17 abril 2011



claro que de beck só poderia adorar o disco "sea change", esse regresso às origens musicais da grande américa, enquanto se espantam os fantasmas privados do autor. nada de electrónicas, nada de um lado mais hedonista. aqui é tudo rente ao osso, descarnado, como as suas palavras esculpidas a melancolia, tristeza. música bela e lenta e planante, para palavras em cinza. de resto, as imagens mostram a ásia. a ásia que aprendemos a amar, através dos filmes independentes, dos livros de viagens de europeus como nós, de uma ou outra digressão pessoal por lá. a ásia a onde regressaremos, um dia, cumprindo talvez um destino, tal o sentimento de "casa" que, de vez em quando, nos assola, ao nela pensarmos. estará tudo isto (apenas) na nossa cabeça? talvez. especialmente se por cabeça quisermos dizer um conjunto mais vasto de coisas. "my own private idaho", como no filme de gus van-sant, é expressão que uso amiúde para descrever certos cosmos interiores. de que falamos, então, quando falamos de nós, mr. carver? de "sea change", como nos diz, mr. beck? "partamos, de flor ao peito", como diz um amigo nosso. deixemos as hermenêuticas sofisticadas, as teorias interpretativas, a heurística, a exegese. às vezes, só queríamos mesmo uma coisa: "live a little". nem mais. nem menos. "a little".