
just rises up before them
and it sweeps the past away

and its a good life
from now on
when i look back at you
a good life,
look ahead
the sky is almost blue



rickie lee jones, 'the evening of my best day'

estação de inverno: 35-ª estação




amanhã, a trigésima quinta estação de inverno.


manuel fernando gonçalves abre-nos a sua alma, 'com estrondo e animação'. a poesia como farsa ou a farsa poética como instrumento de corte profundo?


já disponíveis todos os 34 podcasts das estações de inverno emitidas até à data.


[terças: 23h-24h; repete domingos: 19h-20h]

27 junho 2008


crystal castles, 'crimewave'

[obrigado, s.!]

26 junho 2008



logo pela manhã, recebo um 'olá de manila' (sic). cabo verde, já de tarde, atravessa-se no meu caminho. penso em milão e no que será feito do meu amigo n., que nunca mais deu notícias. de cabo verde, alguém viaja para frança. de portugal, alguém vai 'em business' (e em 'business class'?) para itália. do dubai, nem vale a pena falar. mas, a bem dizer, alguns que estão por viseu, porto, por aí, estão, em certos dias, tão longe como se estivessem no dubai. as índias começam a aparecer na minha mente, sinal de viagem por vir. e madrid ao virar da esquina, talvez vindo ao meu encontro. deve ser isto a pós-modernidade, este sentimento de velocidade, de distância-próxima (pela possibilidade) e de proximidade-distante (pela circunstância do modo de vida). tudo isto mudou muito, no espaço de uma, vá lá, duas gerações. e isto sou só eu e a minha micro-rede afectiva. things have changed, como tantas e tantas vezes nos gritou sibilinamente o mestre dylan. mas era só música, claro. só música.

'de uma maneira ou de outra, a música tem sempre razão'. não é, manuel de freitas?

pois é.

25 junho 2008

63

[para a minha mãe, que faz hoje anos.
que me perdoem todas as outras, mas ela é a mais linda de todas.]


anjos caídos

neste palco de sol,
de repente:
os teus lábios:
anjos caídos mas abençoando

cada curva e tremura
dentro do nervo exacto
da memória

por esses lábios
eu faria tudo:

rasgava-me de sangue
e inocência,
partia com as mãos vitrais
e estrelas,
desintregava o sol

já não anjos caídos
os teus lábios,
mas deuses transportados
pelos meus



o tempo das estrelas

um compasso de espera
tão longo e musical
por estrelas destas
a tocar-me o rosto

e aprender a aceitá-las,
e eu ser um céu imenso
onde elas se pudessem passear,
encontrar uma casa,
um pequeno silêncio
de folhas,
e poeiras, e cometas

na desordem mais cósmica
das coisas,
organizar inteiro:
o coração

porque, a tocar-me o rosto,
o tempo das estrelas
será sempre,
mesmo que tombem astros,
ou outras dimensões se lancem
em vazio,
ou raízes de luz se precipitem
no nada mais atónito

terá valido tudo
a desordem do sol,
terá valido tudo
este lugar incandescente
e azul

porque, a tocar-me o rosto,
agora,
e em silêncio tão terreno:
paraíso de fogo:
estas estrelas

transportadas em luz
nas tuas mãos.



as pequenas gavetas do amor

se for preciso, irei buscar um sol
para falar de nós:
ao ponto mais longínquo
do verso mais remoto que te fiz

devagar, meu amor, se for preciso,
cobrirei este chão
de estrelas mais brilhantes
que a mais constelação,
para que as mãos depois sejam tão
brandas
como as desta tarde

na memória mais funda guardarei
em pequenas gavetas
palavras e olhares, se for preciso:
tão minúsculos centros
de cheiros e sabores

só não trarei o resto
da ternura em resto esta tarde,
que nem nos foi preciso:
no fundo do amor, tenho-a comigo.
quando a quiseres.


ana luísa amaral


[quando falamos da nossa mãe é impossível não falar de comoção, de ternura, de amor incondicional.
por isso, escolhi ana luísa amaral - para mim, a mais perfeita autora portuguesa quando a palavra é.. 'comoção'.
ler esta mulher é morrer em mil estilhaços, e renascer logo a seguir, num milhão de cristais.]

24 junho 2008



texto: marguerite duras
música: erik satie
lembras-te da terrinha, com o castelo circular - imaculado, perfeito, solar -, contorno traçado pelo lápis divino?
lembras-te do presépio vivo, pungente memória de longas tarde ao sol (nem sempre fáceis, nem sempre amáveis), quando fazias da vi(d)a-sacra um outro modo de vida?
lembras-te de caminhar, teus passos seguindo o caminho circular interior - interior em sentido múltiplo, como poucas vezes alguma vez esta palavra poderá significar?
lembras-te de recitar em voz alta um dos clássicos gregos, talvez Platão, se a memória, essa improvável meretriz, não falha? e de como nesse dia percebeste, como nunca antes, como nunca depois, o que faz de um clássico um clássico?

sim, eu lembro-me.
passei por lá, em passo motorizado, estugado, fugidio. aquele passo com que tentamos fintar o nosso próprio fantasma (nós-outros-noutro-tempo-nosso).
olhei, muito ao de longe. nas silhuetas que jurava estarem lá, via-nos a nós próprios, como se desta janela aqui nos olhasse nessoutro tempo lá.
sim, eu lembro-me.

e, para ti, para te mostrar que ainda respiro, espalho mais umas palavras ao vento, em memória desses dias ainda solares antes da tempestade que tudo destruiu. e que quase, quase, quase nos consumiu. foi por pouco, mas sobrevivemos. antes vivos e com fantasmas a tiracolo do que____________________________________.

--

a memória é agora um montão de brasas fumegantes no meio de uma paisagem desolada. os dias são barcos que se afundam lentamente rasgando a pele do mar, com seu fundo lamento que faz tremer o pano do horizonte.

o ruído da cidade concentra-se na minha cabeça, e anuncia com sua oxidada monotonia o sarmentoso passo da vida. fica para trás a terra ao atravessar esta porta; para trás, muito para trás ficam as vozes afogadas pelo açoite do tempo.

o espelho da noite abre-se às trevas do mundo.

anoitece. a bruma destrói a paisagem onde tem sentido esta casa e deixa-la vazia, oca, esperando que a quietude do momento acolha algum milagre.
o solo que pisas enche-se de fendas.

a recordação é uma arma inútil, o hóspede definitivo de uma fogueira que nunca se apaga. as brasas de outros dias repousam a teu lado vás para onde fores. como é possível que não me tivesse dado conta de que o meu coração também ardia?

o próprio incêndio acalma a tua espera. o eco de um latejar assegura o regresso a uma casa habitável.

que é esta serena força que dilata a alma e a liga à vida?

chega o momento de ver em silêncio o trânsito dos dias felizes até outra morada.

habitamos uma paisagem de cartão onde a vida não é mais do que uma caixa de sapatos esquecida no fundo do armário. um dia descobrimo-la quase sem querer e esforçamo-nos por ver os tesouros que contém: o valor de uma palavra, o calor de um abraço, a vida de um amigo. coisas que não cabem numa caixa de cartão e que, por isso, às vezes fazem estalar as suas frágeis paredes construídas com nomes que o pó vai ocultando.

no que fica do mundo, alguns homens constróem paredes que escoram com madeiras partidas. um deles coloca uma flor num vaso de cristal.

é impossível não ver, a cena repete-se em todas as partes. um sopro de vento destruirá quanto criaram com suas mãos.

para além do bosque a tarde prolonga-se, aguarda uma luz diferente, mais alta.

a casa está deserta neste instante em que a luz se concentra no terraço. pousas delicadamente a tua mão sobre o meu ombro e reconciliam-se estas horas de outono com as densas neblinas de outro tempo. passamos assim os dias, em sua lentidão, pressentindo a frágil frialdade do mundo, sem reparar na poeira escura e húmida que cresce sem remédio à nossa volta.

que rumor é esse que alivia a nossa espera e que faz com que se aninhem aves no peito como o faziam noutro tempo? ilumina-se o mundo com esse gesto simples, com esse tremor da pele nua que nunca foi tão transparente.

às vezes desvanece-se a névoa e é azul e dourada a alegria.



ANTONIO SÁEZ DELGADO, in 'DIAS, FUMO'

--

[um dia disseste: estás todo aqui, neste livrinho. isto és tu, isto foste tu que escreveste através de alguém.
sim, eu lembro-me.]

estação de inverno: 34-ª estação




hoje, a trigésima quarta estação de inverno.


manuel de freitas, vindo directamente das terras do frio, volta a atacar. 'palavras como facas' não é expressão desapropriada..

e só um bocadinho de the national - que estes são daqueles com que é preciso ter cautela e evitar uma exposição prolongada. 'perigo: alta voltagem', poderia bem vir na capa dos discos..


já disponíveis todos os 33 podcasts das estações de inverno emitidas até à data.


[terças: 23h-24h; repete domingos: 19h-20h]

19 junho 2008


the national, 'mr. november'


this is nothing like it was in my room
in my best clothes
trying to think of you
this is nothing like it was in my room
in my best clothes

the english are waiting
and i don't know what to do
in my best clothes
this is when i need you

the english are waiting
and i don't know what to do
in my best clothes

i'm the new blue blood, i'm the great white hope
i'm the new blue blood

i won't fuck us over, i'm mr. november
i'm mr. November, i won't fuck us over
[repeat]

i wish that i believed in fate
i wish i didn't sleep so late
i used to be carried in the arms of cheerleaders
[repeat]

i'm the new blue blood, i'm the great white hope
i'm the new blue blood

i won't fuck us over, i'm mr. november
i'm mr. november, i won't fuck us over
[repeat]

i wish that i believed in fate
i wish i didn't sleep so late
i used to be carried in the arms of cheerleaders
[repeat]

i'm the new blue blood, i'm the great white hope
i'm the new blue blood
i won't fuck us over, i'm mr. november
i'm mr. november, i won't fuck us over

18 junho 2008

com que então escritor com ar combalido.. aquele charme dos 'vencidos da vida', desprotegido e levemente 'detached' das coisas do mundo..

dizem que vende, se a foto for boa e estrategicamente produzida.

já me estou a ver, de casaco de 'tweed' cossado, barba a meio caminho, olheiras profundas, ar entre o místico e o simplesmente 'i don't care', as rugas que despontam, cabelo em elegante desalinho - se os anos e a biologia ajudarem.

que ao menos a editora tenha um nome 'cool' e que os companheiros de colecção e cocktails de ocasião sejam dignos.

não é pedir muito, pois não?

17 junho 2008

estação de inverno: 33-ª estação




hoje, a trigésima terceira estação de inverno.


josé alberto oliveira, às voltas com 'a vontade de dizer' - ou da clarividência mansa e desencantada de todos os 'fins-de-linha'.

e a memória desses mestres do feedback elegante e das guitarras eléctricas como vertigem poética chamados galaxie 500.


já disponíveis todos os 32 podcasts das estações de inverno emitidas até à data.


[terças: 23h-24h; repete domingos: 19h-20h]


14 junho 2008

ana luísa amaral, senhora muito cá de casa, ganhou mais um prémio ('grande prémio de poesia da associação portuguesa de escritores'), com o seu mais recente livro 'entre dois rios e outras noites'.

a propósito, e porque nunca é demais trazer para junto de nós as coisas de que mais gostamos, aqui fica mais um bocadinho deste mundo, feito - onde é que eu já ouvi isto? - de filigranas subtis.

é uma poesia que mistura a banalidade do quotidiano com uma densidade quase metafísica, que arrisca nomear objectos, signos, palavras como sinais-faróis de uma intensa, diria febril, actividade interior - nessa indefinível fronteira entre o pensar e o sentir, embriagante síntese do que somos.

recuperamos um poeminha antigo. nele ana luísa amaral evidencia aquela capacidade que alguns têm de nos pegar por dentro e de nos projectar, não o poema em nós, mas nós próprios no poema.


COISAS DE LUZ ANTIGAS

aquele namorado que tinha
um nome bom: há quanto tempo foi?
a vida resvalante como gelo
e aquele namorado de nome bom
e férias, ficou perdido em luz,
mais de vinte anos.

deu-me uma vez a mão
um beijo resvalante à hora de deitar
e na pensão. mas tinha um nome bom.
falava de cinema e calçava de azul
e um bigode curtinho,
que escorregou aceso como gelo
no centro da pensão.

rasguei as cartas dele
há quinze anos, em dia de gavetas
e de luz, e nem fotografia me ficou
de desarrumação. mas tinha um nome bom,
falava de cinema e calçava de azul
e resvalou-me quente como gelo
à hora de deitar:

um namorado sem falar
de amor

(que a timidez maior
e o quarto dos meus pais
nessa pensão
no mesmo corredor)


pois é..
desculpem lá o mau jeito,
trovadores de verão.

12 junho 2008


(..)
'a globalização, melhor coisa de sempre,
é também a maior estupidez suicida em larga escala de sempre.
numa longa linhagem de problemas desde os poços de petróleo no médio oriente,
todos somos afectados mesmo que tenhamos o poder de ignorar as notícias.
esta semana há muito poucos discos novos na flur,
o restante ficou preso antes de entrar em espanha,
muito longe da vista mas não do coração.
estarão cá na 3a feira 17, se o mundo não acabar até lá.
beijinhos a todos.'


in e.newsletter da loja de discos flur, de hoje.


dizer o quê?
que a ironia mordaz e meaningful continua a ser uma arte maior?
olhem, como dizem ali em cima:
beijinhos a todos..

summer everywhere..


delays, 'long time coming'

10 junho 2008



conheço algumas.
e alguns.

estação de inverno: 32-ª estação

hoje, a trigésima segunda estação de inverno.


a 'gravitas poética', segundo bernardo pinto de almeida.

e as cançõezinhas delicodoces do projecto she & him, a provar que, por vezes, 'back to basics is going beyond'.


já disponíveis todos os 31 podcasts das estações de inverno emitidas até à data.


[terças: 23h-24h; repete domingos: 19h-20h]

06 junho 2008

1000 :-)




para comemorar, com aspas carregadas bem entendido, o milésimo 'post' do 'flores de inverno' (mais ou menos, uma vez que há por aqui uns 'drafts' que baralham as contas exactas..), a sua irmã 'estação de inverno' resolveu abrir portas aos amigos & amigas que assim o desejarem e que mostrarem estar sintonizados com a sua particular ética e a sua muito ideossincrática estética.


assim, quem desejar co-realizar uma edição do programa 'estação de inverno', apenas tem que me fazer chegar..

[flores_de_inverno@hotmail.com OU estacao_de_inverno@hotmail.com]

..uma proposta de alinhamento musical (55 minutos: 11 a 13 músicas servem perfeitamente) e de livro ou de simples poemas que gostaria de ver a rimar com as musiquinhas por si escolhidas.

apenas um importante requisito técnico (e muuuuiitooooooo anacrónico, eu sei..): todas as canções têm que estar disponíveis em formato CD (sorry, MP3 people!).


o que esta casa oferece:

uma experiência diferente (e, quem sabe, nova)..
uma visita de trabalho, com gravação incluída, ao 'estúdio caseiro' da rádio zero..
como dizia alguém: 'algo diferente'..

os dados estão, pois, lançados.

coragem, amigo/as!
venham daí essas ideias, venham daí essas flores..

05 junho 2008


'(..) de quem gostamos e que aplaudimos porque teve
a coragem da sua fragilidade'

pedro mexia, no seu 'estado civil', a propósito do recente concerto em lisboa de cat power.

..

como eu te entendo, como eu te entendo. a propósito dessa e de outras gatas. a propósito de ti e de outros gatos.

04 junho 2008

notas soltas











1. os garranos também se abatem

ouço na rádio que o jornal de notícias traz na capa uma fotografia, ilustrando um crime contra a natureza (logo, contra todos nós): dez cavalos garranos abatidos, numa área protegida, a tiro de caçadeira. que terão feito de mal estes 'belos cavalos' (para usar uma expressão do escritor corman mccarthy)? a maldade pela maldade é uma coisa tenebrosa. náuseas do cheiro a pólvora.


2. os italianos fazem-no melhor

andam para aí umas bandas que em comum têm a editora 'italians do it better' (americana, por sinal). o som é uma espécie de 'slow electro disco', 'hipnotic disco pop'.. o que quiserem chamar. interessante, interessante é o facto de ser um som adictivo.. instala-se, vicia, domina-nos subtilmente. bandas de referência? 'the chromatics', 'glass candy', entre outras. sendo produto deste tempo, estão em todo o lado: you tube, myspace, blogs musicais. descubram-nos.


3. grandes esperanças

barack obama será o candidato democrata à presidência norte-americana. sendo o lugar mais influente deste tempo - no mínimo estará no top 3 -, a nível global, resta-nos desejar a este ilustre desconhecido votos de sapiência, discernimento e 'alguma iluminação'. é que as hipóteses de que este notável tribuno, mas de resto quase desconhecido, venha a influenciar a vida de todos nós são, diria, no mínimo consideráveis.


4. memória do que poderia ter sido?

bob kennedy. o meu preferido, por mero(?) instinto.


5. uma delícia..

03 junho 2008

correio do leitor (amigo)

não sou muito de "chain letters", com as quais embirro. não gosto muito de forwards de forwards de forwards. mas toda a regra tem a sua excepção.

o jardim recebeu mais uma cartinha, desta vez de uma amiga dos tempos de universidade (já lá vão uns anitos). tem o seu quê de 'kitsch' e, provavelmente, todo/as vós já se cruzaram com ela nalgum cruzamento ou ruela do imenso céu digital.

em todo o caso, reli-a e, não obstante o seu carácter de 'evidência', por vezes, em certos dias, estas coisas 'batem mais fundo'.

na dúvida, fazer.
na dúvida, dizer.
na dúvida, publicar.
assim seja.

..

"Depois de algum tempo, aprendes a diferença, a subtil diferença, entre dar a mão e acorrentar uma alma. E aprendes que amar não significa apoio e que companhia nem sempre significa segurança. E começas a aprender que beijos não são contratos e que presentes não são promessas. E não importa o quão boa seja uma pessoa, ela vai ferir-te de vez em quando e tens que perdoá-la. Aprendes que falar pode aliviar as dores do coração. Descobres que se leva anos para se construir confiança e apenas segundos para destrui-la e que podes fazer num instante coisas das quais te arrependerás o resto da vida. Aprendes que verdadeiras amizades continuam a crescer, mesmo a longas distâncias. E o que importa não é o que tu tens na vida, mas quem tens na vida. Descobres que as pessoas que na vida para ti mais contam, te são roubadas muito depressa; por isso, devemos sempre despedirmo-nos com palavras amorosas dos que amamos; pode ser a última vez que os vemos. Aprendes que a paciência requer muita prática. Aprendes que quando estás com raiva tens o direito de estar com raiva, mas que isso não te dá o direito de seres cruel. Aprendes que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém. Por vezes, tens que aprender a perdoar-te a ti próprio. Aprendes que com a mesma severidade com que julgas, serás um dia condenado. Aprendes que não interessa em quantos pedaços o teu coração foi partido, porque o mundo não pára para que o consertes. E, finalmente, aprendes que o tempo não é algo que possa voltar para trás. Portanto, planta o teu jardim e decora a tua alma, em vez de esperar que alguém te traga flores. E percebes que realmente podes aguentar... que és realmente forte e que podes ir muito mais longe, depois de pensar que não podes ir mais. E que realmente a vida tem valor e que tu tens valor para a vida! Só o medo de tentar nos faz perder o bem que poderíamos conquistar!".

she and him, 'sentimental heart'

estação de inverno: 31-ª estação

hoje, a trigésima primeira estação de inverno.


em 1952, o compositor vanguardista (adjectivo primeiro, substantivo depois) john cage apresentou ao mundo a sua peça '4 minutos e 33 segundos' - o tempo exacto de execução da peça, a qual consiste no pianista (mais tarde, numa qualquer formação musical) sentar-se e não tocar. trata-se de uma peça que ainda hoje divide profundamente melómanos de todo o mundo. é uma peça sobre o silêncio? ou é uma peça sobre os ruídos do pianista e da audiência, durante esses intermináveis 273 segundos? uma peça experimental sobre a 'não-intenção'? ou uma peça acabada e intencional?

a estação de inverno apresenta o seu 'momento cageano'. durante 57 minutos, tirando o genérico do programa e umas palavrinhas de circunstância, esta edição da estação apresentará um alinhamento sem interrupções e sem qualquer leitura de poemas em sobreposição (como é marca registada do programa, no seu formato mais standard).

a ideia? deixar a música fluir. escutar 'a poesia que há na música', como dizemos no mote do blog que serve de porto de abrigo ao programa. tentar que a música, melhor dizendo a música e as palavras que compôem o naipe de 14 canções seleccionadas, guiem os nossos ouvintes, de modo a que se consiga uma experiência pessoal, com base numa 'digressão íntima' pelos caminhos, avenidas e atalhos que cada um quiser escolher.

uma certa 'pureza', um certo 'radicalismo' (radical = essência), à moda e à humilde escala da estação? ora nem mais..


já disponíveis todos os 30 podcasts das estações de inverno emitidas até à data.


[terças: 23h-24h; repete domingos: 19h-20h]

02 junho 2008

correio do leitor (amigo)

aqui, no jardim de inverno, gostamos muito de receber cartas, postais, emails. recebemos as linhas abaixo, vindas de um querido amigo. talvez vos interesse - daí, a título excepcional e com a devida autorização, ter o jardineiro decidido a sua 'desclassificação' e respectiva publicação.. diz assim:


'Li um livro num só dia, e isso, por si só, vale um email.

Nada de grandes expectativas, porque o livro é curioso, mais do que uma obra-prima.

Chama-se Infância e é escrito, ou melhor meio escrito meio editado, pela Sarah Adamopoulus.

Trata-se de um conjunto de 35 ou 40 pequenos textos, resultantes de entrevistas, com/de várias figuras, mais ou menos públicas, sobre a sua infância. Como se fossem biografias truncadas no tempo mas que na realidade são reveladoras da biografia integral. Interessante como se pode conhecer tanto de uma pessoa em textos tão pequenos e tão centrados numa pequena parte da sua vida.

Mas, para mim, o mais interessante dos textos é ter-me feito reviver a minha própria infância à medida que os ía lendo. Pormenores em comum com gente tão diferente. A infância une-nos mais do que nos separa e isso, fica alí, claro como a água.

Se não bastasse a simplicidade aparente dos textos e a sua real profundidade ou a forma como nos tocam tem um brilhante (não seria de esperar outra coisa) prefácio do António Barreto.

Vem isto a propósito de nada, mas enquadrado pelo facto de ter acabado de ler o texto do blog do j., do dia 30.

Abraços e beijos, respectivamente.


L.

PS. Como diz um dos entrevistados, ser pai muda a forma como se olha para a infância, e isso, se calhar muda também a forma como li este livro.'