23 dezembro 2010

'the quiet man' é um filme de john ford

deixem passar o homem tranquilo, porque ele gosta muito de viver. e nós como ele.

no meio da azáfama das compras de natal, num dos centros comerciais da cidade, reparei pelo canto do olho que, numa livraria, um casal se beijava enquanto sorria, rodeados, ele e ela, por muitos livros.

ele é um jornalista e escritor que talvez vocês conheçam - os mais atentos a estas coisas, decerto.

este homem, que tem um nome vulgar (e que, apenas por pudor e respeito, não revelarei) é um grande escritor, um artíficie de ideias, um magnífico escultor de palavras.

bissextamente, cruzo-me com uma sua crónica dominical, num dos nossos jornais. utiliza sempre um estilo muito pessoal, como que desdobrando palavras comuns, encontrando nelas semânticas escondidas, sempre ao serviço de ângulos inusitados, de ideias livres, de associações que nos fazem estremecer - textos cintilantes. acabamos rendidos e, não raro, comovidos. comovidos - entendem?

este homem teve um grande amor na sua vida. ela era uma mulher, como ele, razoavelmente conhecida. quando morreu, na sua meia-idade, os testemunhos de amigos do casal sobre o amor deles deixavam-nos à beira das lágrimas - entendem?

ela morreu, de uma doença má. ele sobreviveu e escreveu sobre ela e essa sua descida às trevas coisas simples que nos tocavam fundo. fundo - entendem?

o tempo passou. ontem, dei por mim a olhar para este homem que beijava uma mulher. e sorriam ambos, dentro de uma loja cheia de livros, indiferentes a quem estava à volta, como verdadeiramente todas as pessoas deveriam sorrir quando têm a sorte - eu disse a sorte, entendem? - de ter alguém que os beija daquela maneira e com aquele sorriso, literalmente, estampado nos lábios.

sim, a felicidade é possível. e, sim, não atraiçoamos ninguém, nem os nossos grandes amores, quando nos deixamos ser felizes, outra vez.

não lhe disse nada, mais uma vez por pudor e respeito. fiquei a olhá-los, enquanto folheava uns livros e deambulava pela livraria de ocasião.

no som ambiente do centro comercial, os senhores da canção abaixo, cantavam 'fairytale of new york', exactamente, e eu senti-me um rapaz feliz e preparado para a vida e preparado para tudo e preparado para dizer, outra vez:

e se eu gostasse muito de viver?

(entendem?)

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

o ser humano é mágico e precisa de acreditar em magia para se alimentar, sorrir, viver

terça-feira, dezembro 28, 2010 3:36:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

...
http://www.youtube.com/watch?v=9DXGAw4dX9M&feature=related
...

terça-feira, dezembro 28, 2010 4:56:00 da tarde  

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