31 agosto 2008

31 de agosto..




year the of day good last the......................................

29 agosto 2008




tens 10 anos de idade de novo e corres para casa, nesses tempos em que menos era mais, ver a série m*a*s*h, um clássico da televisão americana. estás numa vila de província e aquele é o teu mundo, o avó álvaro, a avó teresa, a tia alzira - santíssima trindade, que Deus me perdoe mais esta -, os teus pais, as tuas irmãs, a família imensa de quinhentos primos mais ou menos por afinidade que gravitam à tua volta. és um menino, na transição dos 70 para os 80, mas um menino que é, não raro, apresentado e tratado como um adulto. nesses dias, em que a educação se fazia por instinto (e, às vezes, por amor) não havia cientificidade que substituísse o colo do teu avó, as receitas da tua avó, a protecção omnipresente da tua tia. hoje, todos estão algures, enfim reunidos, outra vez, interrompendo vinte anos em que a presença dos três foi-se desvanecendo entra a terra e ess'outra margem da alegria, pela qual rezas todos os dias para que exista. sempre gostaste desta musiquinha, na sua versão instrumental, porque tem nela a palavra que mais gostas - ternura. hesitas, talvez gostes ainda mais da palavra liberdade. ternura e liberdade, numa musiquinha, em versão instrumental de casino, que servia de genérico ao m*a*s*h? as pessoas pensarão o quê? mas tu não te preocupas com isso, tens 10 anos de idade, vives no interior do país, frequentas a igreja, a escola pública, jogas à bola, corres pelos atalhos, dás-te com gente de todo o tipo, nessa tua vocação de abraçar os extremos que sempre tiveste em ti. não podes ainda saber o que vais ser, não podes ainda saber o que a vida te reserva. sabes apenas que tens em ti qualquer coisa que não entendes muito bem, qualquer coisa que te faz ler compulsivamente livros que não são para a tua idade (lembras-te da noite em que devoraste kafka mais o seu 'o processo'? se ele o havia escrito, diz a lenda e o seu amigo e editor póstumo max brod, numa noite, o mínimo que te é exigido é que o leias numa noite. tens 10 anos de idade e nessa noite a leitura de um livro tornou-te instantâneamente adulto. anos depois, muitos anos depois, perguntar-te-ão: 'de onde te vem esse permanente sentimento de perda?'. é a pergunta exacta, e tremes por perceber que te perceberam. lembras-te da frase do ruy belo ('conhecer-te é já perder-te') e engoles em seco, como tantas e tantas vezes tens feito, vergado por dentro e dobrado em efeitos de origami interior que nenhum artista poderia reproduzir). mas tens 10 anos, apenas 10 anos, gloriosos 10 anos, e com o frio na cara - essa sensação que sempre adoraste -, corres, corres, corres para casa, para a tua família, para os braços da grande-eterna-casa. ligas a televisão mágica, nesses tempos sem escolha entre mil canais que não servem para nada, e mergulhas no campo, estás no vietname, o ambiente é paradoxalmente distendido, apesar da guerra à volta. é uma estratégia de sobrevivência, pensas. dizes para contigo: rapaz, lembra-te disto, ser-te-á útil mais tarde. a música começa e, de súbito, disparas numa espécie de experiência mística. menos de 1 minuto depois, tens os olhos marejados de lágrimas e ninguém repara, ninguém percebe. mas alguém percebe sempre e coloca-te nos seus joelhos e diz-te: 'gosto de ti'. e desse gosto de ti, dessa primeira letra e dessa última letra, entendes que o teu nome 'g+i=gi' é afinal tudo o que tens de saber sobre ti e o que os outros terão de saber sobre ti. muitos anos depois, pensas, tens 10 anos ainda, muitos anos depois será este o abre-te sésamo, a senha mágica, o santo graal, a alquimia superlativa: 'gosto de ti, gi'. e sabes que essa será sempre, sempre, sempre a porta de entrada no teu reino. tens 10 anos, a musiquinha do genérico continua a tocar, nunca esquecerás a melodia. nunca percebeste, nesses tempos sem internet, mas com tanto mais e melhor do que toda esta parafernália de novos ricos sem mundo, que a canção se chamava 'suicide is painless'. dizes assim: como é possível ser-se são estúpido e dar um nome tão terrível a uma canção? depois, depois, pensas melhor e vem outra vez ruy belo ao teu encontro ('suicido-me nas palavras'). tens 10 anos e projectas-te no tempo, pensando que um dia vou pensar e sentir e escrever e ser assim. não conheces o futuro, nunca leste poesia, ruy belo quase quase que o apanhavas ainda vivo e viçoso, o vietname tinha sido logo ali atrás, há bocadinho. pensas que uma escrita sulfurosa, súlfurica, barroca, em combustão, te pode salvar. nada te pode salvar. colocas os verbos no futuro - tentas o perfeito, o imperfeito, o mais-que-perfeito, nada rima como deve ser, nada sôa bem ao teu ouvido exigente. sonhas em línguas eslavas, sentes em esperanto e pensas que, apesar dos teus 10 anos e de viveres num mundo em miniatura, o que te caía mesmo bem era um milagre qualquer. 'lady and bird', num inglês que apenas intuis, assaltam-te por dentro. será esse o milagre? veremos o que o futuro nos reserva, pensas. amanhã vou jogar à bola, porreiro, pá. vou-me cansar, extenuar, parar de pensar, parar de sentir. viver a 100, a 200 à hora, pé na tábua, sempre a fundo, sempre em risco de incêndio. pode ser que me esqueça de sentir, pode ser que ande mais depressa do que correm os espectros que me tentam apanhar. tens 10 anos e não sabes, não entendes, não percebes. afinal, é só uma musiquinha, não é avô, avó, tia? e no sorriso terno deles, mergulhas a fundo nos vales bem-aventurados da infância, homem-pássaro que se adivinha nesse menino de dez anos.


pôrra, pá, tenho tantas saudades vossas. mas tantas.




cortesia do prof. josé de pina
in programa 'joke box', rádio radar

28 agosto 2008




"Ainda que as suas composições comportem traços comuns a toda uma geração que adolesceu em quartos desarrumados, ao som de Smiths e de Go Betweens, Darren Hanlon permanece refém da sua geografia. No entanto, ao público australiano não são indiferentes álbuns como "Fingertips and mountaintops", editado em 2006 e aclamado pela imprensa local. Nele, Darren explora o seu recente fascínio pela indie folk norte americana, recorrendo apenas a um banjo e piano em algumas das faixas, num registo próximo e depurado. Ao longo do seu percurso, a sua escrita tem revelado uma silhoueta de storyteller. O seu olhar atento, assim como a sua capacidade em caracterizar o tecido social que o envolve, colocam-no na esteira de nomes como Ray Davies ou Jens Lekman, com quem colaborou anteriormente. A convite de Stephen Merritt, acompanhou nos últimos meses os Magnetic Fields em diversas datas europeias (incluindo um concerto na Aula Magna em Lisboa). No dia 06 de Setembro, o Salão Brazil recebe Darren Hanlon, ficando a promessa de, por uma noite, sentirmos mais próximo o território australiano."


"Depois dos Ola Podrida + Magic Arm - em co-produção com o TAGV, no passado mês de Fevereiro - agora, em Setembro, é a vez de Darren Hanlon, canta-autor que fez recentemente a primeira parte do concerto dos Magnetic Fields em Portugal. Esta é a primeira organização oficial da Lugar Comum - Associação de Promoção e Divulgação Cultural.
Há muito mais para acontecer!"


Sábado, 6 de setembro de 2008, às 22h30m

Preço: € 4

Salão Brazil
Largo do Poço, 3
Coimbra
Portugal
Tel: (+351) 239824217
Web: salaobrazil.blogspot.com


(..)

como é que eu posso
contra o encanto
desse amor
que eu nego tanto,
que eu evito tanto
e que no entanto..?


(..)


joão gilberto

27 agosto 2008


eleni mandell, 'girls'
telluric-spatial-micro-folk?


bowerbirds, 'in our talons'

26 agosto 2008

estação de inverno - podcasts - actualização

infelizmente, um problema técnico ocorrido há dias no equipamento da rádio zero fez desaparecer os 'podcasts' de todos os programas posteriores a 29 de abril. no caso da 'estação de inverno', foram cerca de 10 as emissões que se desvaneceram no imenso vazio digital.

as boas notícias é que é possível, assim haja disciplina do autor, recuperar todos esses programas. gradualmente, e seguramente que apenas durante setembro, tentaremos completar a memória histórica do programa.

aproveitamos para informar que muito em breve anunciaremos quando regressa a 'estação', para a mui esperada segunda época ;-). confirmaremos data de regresso a antena, com programas novos.

até breve.
dizia-te do minuto certo. do minuto certo do amor.
dizia-te que queria olhar para os teus olhos e ter a certeza que pensavas em mim. que me pensavas por dentro. que era eu a tua fantasia, o teu banco de trás. o teu desconforto de calças caídas, de pernas caídas, da rua que não estava fechada porque nenhuma rua se fecha para o amor.
na cidade do meu sono, havia palmeiras onde alguns repetiam charros e putas e atiravam pedras ao rio. mas eu nunca gostei de clichés. nem de quartos de hotel. nem de camas que não conheço. eu nunca abri as pernas no liceu. nunca abri as pernas aos dezassete anos, de cigarro na mão. eu nunca me comovi com o sonho de ser tua. eu nunca quis que ficasses, entendes? que viesses. queria que quisesses de mim esse minuto certo, essa rua húmida de ser norte. queria que me quisesses certa, exacta, como o minuto onde me pudesses encontrar. eu nunca quis de ti uma continuidade. mas um alívio, uma noção de ser gente, entendes? eu nunca quis de ti o sonho do sono ou da viagem. nunca te pedi o pequeno-almoço, a ternura. nunca te disse que me abraçasses por trás, que adormecesses. eu nunca quis que me desses casa e filhos e lógica. que me convidasses para dançar. queria os teus olhos a fecharem-se comigo por dentro e tu por dentro de mim.

queria de ti um minuto. um minuto.



filipa leal
in 'o problema de ser norte'
editora deriva, 2008


junior boys, 'no kinda man'

25 agosto 2008

her finest day*


foto: shelton muller


[* título da responsabilidade do jardim d'inverno.]

22 agosto 2008

o mundo que não entendo e que me assusta

'(..) a tragédia em medeia consiste no equívoco daqueles que julgam que acabam uma relação amorosa impunemente. daí às mais abomináveis violências é um pequeno passo.'

pedro mexia
in 'medeia', 20.08.08, http://estadocivil.blogspot.com



jonathan richman, 'true love is not nice'
força, portugal!
já só falta tudo.

azure ray, 'the drinks we drank last night'


[destas sim, bem se pode dizer: 'as minhas amigas'..]


riding on these waves
holding on to what you say
everything will be okay
it will work out one way

but i’ve drifted way too far
my arms my legs have grown too tired
and could you be inspired, now i’m just tired

and on a swing you push me hard
so i’ll come back to where you are
and you know i’m never far
no decisions nothing hard

And i knew that it would ring tonight
i’ll take the bus or the next flight
i won't give up on what feels right

if you see these tears fill in my eyes
it's just the wind that makes me cry
if you could feel this pain inside
it's from the drinks we drank last night
it's from the drinks we drank last night

the shadow of our past,
projects on clouds of dust and gas
the ones where my eyes will rest,
a silhouette of loneliness

if you see these tears fill in my eyes
it's just the wind that makes me cry
if you could feel this pain inside
it's from the drinks we drank last night
it's from the drinks we drank last night

21 agosto 2008

[para um rapaz bucólico, bukowski e meio.]


let it enfold you


either peace or happiness,
let it enfold you

when I was a young man
I felt these things were
dumb, unsophisticated.
I had bad blood, a twisted
mind, a precarious
upbringing.

I was hard as granite, I
leered at the
sun.
I trusted no man and
especially no
woman.

I was living a hell in
small rooms, I broke
things, smashed things,
walked through glass,
cursed.
I challenged everything,
was continually being
evicted, jailed,in and
out of fights, in and out
of my mind.
women were something
to screw and rail
at, I had no male
freinds,

I changed jobs and
cities, I hated holidays,
babies, history,
newspapers, museums,
grandmothers,
marriage, movies,
spiders, garbagemen,
english accents,spain,
france,italy,walnuts and
the color
orange.
algebra angred me,
opera sickened me,
charlie chaplin was a
fake
and flowers were for
pansies.

peace an happiness to me
were signs of
inferiority,
tenants of the weak
an
addled
mind.

but as I went on with
my alley fights,
my suicidal years,
my passage through
any number of
women-it gradually
began to occur to
me
that I wasn't different

from the
others, I was the same,

they were all fulsome
with hatred,
glossed over with petty
greivances,
the men I fought in
alleys had hearts of stone.
everybody was nudging,
inching, cheating for
some insignificant
advantage,
the lie was the
weapon and the
plot was
empty,
darkness was the
dictator.

cautiously, I allowed
myself to feel good
at times.
I found moments of
peace in cheap
rooms
just staring at the
knobs of some
dresser
or listening to the
rain in the
dark.
the less I needed
the better I
felt.

maybe the other life had worn me
down.
I no longer found
glamour
in topping somebody
in conversation.
or in mounting the
body of some poor
drunken female
whose life had
slipped away into
sorrow.

I could never accept
life as it was,
i could never gobble
down all its
poisons
but there were parts,
tenous magic parts
open for the
asking.

I re formulated
I don't know when,
date, time, all
that
but the change
occured.
something in me
relaxed, smoothed
out.
i no longer had to
prove that I was a
man,

I did'nt have to prove
anything.

I began to see things:
coffee cups lined up
behind a counter in a
cafe.
or a dog walking along
a sidewalk.
or the way the mouse
on my dresser top
stopped there
with its body,
its ears,
its nose,
it was fixed,
a bit of life
caught within itself
and its eyes looked
at me
and they were
beautiful.
then- it was
gone.

I began to feel good,
I began to feel good
in the worst situations
and there were plenty
of those.
like say, the boss
behind his desk,
he is going to have
to fire me.

I've missed too many
days.
he is dressed in a
suit, necktie, glasses,
he says, "I am going
to have to let you go"

"it's all right" I tell
him.

He must do what he
must do, he has a
wife, a house, children.
expenses, most probably
a girlfreind.

I am sorry for him
he is caught.

I walk onto the blazing
sunshine.
the whole day is
mine
temporailiy,
anyhow.

(the whole world is at the
throat of the world,
everybody feels angry,
short-changed, cheated,
everybody is despondent,
dissillusioned)

I welcomed shots of
peace, tattered shards of
happiness.

I embraced that stuff
like the hottest number,
like high heels, breasts,
singing,the
works.

(dont get me wrong,
there is such a thing as cockeyed optimism
that overlooks all
basic problems just for
the sake of
itself-
this is a shield and a
sickness.)

The knife got near my
throat again,
I almost turned on the
gas
again
but when the good
moments arrived
again
I did'nt fight them off
like an alley
adversary.
I let them take me,
i luxuriated in them,
I bade them welcome
home.
I even looked into
the mirror
once having thought
myself to be
ugly,
I now liked what
I saw,almost
handsome, yes,
a bit ripped and
ragged,
scares, lumps,
odd turns,
but all in all,
not too bad,
almost handsome,
better at least than
some of those movie
star faces
like the cheeks of
a baby's
butt.

and finally I discovered
real feelings of
others,
unheralded,
like lately,
like this morning,
as I was leaving,
for the track,
i saw my wife in bed,
just the
shape of
her head there
(not forgetting
centuries of the living
and the dead and
the dying,
the pyramids,
Mozart dead
but his music still
there in the
room, weeds growing,
the earth turning,
the toteboard waiting for
me)
I saw the shape of my
wife's head,
she so still,
I ached for her life,
just being there
under the
covers.

I kissed her in the,
forehead,
got down the stairway,
got outside,
got into my marvelous
car,
fixed the seatbelt,
backed out the
drive.
feeling warm to
the fingertips,
down to my
foot on the gas
pedal,
I entered the world
once
more,
drove down the
hill
past the houses
full and empty
of
people,
I saw the mailman,
honked,
he waved
back
at me.



charles bukowski



- filho, tu tens um problema: és intenso. demasiado intenso.
- pensava que isso era uma virtude, mãe..
- (silêncio)

----

- pai, isso é o melhor que sabes fazer? não é lá grande coisa.
- pois não. sabes que levarás sempre contigo essas coisas, como uma cicatriz que te dói sempre que muda o tempo.
- não é um grande conselho, pois não?
- não.
- e o que é que isso diz sobre ti, já pensaste?
- não. não faço ideia o que é que diz sobre mim. mas o facto de estares aqui, depois de tantos anos, diz muito sobre ti.
- (silêncio)

18 agosto 2008


foto: paulo nozolino


era uma vez um casal algures entre o 'new age' e o 'alternativo', de 'look' quase impecável, não fossem os cabelos algo livres em demasia - muito 'in' noutros preparos; naquele caso, em que rimavam perfeitamente com o 'outfit' de ambos, naturalmente que não pareciam tão politicamente correctos na sua aparente incorrecção. tinham um bebé, que os acompanhava, bem cuidado e merecendo todos os mimos modernos que é suposto devotarmos aos bebés de colo (cadeirinha de última geração incluída). ele parecia branco, ela era seguramente de cor - dúvidas que o olho nú a uma distância considerável nos traz. ele tocava um instrumento musical, ela cantava, acompanhando-o. noutros momentos, dava simplesmente colo ao bebé, embalando-o. as vestes do casal eram garridas, coloridas, num padrão que cheirava a áfrica. lisboa, 22h00.

era uma vez um homem desamparado, de uma fragilidade impressionante. de lado, olhando o seu perfil, através da vidraça do carro, dir-se-ia uma bandeira, oscilando com o vento. cambaleava - juro - ao sabor do vento, com se o corpo se tivesse já desvanecido e apenas uma fínissima filigrana o mantivesse de pé. dirigiu-se-nos nos seguintes termos: 'não terá por acaso o senhor o péssimo hábito de fumar? um cigarrito..'. pensei no dinis machado, esse escritor-fatal. mas é a imagem do 'homem-bandeira' que nunca mais esquecerei. lisboa, 17h00.

era uma vez uma supermercado modesto, como tantos há espalhados pela cidade. empregados modestos vigiam e abastecem modestas prateleiras e esperam nas caixas modestas pelas compras modestas das modestas gentes. duas ou três crianças, negras, de aspecto limpo - impecáveis é palavra mais certeira, mexem-se, aqui e ali, numa dança que só as crianças sabem fazer, quando são ainda suficientemente crianças. falam entre elas e dizem 'a mamã (qualquer coisa)'. a linguagem é sempre sempre um sinal de classe, um poderosíssimo factor de exclusão / inclusão / demarcação de territórios na eterna selva social. escutar, num português perfeito, com a exacta ausência de pronúncia que os nossos ouvidos atribuem a quem fala como nós - erro de simpatia comum -, palavras que associamos a outro tipo de enquadramento social faz-nos parar e pensar. muito e em muitas coisas. lisboa, 11h30.

era uma vez um homem numa motorizada com quatro rodas, denunciando a sua condição especial, a sua 'deficiência física'. vestido a preceito, qual marlon brando num filme dos anos cinquenta, o blusão de couro, os óculos escuros perfeitos, o cabelo num desalinho charmoso, os movimentos másculos e desafiantes de aceleração / desaceleração. 'easy rider' com estilo, mas não 'by the book': não morreu jovem, não deixou um cadáver bonito - e isso é imperdoável para as gentes que passam. lisboa, 22h00.

..

estão em todo o lado, em toda a parte. são os mais perfeitos personagens, uma poderosa máquina de comoção e de humanidade.

quero que eles tenham poderes mágicos, para fintarem destino e probabilidades. lisboa, 17h00.



desistentes dos barcos
adivinhos do dia acontecido
profetas da desgraça alheia
falsos crentes que pregam
cunhadores de moeda falsa
magos de telemarketing
modelos de virtudes que só excluem
poetas inconsequentes
vencedores sem magnânimidade
intolerantes de toda a espécie
adeptos do sucesso de sofá
invejosos militantes
broncos encartados
mestres da soberba
pós-modernos sem perspectiva
historiadores minúsculos
filhos sem memória
alquimistas falhados
canastrões de sábado à noite
adeptos do determinismo
devotos dos materialismos
relativistas sem freios
gentinha pardacenta
homens que esqueceram a infância
desiludidos do sonho
escravos da circunstância


esta é para vocês.

14 agosto 2008



[dizer o quê, paul?]
ontem, nas páginas do jornal 'público', uma curiosíssima descoberta.

agosto tem destas coisas - dá para passar os olhos como deve ser por 'mundos', que na azáfama de muitos outros meses, apenas costumamos espreitar.

este é um dos fenómenos da internet. no artigo mencionado, o fundador do projecto explica-nos como surgiu, como dedica 50 horas (!) por semana a este mundo de pequenos grandes segredos, como teve que construir um pequeno armazém para tudo o que lhe chega pelo correio e para arquivo dos milhares e milhares de segredos que continuam a chegar de todo o lado.

que pensar de tudo isto? boa pergunta..


post a secret
uma pessoa amiga decidiu ir passar dois meses ao zimbabué.

este blog dar-nos-á conta da grande e da pequena história desta sua jornada.

vale a pena espreitar. digo eu, que sou suspeito.

até breve, caro jb!



às vezes, parece-me simplesmente a mais bonita canção alguma vez escrita.
hoje, por exemplo.

13 agosto 2008




por mim, merecem ser consideradas património nacional!

obrigado, L., por as continuares a fazer tão especiais.

e obrigado, aos demais 'akas', por continuarem a deliciar-se com elas, nesta espécie de ritual (já) familiar.

'best in class'! medalha de ouro, recorde dos jogos e recorde mundial - qual michael phelps, qual carapuça!

ela disse-lhe, de um golpe:
- espanta-me, arrasa-me, inunda-me, incendeia-me.

ele retorquiu que misturar assim os elementos era um atentado às leis da mãe natureza - água e fogo equivalem-se e anulam-se. além do mais, nunca estudara o modo imperativo dos verbos e as coisas da língua não eram com ele.

ela encolheu os ombros, como doutras vezes, com outros rapazes. habitavam países nos antípodas, nada a fazer.

depois, sem perceber bem porquê, deixou de pensar. olhou-o pelo canto do olho e sentiu que há coisas que não se explicam. ela sabia que ele, embora não sendo especialmente dotado nas coisas da academia, espantava-a, arrasava-a, inundava-a, incendiava-a, quando menos ela esperava e de maneiras que ela nunca esperaria.

a sua mente sofisticadamente treinada dizia-lhe agora que é possível tirar um rapaz da sua circunstância, mas nunca fazer dele desaparecer a circunstância de ser rapaz, porque isso é nele, em qualquer rapaz, já essência.

perdida nos seus devaneios, entre o olimpo mental e o sabor a sal que a terra tem, arrebanhou, num gesto largo e decidido, o cabelo, simulando uma composição frondosa e renascentista - 'marie antoinette' ainda andava pelo leitor de dvd.

ele enlaçou-a de supresa.

ela simulou susto. mas era espanto. e fogo. e entrega. deixou cair uma pequenina lágrima, que ele não viu. sentiu-se inundada, como se o mar estivesse agora dentro dela. que tolice.

depois, virou-se e abraçou-o, de frente, com firmeza e segurança. instintivamente, levou a mão à mesinha e virou um livro ao contrário, escondendo a capa. afinal, a 'moderna gramática portuguesa' nunca tinha feito por ela mais do que a sua obrigação. já ele, já ele..

cravou-lhe os dentes no pescoço.
e desabou.





a par com algumas canções dos ban (esses mesmo, do joão 'boavista' loureiro), talvez o mais inspirado disco de verão da moderna música pop portuguesa.

há mais ou menos 20 anos, os radar kadafi (dadaísmo por aqui?) gravaram um disco pleno de portentosos singles - como estes dois que aqui vos deixo.

foram muitas viagens de carro - verão fora, agosto dentro - por caminhos rurais, em lânguido ritmo de passeio, ouvindo esta rapaziada que, algures em finais da década de oitenta, descobriu o segredo que muitos buscam: fazer canções luminosamente pop.

eles conseguiram.

depois.. depois, como tantas e tantas vezes, desapareceram na vertigem da história, na esquina dos dias. qual é a história mais velha do mundo?: 'boy meets girl'. qual é a segunda mais velha história do mundo?: 'once upon a time someone was truly great and then everything turned itself inside out into dust'.


no fundo da avenida
bebendo um capilé
quarenta graus à sombra
nas mesas do café
e aquela rapariga
eu já não sei o que dizer
o que fazer
o que dizer
o que fazer

aihaiah
mediterrâneo agosto
em pleno verão
aihaiah
o sol a pino e eu faço
uma revolução
aihaiah

parte um navio
desce a maré
vejo o céu vermelho
tomara que estivesse a arder
e aquela rapariga
eu já não sei o que dizer
o que fazer
o que dizer
o que fazer

aihaiah
mediterrâneo agosto
em pleno verão
aihaiah
o sol a pino e eu faço
uma revolução
aihaiah

eu só te quero a ti
eu só te quero para mim
agosto aqui para mim
só ter um fim
é ter-te a ti
só para mim
agosto aqui
só para mim

12 agosto 2008

11 agosto 2008




aviz ou avis?
feliz ou felis?
como se diz?

aviz e feliz
ou
avis e feliz.
assim se diz.

portanto,
aviz ou avis,
mas sempre feliz!

:-)
pôes o avental, preparas a instrumentação,
contas ingredientes: fermento, açúcar, sal,
ajeitas a mão e treinas o golpe e a intenção.
enquanto relembras receita, truques, etc e tal.

depois da ciência, em esforço e método,
esperas a arte da alquimia e a inspiração
que te transformarão de artista moderno
em visionário da gastronomia em ebulição.

cuidado, rapaz-de-avental-posto, em guarda!
qu'isto de cozinhar palavras é perigo imenso:
sabores, aromas e mais devaneios em barda
podem fazer da palavra arma - e de ti incenso.

podes desvanecer-te num minuto, nem tanto!,
e incenso nunca será de cozinha grande chefe.
ainda acabas a cozinhar em lume brando
a carne tua no sangue que em ti ferve.

a gastronomia sempre foi arte e da maior,
cozinhar palavras não é assim tão diferente:
tarefa sápida de, pelos sentidos, matar a dor
que o poeta que em ti arde, sente e cala
que o poeta que em ti fala, esconde (e mente).
se é obra tua,
que assim seja.
publica-a onde o vento a leve.
não sejas lenta nem rápida,
não sejas farta nem breve.
deixa-te fielmente acontecer.
despede-te, depois, de ti,
renasce outra vez,
com palavras fortes e cheias
feitas de marés e luas mansas,
e de tudo o mais que em ti falta,
e de tudo o mais que de ti sobeja.

volta atrás,
despe-te agora do artifício,
reiventa o deserto em cores impossíveis,
e simples.
faz o milagre acontecer em tua casa.
sê árvore, ave, gota, filamento.
levanta de ti mesmo vôo.
faz deste lugar a hora suprema,
agarra com limpidez, ternura (e febre)
este outro tu - puro e sedento -
escuta o tempo e o que ele te diz:
é este, para sempre, rapariga
o teu único e verdadeiro momento.

07 agosto 2008

de onde te vem esse permanente sentimento de perda? - perguntou ela.




tu vais partir amanhã
de manhã e eu vejo-te
partir tão cedo, tão de manhã.
o meu dia de hoje é já
o meu dia de amanhã,

a esperar que regresses
a este vazio, eu num afã
para que regresses ao dia
de ontem, ao dia de amanhã.
decidida preocupação

que só me ocorre assim,
de manhã, numa altura
em que vais partir -
ou estarás de regresso?
o dia de hoje é o dia

de amanhã, pelo menos
contigo, ou pelo menos
quando me lembro da manhã
em que tu fingiste partir
e eu fingi que tu chegavas.



senhor helder moura pereira
excerto de 'enquanto pasta, alegre, o manso gado'
in 'amor carnalis', editora frenesi

if it takes control of your body and soul
embrace it
if it makes you cry or leaves you wondering why
don't turn around, face it

but do turn
cold
if they promise you gold...for the price of silver
if it's chemically made by people you hate.

(..)



kings of convenience, 'gold for the price of silver'

06 agosto 2008


fotografia: pedro dinis gonçalves de almeida


[para o d., no dia dos seus 36 anos]


compromisso


pertence-te
ser homem, afirmar
todos os dias que tens
um compromisso: ser claro
e brando como a luz
e, como ela,
necessário. e não deixar
crescer à tua porta
ervas daninhas.


senhor albano martins

'hiroshima, mon amour', de alain resnais.


porque o maior crime de todos é esquecer.
porque esquecer é negar.
porque negar é atribuir 'não-existência'.
porque esquecer é encher de entulho 'o grande olvido' - o buraco negro da memória colectiva.

porque a vida continua, sim, continua, apesar da memória - mas não, nunca, jamais à custa da memória.

'tu não viste nada em hiroshima'.

sim, eu vi tudo em hiroshima.

05 agosto 2008




um rapaz raro,
diria dele outro rapaz dourado - rimbaud.
um rapaz que guardava um tesouro,
diria, aqui ao lado,
o muito nosso josé miguel silva.

um dia foi só um rapaz
como os outros:
sorridente,
travesso,
luminoso.

como são todos os rapazes.

quando hoje, em busca de magia,
nos ajoelhamos perante as canções,
é a catedral que veneramos.
mas, antes e depois e além da catedral,
houve um rapaz.

como todos os rapazes.

nos
que existiram,
nos
que existem,
nos
que existirão:
em todos eles há,
preciso e precioso,
um derradeiro gosto a verão.

depois foi nick drake,
mas esse já conhecemos
(wikipedia e bibliografia).
o que nunca saberemos
é onde o olhar do rapaz
se perdeu para sempre,
em que margem ficou,
essa coisa que no ainda rapaz vemos
essa coisa a que chamam alegria.
i wasn't living apart from my husband then; you see, neither of us could afford to make the other a separate allowance. in spite of everything that proverbs may say, poverty keeps together more homes than it breaks up.

all decent people live beyond their incomes nowadays, and those who aren't respectable live beyond other peoples. a few gifted individuals manage to do both.

you needn't tell me that a man who doesn't love oysters and asparagus and good wines has got a soul, or a stomach either. he's simply got the instinct for being unhappy highly developed.

the young have aspirations that never come to pass, the old have reminiscences of what never happened. it's only the middle-aged who are really conscious of their limitations - that is why one should be so patient with them.

he is one of those people who would be enormously improved by death.

i'm living so far beyond my income that we may almost be said to be living apart.

in baiting a mousetrap with cheese, be sure to leave room for the mouse.



saki



não sendo fácil encontrar uma das muitas edições em língua inglesa (salvo via internet, claro está), tentem descobrir o livro de 2007 (editora relógio d'água) 'contos de saki' - uma belíssima introdução à obra do senhor saki, pseudónimo de hector hugh monro.

garanto-vos que vale a pena, caso sejam sensíveis a três qualidades muito próprias dos súbditos de sua majestade: o 'wit', o 'twist' e os jogos de linguagem.

talvez ao nível de oscar wilde e mais não digo. altamente recomendado!


--

Scottish-born writer whose stories satirize the Edwardian social scene, often in a macabre and cruel way. Munro's columns and short stories were published under the pen name 'Saki', who was the cupbearer in The Rubayat of Omar Khayyam, an ancient Persian poem. Saki's stories were full of witty sayings - such as "The cook was a good cook, as cooks go; and as cooks go she went." Sometimes they also included coded references to homosexuality.

"A little inaccuracy sometimes saves tons of explanations." (from The Square Egg, 1924)

Saki was born Hector Hugh Munro in Akyab, Burma (now Myanmar), the son of Charles Augustus Munro, an inspector-general in the Burma police. Munro's mother, the former Mary Frances Mercer, died in 1872 - she was killed by a runaway cow in an English country lane. Munro was brought up in England with his brother and sister by aunts who frequently used the birch and whip. He was educated at Pencarwick School in Exmouth and Bedford Grammar School. From 1887 he traveled with his family in France, Germany and Switzerland. In 1891 his father settled in Devon, where he worked as a teacher. In 1893 Munro joined the Burma police. Three years later he was back in England and started his career as a journalist, writing for the Westminster Gazette.

In 1900 Munro's first book, THE RISE OF THE RUSSIAN EMPIRE, appeared. It is a historical study modelled upon Gibbon's famous The Decline and Fall of the Roman Empire. The book was received with hostile reviews in America. It was followed in 1902 with a collection of short stories, NOT-SO-STORIES. From 1902 to 1908 Munro worked as a foreign correspondent for The Morning Post in the Balkans, Russia and Paris, and then returned to London. In 1914 his novel WHEN WILLIAM CAME appeared, in which he portrayed what might happen if the German emperor conquered England.

After the outbreak of World War I, although officially too old, Munro volunteered for the army as an ordinary soldier. He was killed by a sniper's bullet on November 14, 1916 in France, near Beaumont-Hamel. Munro was sheltering in a shell crater. His last words, according to several sources, were: "Put that damned cigarette out!" After his death, his sister Ethel destroyed most of his papers and wrote her own account of their childhood. Like her brother, Ethel never married.

Saki's best fables are often more macabre than Kipling's. In his early stories Saki often portrayed eccentric characters, familiar from Oscar Wilde's plays. Among Saki's most frequently anthologized short stories is 'Tobermory', in which a cat, who has seen too much scandal through country house windows, learns to talk and starts to repeat the guests' vicious comments about each other. 'The Open Window' was a tale-within-a-tale. In the short story 'Sredni Vashtar' from The Chronicles of Clovis (1911) a young boy makes an idol of his illicit pet ferret. It kills his oppressive cousin and guardian, Mrs. De Ropp, modelled on Saki's aunt Agnes. "Sredni Vashtar went forth, / His thoughts were red thoughts and his teeth / white were. / His enemies called to peace, but he brought / them death. / Sredni Vashtar the Beautiful."

Saki was a misogynist, anti-Semite, and reactionary, who also did not take himself too seriously. His stories, "true enough to be interesting and not true enough to be tiresome", were considered ideal reading for schoolboys. However, Saki did not have any interest in safeguarding the Edwardian way of life. "Saki writes like an enemy, " said V.S. Pritchett later. "Society has bored him to the point of murder. Out laughter is only a note or two short of a scream of fear." In 'Laura' the title character is first reincarnated as a destructive otter after her death, and then as a naked brown Nubian boy. Reginald and Clovis, two of his most famous heroes, appeared in a series of stories in which the two soul mates of Wilhelm Busch's Max and Moritz shock the conventional world or leave the reader to read between the lines. When Amabel asks Reginald's help to supervise "the annual outing of the bucolic infants who composed the local choir", Reginald's eyes start to shine "with the dangerous enthusiasm of a convert." Once Reginald states: "People may say what they like about the decay of Christianity; the religious system that produced green Chartreuse can never really die."



Selected works:

THE RISE OF THE RUSSIAN EMPIRE, 1900
NOT-SO-STORIES, 1902
THE WASTMINSTER ALICE, 1902 (with F. Carruthers Gould)
REGINALD, 1904
REGINALD IN RUSSIA, 1910
THE CHRONICLES OF CLOVIS, 1911
THE UNBEARABLE BASSINGTON, 1912
WHEN WILLIAM CAME, 1913
BEASTS AND SUPER-BEASTS, 1914
WHEN WILLIAM CAME, 1914
THE TOYS OF PEACE, 1919
THE SQUARE EGG AND OTHER SKETCHES, 1924

in http://www.kirjasto.sci.fi/saki.htm

04 agosto 2008

a love poem

by charles bukowski


all the women
all their kisses
the different ways they love and
talk and need.

their ears
they all have ears
and throats and dresses
and shoes and
automobiles
and ex-husbands.

mostly
the women are very
warm they remind me of
buttered toast with the butter
melted
in.

there is a look in the
eye: they have been
taken they have been
fooled. i don’t quite know what to do for
them.

i am
a fair cook a good
listener
but i never learned to dance – i was busy
then with larger things.

but i’ve enjoyed their different
beds
smoking cigarettes
staring at the ceilings.
i was neither vicious
nor unfair.
only a student.

i know they all have these
feet and barefoot they go across the floor as
i watch their bashful buttocks
in the dark. i know that they like me,
some even love me
but i love very few.

some give me orange and vitamin pills;
others talk very quietly of childhood
and fathers and landscapes; some are almost
crazy but none of them are without
meaning; some love well, others not so;
the best at sex are not always
the best in other ways; each has limits
as i have limits and we learn each other
quickly.

all the women
all the women all the bedrooms
the rugs the photos
the curtains, it’s something like a church
only at times there’s
laughter.

those ears those
arms those
elbows those eyes
looking, the fondness and the waiting
i have been held
have been held.

so you want to be a writer?

by charles bukowski


if it doesn't come bursting out of you
in spite of everything,
don't do it.
unless it comes unasked out of your
heart and your mind and your mouth
and your gut,
don't do it.
if you have to sit for hours
staring at your computer screen
or hunched over your
typewriter
searching for words,
don't do it.
if you're doing it for money or
fame,
don't do it.
if you're doing it because you want
women in your bed,
don't do it.
if you have to sit there and
rewrite it again and again,
don't do it.
if it's hard work just thinking about doing it,
don't do it.
if you're trying to write like somebody
else,
forget about it.


if you have to wait for it to roar out of
you,
then wait patiently.
if it never does roar out of you,
do something else.

if you first have to read it to your wife
or your girlfriend or your boyfriend
or your parents or to anybody at all,
you're not ready.

don't be like so many writers,
don't be like so many thousands of
people who call themselves writers,
don't be dull and boring and
pretentious, don't be consumed with self-
love.
the libraries of the world have
yawned themselves to
sleep
over your kind.
don't add to that.
don't do it.
unless it comes out of
your soul like a rocket,
unless being still would
drive you to madness or
suicide or murder,
don't do it.
unless the sun inside you is
burning your gut,
don't do it.

when it is truly time,
and if you have been chosen,
it will do it by
itself and it will keep on doing it
until you die or it dies in you.

there is no other way.

and there never was.

02 agosto 2008

through thick and thin, sharing dark patches (places that scare us)

Mr. and Mrs. Bukowski

Published: December 16, 2007

To the New York Times Editor:

I was thrilled by Jim Harrison’s review of my husband’s “Pleasures of the Damned” (Nov. 25) and by his caring and insightful examination of this brilliant compilation and the amazingly prolific, often unexpected journey on which it most assuredly will take its readers. Thank you for giving Hank the kind of accolade that he has long deserved, and for taking him seriously as a writer who was never afraid to go to the places that scare us, and whose intellect and particular genius were constantly colliding with his pungent and earthy emotional sensualism.

There is one line, however, that was not accurate and brought tears and sadness for me. You say that “he had several failed marriages — but then historically, poets are better off with imaginary lovers.” My husband did not have several marriages. He had two. The first did fail. The second, our marriage, did not fail. We were together for 18 years, until his last quiet, precious breath. We loved each other through thick and thin. We evolved and involved. We shared dark patches but were always able to throw open the doors and windows to the sunlight in our hearts and carry on. I am quite certain you had no intention to cause any hurt. Sometimes it just happens, doesn’t it, and for me knowing that thousands of people will read this is personally very painful and humiliating to me. He was and is and always will be the love of my life.

Linda Lee Bukowski
San Pedro, Calif.

01 agosto 2008

agosto

há um mês e nenhum mais
em que nos incendiamos de planície e sol,
há um mês e nenhum mais
em que rumamos ao sul interior.

há um mês e mais nenhum
em que levantamos vôo rente à pele de sal,
há um mês e mais nenhum
em que os dias que contamos um a um
começam verdadeiramente de novo
e novos somos outra vez (a sério)
quando mansamente chegamos a trinta e um.
agosto: mês.
agosto: mistério.

e dele sabermos apenas
o sabor a mar.
- e sabermos
que esse sabor é tudo.