10 janeiro 2012



(a)o rapaz que se lembrava das suas vidas futuras


o ensaísta e filósofo Adorno disse um dia que 'a poesia não é mais possível, depois de Auschwitz'.

quem perceber isto, andará próximo de perceber o que me leva a interromper este espaço, de onde me vêm os soluços e os espasmos, quando me sento diante do teclado. de onde vem o deserto negro que toma conta de mim, e que Antonioni teria decerto filmado com o seu gélido - e tão profundamente humano - virtuosismo. por agora, as pontas dos dedos são como imprestáveis rosas mortas. as flores morreram, às mãos do inverno, quando era suposto ser ao contrário. quem se mete com a natureza, leva. quem desafia o tempo, leva. quem se pretende omnipotente, leva. descrente, serás arrasado - rugiram os céus. e cumpriu-se. mas, contudo, ainda e sempre, seremos um memento,  um monumento, um cenotáfio, ao mais desmesurado e transbordante amor. a isto, à nossa vida, à nossa amizade, se chamou a true labour of true love. tal como a este espaço, o flores de inverno, que acabará em breve, como simbólico toque de finados, como semiótico requiem, como ícone vívido e vivo a tudo aquilo que foste, a tudo aquilo que fui, a tudo aquilo que, juntos, fomos. que somos. que sempre seremos.