31 outubro 2010


por variadíssimas e bem precisas razões que não importa aqui abordar, 2010 foi ano de um furioso regresso aos livros, às leituras. foram, têm sido, estão a ser, dezenas de títulos, despachados, devorados, deglutidos, saboreados, cuspidos, regurgitados, processados, sublimados - ou tão-só simplesmente lidos. pelo menos duas mãos destes livros são obras portentosas, já aqui referidas ou a referir, quando, lá mais para a frente, fizermos os balanços do ano.

por ora, interessa dizer coisas simples. por exemplo: o livro que mais me marcou terá sido 'pergunta ao pó' / 'ask the dust', de john fante, edições ahab.

uma pequena nota de rodapé para dizer que esta pequena editora do porto, as edições ahab, é o sonho de qualquer bibliófilo. tem um catálogo, pequeno e em suave progressão, como que a acompanhar o ritmo dos seus leitores fiéis, que é uma maravilha de bom-gosto editorial e de atenção a autores e obras de culto tão merecido como subterrâneo, enfim, um prazer precioso em tempos de carestias várias.

ora, qual é o meu espanto, quando ontem, numa pequena deambulação por umas livrarias, dou de caras, sem o saber, com a recentíssima publicação de mais um livrinho do senhor john fante.

chama-se o livro: 'a primavera há-de chegar, bandini'. e, para quem leu 'pergunta ao pó', para quem conhecer já esse arturo bandini, comovente e bigger than life personagem e alter-ego do autor, há-de perceber o riso aberto de contentamento que me inundou o rosto. como quando reencontramos um amigo perdido e do qual morremos de saudades; como quando encontramos o rosto de quem amamos; como quando nos dizem: 'a primavera há-de chegar, também para ti!' - e sentimos que o querem mesmo dizer. e que o querem mesmo dizer a nós. e que acreditam mesmo no que estão a dizer.

o título deste livro é uma pequena sinfonia poética. e a tradução foi feita, decerto com esmero e amor, por rui pires cabral - um dos nossos poetas contemporâneos preferidos, como saberão os mais atentos a estas nossas 'canções de inverno'.

editora ahab e john fante: como dizer o que quero dizer? obrigado!