31 janeiro 2014


26 janeiro 2014


falo de um país inteirinho a flutuar - ou então só dos teus olhos.

22 janeiro 2014




todos estes anos, à espera de um regresso a atenas.
mas atenas já não existe - ou nunca existiu, diz alguém,
a não ser na tua/minha (nossa, caro leitor) cabeça.
não faz diferença. sabemos que a vida é cosa mentale,
como escreveu um homem que, bastante antes de nós,
sabia das coisas que nos fundam, essas coisas que nos
definem e à super-realidade. o resto? o resto é música lenta,
flores e alguns vícios. lá fora, nem cedo, nem tarde. e eis
que ela - como tu - está de regresso ao banco de jardim
onde me afundo e de onde te escrevo este save our soul,
qual barcaça à espera de mar, à espera da cartografia
que a conduzirá, enfim, a atenas. mas atenas já não existe.

21 janeiro 2014

talvez a arte da pobreza - isso que dizem dos poetas portugueses contemporâneos - seja, afinal, uma elevada forma de carácter. uma espécie de correspondente, aqui na ocidental praia lusitana, a características nobres usualmente mais associadas a quadrantes orientais.

talvez essa arte da pobreza seja, portanto, uma sui generis arte da nobreza.

de maneira, que à maneira do senhor herberto, que Deus nos mantenha como pobres e obscuros poetas, uma forma possível de cultivarmos a virtude, em tempos que não estão para isso.

pelo menos, quem nos governa - ou seja, nós próprios, auto-eleitos por interpostas pessoas - já assegurámos a parte da indigência, trazendo a metáfora lá de cima em voo picado até aqui em baixo, até às nossas tristes ruas.

resta, pois, lutar pela obscuridade. mas creio que, quanto a isso, pouco temos a temer.

14 janeiro 2014

Provavelmente noutro tempo, noutras circunstâncias 
chegaríamos a iguais resultados 
pelo que de nada adianta imaginar um almagesto 
ou tabelas de paralaxe para isto 
a que convencionalmente chamamos amor, 
nem calcular o ângulo 
entre nós e o centro da terra, 
de nada nos aproveitara, tu e eu 
centros escorraçados de irregular gravitação. 

Porém, isso não me impediu de ver plêiades 
cada vez que surgias (só 
não te dizia nada) plêiades iluminando 
meu Hades 
com suas cabrinhas coruscantes 
pascendo 
o vale da sombra da morte. 

E a questão hoje é: who’s gonna drive you home tonight? 

quando o melancólico transístor 
destila também outras perguntas, mas nenhuma 
tão dura quanto essa,
por exemplo: porque é que a água tem mais tendência 
a subir em tubos estreitos 
ao contrário do mercúrio? 
Isto é view-master e são coisas que faço 
na tua ausência.

Daniel Jonas, in Os Fantasmas Inquilinos, Cotovia, Lisboa, 2005

11 janeiro 2014

Rua dos Remolares

ninguém duas vezes,
chorava o muro ao nosso lado

enquanto nós, entretecidos,
não reparávamos
que essa granítica e muda canção

era afinal uma legenda fria,
bala disparada em direcção
ao nosso ainda uno coração.

08 janeiro 2014

Pequeno Tratado da Paixão Súbita

a poesia de jaime rocha.
da morte que (nos) morde os calcanhares. e do amor absoluto que mata a morte.