04 maio 2009

uma grande e próspera nação..


foto: site festival indie lisboa 2009


ruínas
de manuel mozos

documentário, portugal , 2009, 60', beta digital

fotografia: luís miguel correia
música: anakedlunch
som: antónio pedro figueiredo, elsa ferreira
montagem: telmo churro
produção: o som e a fúria

fragmentos de espaços e tempos, restos de épocas e locais onde apenas habitam memórias e fantasmas. vestígios de coisas sobre as quais o tempo, os elementos, a natureza, e a própria acção humana modificaram e modificam. com o tempo tudo deixa de ser transformando-se eventualmente numa outra coisa. lugares que deixaram de fazer sentido, de serem necessários, de estar na moda. lugares esquecidos, obsoletos, inóspitos, vazios. não interessa aqui explicar porque foram criados e existiram, nem as razões porque se abandonaram ou foram transformados. apenas se promove uma ideia, talvez poética, sobre algo que foi e é parte da(s) história(s) deste país.


um portugal desconhecido que espera por si

por jorge mourinha, in jornal público


podia ser uma espécie de "rima" nacional com o magnífico ensaio autobiográfico-documental de terence davies "of time and the city" que o indielisboa também mostra este ano. ou podia ser uma viagem à misteriosa "zona" tarkovskiana que sandro aguilar (não por acaso um dos produtores...) explorou intrigantemente na competição do ano passado. mas o que o veterano manuel mozos (quatro longas ficcionais perseguidas pelas circunstâncias e uma dúzia de curtas) faz em "ruínas" é outra coisa: uma viagem emocional ao espaço do portugal esquecido do tempo.
"ruínas" é aquilo que o título indica: imagens de ruínas de espaços públicos, ilustradas por uma banda sonora atmosférica e por vozes off que parecem surgir do fundo dos tempos, lendo textos que pertencem a outras eras. memórias, instruções, relatórios, canções, correspondências, que correspondem ou não às imagens do restaurante panorâmico de monsanto, dos teatros do parque mayer, da barragem do picote, da estação de comboios de barca d'alva.
não há em "ruínas" uma narrativa, nem sequer uma lógica: apenas um retrato do tempo que passou sobre estruturas que em tempos foram úteis e que hoje estão abandonadas, sem nostalgias serôdias de "antes é que era bom" nem poesias elegíacas das "pérolas a porcos". "ruínas" é apenas um pequeno registo desapaixonado da erosão do tempo, como quem constata um facto, com a ironia distante de quem sabe o que estes sítios significaram e o modo como o tempo se encarregou de lhe trocar as voltas. num enorme colégio hoje abandonado, lê-se emoldurado na parede "portugal pode ser, se nós quisermos, uma grande e próspera nação". as ruínas do próprio colégio encarregam-se de o desmentir: todas as grandes e prósperas nações são construídas sobre as ruínas de si próprias. manuel mozos limitou-se a filmá-lo.