18 julho 2008

o artista tem biografia 1

quem me vai acompanhando sabe que não sou frequente utilizador deste espaço como registo diarístico-realista (ainda que, naturalmente, nas entrelinhas se encontre, de forma mais óbvia ou mais subtil, abundante 'matéria de facto').

faço uma pequena excepção, nestes dois posts.

o meu pai deixou de trabalhar esta semana. 64 anos de idade, 45 anos de trabalho consecutivo, para o mesmo empregador.

para além de ser algo que a minha geração já não irá experimentar (daria para um 'post' com cinco mil caracteres), importa-me registar e partilhar uma coisa que tem a ver com este 'blog' - também ele uma forma de combater o efeito do tempo, o esquecimento, as partidas da memória, o rame-rame rasteiro, o medo visceral que todos temos a certas emoções, a perda de um certo sentido de humanidade.

habituei-me a ver no meu pai um exemplar de uma certa ética estóica perante o trabalho, os deveres profissionais. sempre o acompanhou uma inexpugnável 'work ethics', neste sentido algo muito pouco português, muitas vezes difícil de entender, com tudo o que significa em termos de abnegação, sacrifício, 'trade-offs' com outros aspectos da vida, disponibilidade - coisas assim.

para além de a história dos últimos anos merecer reflexão (que, por razões de reserva, guardarei para mim), o que me importa assinalar aqui é o efeito da passagem do tempo, a inexorabilidade do mundo em movimento.

antes era um tempo. agora é outro tempo.

'podes fugir, mas não te podes esconder', cantavam os 'da weasel'. pois, pois.

[diz a senhora bruni-sarkozy: 'those dancing days are gone'. nunca pensei que também ela aparecesse por aqui. mas também nunca pensei tanta coisa..]