28 julho 2008




encaminhou-se para casa, sem ligar ao frio que gelava o caminho, sob seus pés. as flores ardiam, em labaredas invisíveis que estancavam a um palmo de si, dos dois lados, numa dança geométrica precisa e perfeita. dir-se-ia que com aquele sol e aquele céu azul, era improvável nevar. mas nevava. continuava a caminhar, com os olhos negros cerrados. era já só um fantasma, mas um fantasma a caminho de casa, cercado pelos anjos de pedra que definiam os contornos da alameda e por bandos de pássaros silenciosos. havia sido um homem, alto, esbelto, longílineo. um apolo de gabardine clara. mas isso fora há muito tempo atrás, no tempo das rosas. depois, lembrava-se bem, vieram as rosas a arder, o cheiro a enxofre, o céu rasgado por deuses impiedosos. e aquele dedo apontado à sua fronte, condenando-o à errância eterna, por entre estações em delírio. ruído branco. sede absoluta. um caleidoscópio de cores num turvelinho. as forças a falharem. perto do coração selvagem, lembrava-se de ter lido, muitos anos antes. um fantasma a caminho de casa.

3 Comments:

Blogger J. said...

que bom! ;)

"as duas casas" nao é para ja, mas enquanto espero comprei o fim de lizzie na feira do livro! ;)

segunda-feira, julho 28, 2008 6:50:00 da tarde  
Blogger Abssinto said...

Bem poética a escrita dela. Eu que sou o devorador de contos ainda não foi nesta feira do livro que comprei algo desta dona. Mas lá terá de ser um dia destes.

domingo, agosto 03, 2008 4:30:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

amigo abssinto,

este pastiche é da minha autoria
;-). vou-me dedicar a ser um 'copista da era moderna', como os antigos monges.
apenas uma nota: ela é A escritora. love it or leave it. but if its love then its overwhelming love..

flores,

gi.

segunda-feira, agosto 04, 2008 10:12:00 da manhã  

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