25 abril 2009

como um arquitecto, voltando, anos depois, à mais magnífica catedral alguma vez eregida, ele comove-se, a partir de uma discreta porta lateral, com o que vê nos rostos - espelhos reveladores dessa metafísica particular que é a transcendência.

quer furiosamente acreditar que foi apenas instrumento providencial. mas nele ribombam tambores inclementes - todas as pedras que, anos atrás, havia usado. planos plenos de física improvável. técnicas ancestrais. skills e truques aprendidos em livros mil, de academias ilustres. todas as pedras, não menos.

e, por entre o desejo de transcendência e a infernal consciência das pedras e de si, ele - invejoso do arquitecto superior que, lá de cima, oxalá o censure em silêncio, oxalá.. - curva-se sobre si próprio, num esgar que dói só de ver.

sai da catedral, quebrado, sobrevivendo a essa dor de estômago resistente a qualquer almanaque, a qualquer composto químico, mesmo à melhor da melhor literatura. afasta-se em silêncio, tapando os ouvidos e fazendo por esquecer a memória das pedras. de cada pedra. das mãos. de cada dedo.