29 abril 2010

26 abril 2010


john fante, aliás arturo bandini. "pergunta ao pó" (editora ahab) é, como dizer?, inesquecível. 200 páginas devoradas num dia, em tragos generosos, com o mesmo apetite que temos, de vez em quando, por coisas e pessoas que nos pegam pelos colarinhos interiores e nos levam com elas, até ao fim. fim que é afinal, no fundo do fundo, o princípio de qualquer coisa. charles bukowski dizia que fante era "o seu deus". quem somos nós para pôr em causa esta espécie de (muito alternativa) teologia da libertação..? nobody. isso mesmo.

24 abril 2010


lizzies of the world unite and take over
me. 

23 abril 2010

22 abril 2010



de um lado
alguém dizendo:
- és fascinação, amor -
olhando o espelho.

do outro lado
outr'alguém dizendo
- és fascinação, amor -
olhando o espelho.

quebrar o espelho?
sete anos de azar.
não quebrar o espelho?
azar de outro género.

conclusão científica:
- shakespeare passou por aqui
esta manhã.

conclusão empírica:
- e, penso eu, tu também -
enquanto olho o espelho.

21 abril 2010


acrobacias


sentados em trafalgar square
no intervalo de amigos
com o tempo entre as mãos
treinávamos o nosso inglês
num inquérito de revista
com francis bacon na capa
que perguntava:
qual dos membros
- superiores ou inferiores -
preferíamos perder
(esta ablação em língua estrangeira
tornava-se indolor, quase anestesiada)
respondeste: os braços
as pernas conservá-las-ias
como a liberdade de poder andar
respondi: as pernas
não queria ver-me
impedida de abraçar.
assim juntando as nossas
perdas
eu abraço-me a ti
e peço-te anda, mostra-me o mundo
e quando nos cansarmos
abraçar-me-ás, então, com as pernas
e eu
andarei com os braços.


ana paula inácio

20 abril 2010

frame: 'pickpocket', de robert bresson


um poema em película
diz assim:
- porque estás aqui?
- porque és tudo o que eu tenho.
what a strange way they had to take.
better call all the guys on the deck; they’ve been caught with no feeling

19 abril 2010

a vida é uma coisa, por vezes, extraordinária. como se não soubessemos nós, desde tenra idade, que a vida só pode ser uma coisa assim, fora da ordem normal das coisas, ou não fosse, desígnio de Deus, metafísica agnóstica ou prodígio científico ateu, uma espécie de self fulfilling miracle.

às vezes, não é preciso muito para constatar este facto. vamos considerá-lo como facto, para não enveredarmos por longas dissertações em torno da "filosofia do ser". é um facto que é um milagre qualquer. qualquer deve ser aqui entendido (e entoado) como mera muleta de linguagem, dando ênfase ao substantivo a que se refere. temos, pois, que a vida é um qualquer milagre - um milagre, portanto, venha o qualquer sob a forma de sufixo ou prefixo gramatical.

isto tudo para dizer o quê? que lev tolstói - esse mesmo - escreveu, nos seus tempos ainda de jovem adulto, uma novela chamada "cossacos". ao ler uma recensão sobre a mesma, reparei num parágrafo inteirinho que caracterizava pscológicamente o herói - aspas - da história: um bravo militar de 23 aninhos.

o que é que isto tem a ver com aquilo e o que é que aquilo tem a ver comigo? amanhã ou assim, quando colocar aqui a descrição do nosso rapaz vocemessês vão entender direitinho. não é que, afinal, fui escrito por um dos mestres absolutos russos, ainda o século XX estava longe de começar a ser imaginado?

força de expressão, dirão alguns. pois, pois. eu depois digo-vos. eu depois conto-vos. eu depois explico-vos.

assim vai o mundo, de socalco em socalco, até ao sopapo final. ou será ao contrário? whatever, buddies, whatever.

a nossa necessidade de consolo o quê? ah, é impossível de satisfazer.
- pensava stig enquanto pensava nela e era pensado por mim.

ofício

os poemas que não fiz não os fiz porque estava
dando ao meu corpo aquela espécie de alma
que não pôde a poesia nunca dar-lhe.
os poemas que fiz só os fiz porque estava
pedindo ao corpo aquela espécie de alma
que somente a poesia pode dar-lhe.
assim devolve o corpo a poesia
que se confunde com o duro sopro
de quem está vivo e às vezes não respira.

gastão cruz
in 'escarpas', assírio & alvim, 2010

17 abril 2010


not alone, not alone, not alone.
frame: de um filme de john cassavetes
tears in her eyes say it all. she won, after all, she won. self respect.
try a little tenderness, sweet lady.

16 abril 2010

imagem: 'a dupla vida de veronique', de krzysztof kieslowski

a life less ordinary.

15 abril 2010

andrei tarkovsky

vês, por exemplo, a mulher da limpeza urbana, numa pausa oficial ou a si própria oferecida, em pé, dir-se-ia que toda ela imóvel, olhando a montra alta de um fotógrafo de rua, daqueles antigos, parando demoradamente o olhar em cada foto tipo passe. quem foi esta pessoa? quem será esta pessoa? como será verdadeiramente esta pessoa? como será hoje esta pessoa? será ainda viva esta pessoa? quantas destas crianças são felizes? quantos destes casais ainda estarão casados? na mão, uma sandes feita com pão de forma barato, daqueles de supermercado - pequeno luxo que são sempre os pequenos prazeres; grande prazer que vem sempre de mão dada com os pequenos luxos. tempo, hoje, é luxo, convém não esquecer. e segues.

vês, por exemplo, aquele (aquela?) mendigo, enroscado em cobertores que adivinhas nauseabundos, seguro que estás na distância - física, social, psicológica - entre ti e aquela pessoa. reparas, pelo canto do olho, em qualquer coisa. talvez no facto de que ela está imóvel, deitada, ao longo da faixa de meio metro de largura que separa duas entradas de garagem de um qualquer prédio da cidade. adivinhas - apesar de os não veres - carros a sair e a entrar, passando tangentes por aquela pessoa. quantos alguma vez pararam ou pararão o carro? e segues.

vês, por exemplo, naquela esquina de cidade que em tempos foi tão importante para ti, um homem de idade. páras, para lhe dar prioridade na passagem. ele, de súbito, aproveita a tua hesitação - és humano, pensa ele - para te abordar e, na passada, contar a história do costume: aposentado, a pensão é uma miséria, não chega para comer. pensas, numa fracção de segundo, que o casaco está razoavelmente limpo, que a gravata é de um preto antigo e elegante. oscilas entre o repúdio (mais um que vive disto e que me vai enganar) e a compaixão (que porra de mundo é este?). tiras 5 euros da carteira - uma nota novinha em folha, saída um par de horas antes de um dos ATMs da vida - e passas-lhos para a mão. ele fica espantado, sem saber o que dizer, mas lá consegue articular um "Deus lhe pague". e segues.

Deus meu, nunca me ponhais ao comando de uma revolução. acho que só acabaria quando acabasse comigo - e este raio de fato janota que custou mais do que o salário daquela mulher, a reforma daquele homem idoso e as moedas diárias daquele mendigo ou mendiga. tudo somado, quero dizer.

diz então um: claro que não, a culpa é dos indigentes. um sujeito com tino, com inteligência e raça, safa-se sempre. construamos o sucesso e façamos rifas para comemorar, sorteando viagens para os pobrezinhos. diz logo o outro: nada de contemplações, sociologismos de pacotilha, essa eterna desculpa com que parte de nós desculpamos tudo e todos. e assim, arrumamos, de uma só penada, a direita das coisas e a esquerda das coisas, todo o espectro político que nos inunda os dias.

eu, que estive quase nas trevas e voltei, vi quem por lá ficou. muitos eram bem melhores do que eu.

por isso, amanhã, um dia destes, andem pela cidade a pé, olhem à vossa volta. por cada desvalido em que repararem com olhos de ver, deixem cair o emprego, depois a família nuclear, depois a família alargada, depois metade dos vossos amigos, depois metade da metade que ainda sobejou, depais parte da vossa saúde, depois parta da vossa circunstancial beleza. fiquem nús, metafóricamente, sejam apenas e só as pessoas que são por debaixo de tudo o que vos é circunstancial. agora que estão aqui, reergam-se. pensem nisto.

talvez saiam daqui Mulheres e Homens. talvez um de vocês ainda salve o mundo. nesse dia, estas palavras terão feito o seu caminho. e eu o meu.

14 abril 2010


'whereof one cannot speak, thereof one must remain silent'

13 abril 2010


scroll down, scroll up, scroll down, scroll up,
agora frenéticamente,
e ela move-se,
e ela move-se,
e ela move-se.
e se se move
dir-se-ia
que ela vive.
e se ela vive
dir-se-ia
que ela existe.

12 abril 2010


pois, pois, os bent, esses electrónicos rapazes, que resgataram de prateleiras talhadas com mão mais clássica essa cançãozinha de estalo, 'speak low', assinada pela excelsa e digna de todas as honras e louvores: miss billie holiday.
em rima, jogo moderno de combinar imagens com música, excertos de 2046, filme de um dos estetas-m(ai)ores destes dias: mr. wong kar way.
e assim a feroz modernidade vai buscar ao fundo do baú a essência decantada e desencantada de uma das mais sublimes crooners de sempre. nada contra, afinal essa modernidade é representada por um dos seus mais anacrónicos representantes visuais.
ou de como o tempo passa, mas, para usar as palavras da menina gillian welch, rapariga de outros predicados musicais, acabamos sempre às voltas com esse 'time the revelator'.
fazes-me um favor, leitor ou leitora passante: 'speak low (when you speak love)'.
escrever o quê mais? talvez que tudo isto é lindo de (se) (vi)ver..

'oracular spectacular' era o título do disco de estreia dos mgmt, fenómeno do verão de 2008. os seus principais singles (todos de primeiríssima água, naquele registo hedonista-melódico-vitalista)? 'kids', 'electric feels', 'time to pretend'.

ou de como o oráculo, espectacular, era também espectro. estava lá tudo, e, visto daqui, tudo fazia imenso sentido.

agora, diz-se que os rapazes estão a boicotar a sua própria carreira. olha a grande novidade.. só mesmo quem andasse desatento não antecipava esse belo fenómeno moderno: a implosão como acto estético deliberado.

aquele abraço amigo, jovens.

11 abril 2010



falamos, claro, de 'caos calmo', um estupendo filmezinho italiano, de 2008, realizado a partir do livrinho homónimo. nani moretti, desta vez como actor, dá corpo, alma, fácies e gravitas a pietro, executivo de sucesso numa das empresas da vida, que é fintado pelas ironias da mesma vida, ao salvar uma mulher de morrer nas águas do mar, para, pouco depois, se deparar com a morte da sua própria mulher, mãe da sua filha ainda pequena. até aqui, nada de especial, para além do tom claramente 'pesado' do mote. o que se segue é uma reacção de pietro face à reversibilidade / irreversibilidade de certos factos - conceitos que, nas aulas, a sua filha aprende e, no fundo, explica ao próprio pai -, através de uma decisão que tem tanto de infantil (negação) como de absoluta maturidade (escolha): passar os dias sentados num banco de jardim, fronteiro à escola da própria filha. o resto da vida - as noites, os fins-de-semana, certas rotinas familiares - continua, mas os dias mudaram. é este 'deslocamento' físico - que é, acima de tudo, 'cosa mentale' - que constitui o golpe de asa do livro-agora-filme. pietro descobre, na sua nova rotina, aparentemente sem acção, uma nova rede de afectos - passivos e activos. a deslocação para esse não-lugar passa a ser a chave para a sua própria sobrevivência, feita agora de prioridades claras (a filha, as suas escolhas e não-escolhas profissionais, os laços com o irmão, a importância do seu novo mundo - o menino deficiente que todas as manhãs acena e espera que o carro de pietro (o mundo?) devolva o aceno, através do piscar do alarme; a jovem mulher que, dia após dia, passeia o cão e que rapidamente faz desse momento diário um ritual de subtil observação mútua, num flirt minimalista lindo de se ver, etc.). imparável nas suas voltas e contra-voltas, o desfile de colegas, chefes, etc. que, vindos do mundo material das empresas, se deslocam até àquele banco de jardim para discutirem com pietro - um homem a braços com uma das mais terminais dores que se pode ter - as contingências empresariais. como se só um homem no fundo do poço, tivesse a autoridade para lhes dizer o que fazer. mas pietro nada lhes diz, escuta-os apenas. e eles dir-se-ia que nem nisso reparam, saindo das conversas mais aliviados, mesmo que de pietro pouco tivessem verdadeiramente escutado. belíssima metáfora para o solipsismo narcisista em que (quase) todos vivemos, por estes dias. pietro, reconstrói-se, ao recusar uma parte do mundo. salva-se, adivinhamos, através do efeito do tempo, que serve de máquina reveladora para ele próprio, porque baseado num acto de bravura (mesmo que percebido como quase insano por muitos), muito mais imperativo do que propriamente estóico. pietro faz o luto, recolhendo-se, mas sempre dedicando todos os cuidados, num registo emocional controlado, à sua filha. nesse jogo seco e quase isento de emoção, entre pai e filha, é o não-dito que impera, o jogo dos olhares e gestos sobrepondo-se à violência da articulação pela linguagem. num filme feito de detalhes, onde pouco parece acontecer, lugar ainda para salientar coisas como o passeio nocturno de carro pela cidade, até já não ser possível continuar mais e as lágrimas irromperem com violência. o carro é hoje, na nossa civilização, um lugar onde acontecem muitas coisas, merecendo bem mais atenção sociológica e psicológicamente do que aquela que lhe reservamos. impossível não referir também o sonho erótico, sexual, que pietro tem com a mulher que salvou das águas, e que originou em itália um debate aceso em torno do direito da 'persona' criada por nani moretti a ter uma vida sexual activa. ou de como, mais uma vez, as imagens são o mundo real, por contraponto ao mundo real que, a pouco e pouco, se vai desintegrando. nani moretti é assim um património público italiano, como tal sem direito a torpedear a figura de representação colectiva que lhe foi sendo atribuída, resultado dos muitos filmes em que aparece como personagem-actor-autor-pessoa, combinando biografia e ficção. voltamos ao filme: 'caos calmo' é um filme. e um livro. e nós, espectadores, sentados num banco de cinema, num sofá lá de casa, num banco de jardim, vemos ou lemos algo que pode bem ser a nossa própria realidade desmultiplicada, como num jogo infinito de espelhos, que nos devolve a nossa própria imagem. ou de como todos somos pietro, tantas vezes.

08 abril 2010

07 abril 2010



O Questionário de Proust – As Respostas de Roberto Bolaño

___________


Qual seu defeito mais deplorável?

Sou uma pessoa cheia de defeitos, e todos são deploráveis.

Qual defeito mais deplora nos outros?

A intransigência, a prepotência, a intolerância.

Qual seu estado mental mais comum?

Nos limites da idiotez, como quase todos os seres humanos.

Como gostaria de morrer?

Fazendo amor. (Na verdade qualquer um gostaria de morrer assim).

Se depois de morto tivessse que voltar à Terra, gostaria de voltar convertido em que coisa ou pessoa?

Um colibri, que é o menor dos pássaros e cujo peso, em algumas ocasiões, não chega a duas gramas. A mesa de um escritor suíço. Um réptil do deserto de sonora.

(..)

Qual a sua maior extravagância?

Minha grande coleção de wargames de mesa e minha pequena coleção de wargames de computador.

Em que ocasiões você mente?

Quando falo de pintura abstracta. Quando falo de poesia metafísica.

Que pessoa viva te inspira mais desprezo?

São muitos, e já sou demasiado velho para estabelecer um ranking.

Que pessoa viva admira?

Admiro as mães e avós da Praça de Maio. Pessoas como elas.

(..)

Qual sua idéia de felicidade perfeita?

Minha felicidade imperfeita: estar com meu filho e que ele esteja bem. A felicidade perfeita, sua busca, gera imobilidade ou campos de concentração.

Qual seu maior medo?

Qualquer coisa que cause algum dano ao meu filho.

Qual seu maior remorso?

São muitos, e se deitam, e levantam comigo, e escrevem comigo porque meus remorsos sabem escrever.

Qual a virtude mais valorizada socialmente?

O êxito, mais o êxito não é nenhuma virtude, é só um acidente.

O que te desagrada mais em sua aparência?

Aos 46 anos, se algo me desagradasse em minha imagem, seria um palerma. Tudo me desagrada, mas o assumo com resignação.

Quais são seus nomes favoritos?

De homem, Lautaro. De mulher, Carolina, Lola, Maria. De cachorro, Laika, Duque, Popi.

Que talento desejaria ter?

Saber tocar violão. Saber jogar futebol. Ser um bom jogador de bilhar.

O que te desagrada mais?

A má educação.

Quando e onde você foi mais feliz?

Eu sempre fui feliz. Ao menos, razoavelmente feliz. E em lugares e datas nas quais a felicidade não era precisamente o que mais abundava.

Se pudesse, o que mudaria em sua família?

Nada. Primeiro porque não posso. Segundo porque é impossível.

Qual é seu maior objetivo?

Meu maior objetivo seria que meu filho se recorde de mim com carinho. E que meus amigos, de vez em quando, também. Mas isto é uma batalha futura.

Qual sua posse mais valiosa?

Meus livros.

Qual a manifestação mais clara da miséria?

As crianças que morrem de fome, os que morrem por enfermidades fáceis de combater, as crianças que sofrem abusos sexuais, as crianças que têm que trabalhar, as que são matratadas por seus pais. A manifestação mais clara de nossa miséria e de nosso fracasso como seres humanos é isto e Auschwitz.

Onde desejaria viver?

Se tivesse muito dinheiro, em Andaluzia, sem escrever nem fazer nada, passar o dia nos bares, conversando.

Qual seu passatempo favorito?

Ver vídeos até as cinco da manhã.

Qual a qualidade que você mais aprecia em uma mulher?

A inteligência e a bondade, igual nos homens. Em terceiro lugar o humor, ainda que sem inteligência e bondade o humor se dá por acréscimo.

Qual a qualidade que você aprecia mais em um homem?

Creio que esta pergunta já esteja respondida. Acrescentemos uma quarta qualidade, desejável, mas não exigível: o humor.

Qual seu herói de ficção favorito?

Julien Sorel. O Pijoaparte de Marsé. Horácio Oliveira de Cortázar. O Superman. O padre Brown. Don Isidro Parodi. O Cristo de Elqui.

Quais são seus heróis da vida real?

Os mesmos que já mencionei. Acrescentaria Misael Escuti e Honorino Landa. Acrescentaria Baudelaire e Oscar Wilde.

06 abril 2010



chegará a hora, como sempre chega, da refundação.
mesmo que anunciada na penúltima página,
a sua retroactividade é redentora,
um mistério pascal a caminho.
a cada um, o seu próprio
toldo vermelho.
poesia
é
guerra.

eterno ruy belo. interno ruy belo.

04 abril 2010

"Fortuna dos que não morrem em vida. Dos que passam por dentro e pelo fundo da sua tristeza, e vão além. Dos que se contentam com o súbito pão das palavras. Dos que não causam dano nem semeiam culpa. Dos que poderiam apresentar-se limpamente diante de Deus."


gratidão de ser
por estes anos
e partículas restantes.

pela amizade,
que chega a confundir amor.

pela bondade,
que torna a solidão desvalida.

pela hombridade,
à altura do céu.

pela beleza,
que só à santidade
sobrepassa.
e é flagrante, perdulária,
noutros renascente.

gratidão
que nem sabe
a quem deve ser grata.


antónio osório, em "a luz fraterna" (poesia reunida), assírio & alvim


boa Páscoa.
- viste o filme? vale muito a pena.
- sim. quer dizer, não vi, mas sei o que é.
- é lindo. lindo.
- russo, não é?
- não, é alemão.
- pensava que era russo ou daquela zona, algures..
- the film is a girl is a gun.
- isso mesmo. tenho que ver isso.

na minha cabeça, ficou isto escrito. e mais isto:

this blog is a girl is a gun. this blog is a girl (and all the girls) is a gun (and all the flowers).

é assim. e assim.

02 abril 2010


seguir viagem.
cauterizar a dor.

cirúrgica intervenção

de coração aberto
às vagas de frio
que queimam os dedos,

de coração aberto
ao calor que gela
qualquer flor

(e todos os masculinos medos).

01 abril 2010



'a mulher que viveu duas vezes' - apropriada metáfora da mentira, em dia de mentiras (1 de abril). esta sim: a grande mentira. 
há outra mentira, e apenas outra, à altura desta - mas preferimos não a nomear.
sim, nós queremos coisas bonitas. mesmo que sejam mentira.
sim, nós queremos coisas bonitas. e queremo-las de verdade.