22 março 2010


saudades dos tempos em que a fórmula 1 era, adaptando livremente uma conhecida expressão, 'bigger than life' - o que pode dizer-se de uma outra maneira: que saudades dos tempos em que a fórmula 1 era uma arte.

inesquecíveis duelos entre senna e prost, rivais dentro e fora das pistas. senna era o maníaco que vivia a fórmula 1 vinte e quatro horas por dia, baseado em virtuosismo, coragem e um dna só ao alcance dos predestinados. prost era uma quase antítese: todo ele era calma, ponderação, sentido estratégico, domínio perfeito do timing. como se um fosse efervescente e o outro um bloco de gelo - apesar de, fora das pistas, por vezes dar a impressão de ser exactamente o contrário, o inverso.

sempre torci por prost, nunca gostei de senna. mas, penso, sempre houve dentro de mim uma luta surda, como sempre há, entre quase extremos - porque não sermos tudo? porque temos que escolher? eu sei o que não gostava em senna - o seu carácter obsessivo e os seus genes de campeão. e o que apreciava em prost - a sua maior humanidade e aquela ideia de que qualquer um, com método, pode chegar a qualquer sítio.

no fundo, senna e prost são uma forma de falar de todos nós. e, de certa maneira, um inverosímel - mas muito articulado - exemplo de como a ciência política (e até a filosofia) está (estão) em todo o lado.

senna teria feito, por estes dias, 50 anos.

rapazes que animaram os meus anos de juventude: obrigado. vou revelar-vos um segredo que talvez ambos, hoje, a partir do sítio onde estão, já conheçam - nenhum de vós teria feito inteiro sentido sem o outro. estes são os mistérios sublimes do tempo e da perspectiva, uma alternativa arte da revelação.