06 abril 2011


no outro dia, o pedro mexia escreveu um magnífico texto sobre o filme "pierrot le fou" (de jean-luc godard) e sobre a, só agora para ele evidente, dupla lente de leitura que um filme destes proporciona: por um lado, a alegria solar e despreocupada de uma vida que é pura liberdade in motion (a poética do amor puro como combustível); por outro lado, a crónica sempre anunciada da erosão causada pela impossibilidade (a pureza é sempre passageira, pelo menos para seres humanos não tocados pela graça). o pedro mexia, ainda adolescente ou jovem adulto, apenas via a primeira, ao passo que o pedro mexia actual, a chegar aos quarenta, vê ambas, e magôa-se com o sopro gélido, mesmo que subtil, da segunda. "pierrot le fou" é um filme que nos fala sobre vários mitos que convém combater, dizem alguns. "pierrot le fou" é um filme que nos canta ao ouvido preciosas fórmulas alquímicas, sussurram-nos outros. talvez não haja escolha - e talvez seja esse o verdadeiro mito, afinal de contas. mas, que diabo, tanta lucidez serve para quê, exactamente? schopenhauer diria de pronto: "para afastar a dor". outros, porventura mais tontos, replicarão: "anestesiados? não obrigado." eu? eu quero um amor fresco todos os dias. ou seja: mente-me, vida desgraçada. mas com emotion and style, como diria o rapaz j.p.simões. e, já agora, demos três sonoros vivas ao jean-paul, à anna e ao jean-luc - capazes que foram de se transcenderem e de nos darem este filme que é um sopro de vida que ainda hoje nos emociona. o resto que se dane (o que te inclui a ti, vida desgraçada. querias o quê - flores?).