25 abril 2011


aqueles de vós que porventura viajam com alguma regularidade de carro, sózinhos, devem conhecer o efeito narcótico dos nossos próprios pensamentos, embalados pela estrada e exponenciados pelo lado telúrico dos elementos que connosco vão fazendo a jornada (terra, árvores, sol, nuvens, rios, céus, animais, etc.). hoje, encafuado 4 horas num carro, metade do tempo a 10 ou 20 à hora, escutei, mais uma vez, o brilhante disco dos junior boys, chamado "begone dull care". quando terminou, e depois de repetir uma ou duas canções do mesmo disco, olhei para os cds que estavam espalhados pelos porta-luvas do carro e descobri uma compilação dos pavement - banda de indie-rock norte-americana, cujo zénite ocorreu nos anos noventa e que tem devotos quase fanáticos. eu, pelo meu lado, sempre adorei dois ou três hits (enfim, se hit se pode chamar a algo que apenas passa em certos circuitos alternativos), canções que podem salvar vidas, se escutadas nos momentos certos. contudo, nunca lhe tinha dedicado total atenção, digamos assim. pois bem: 24 ou 25 canções depois, posso dizer-vos que estes rapazes têm uma dúzia de obras-primas do pop-rock no seu repertório criativo. quem gosta muito destas coisas da música (ou das artes, mais em geral), sabe reconhecer esta sensação única que nos assola e deslumbra, quando esbarramos, pela primeira vez, com algo que nos deixa.. de rastos, por razões estéticas e/ou de afinidade emocional. eu, que sou conhecido por gostar de crooners obscuros, de singersongwriters ensimesmados, de bandas do passado, de electrónicas hiper-açúcaradas, também gosto da energia muito própria de algum rock e de algum pop-rock. vem daqui, desta minha faceta, o meu gosto pelas guitarras abrasivas dos pixies, pela lírica seca e de anca a baloiçar dos strokes, pelo som dos galaxie 500, pelo negrume ritmado e intenso dos interpol, etc. agora, sei mais uma coisa - os pavement entraram directamente para aquele país secreto a que chamo "my own private idaho". é logo ali, junto ao coração.